Os motoristas que se deslocam entre a Barra da Tijuca e a Zona Sul do Rio pelo Elevado do Joá passarão a conviver, nos próximos meses, com obras que poderão afetar o trânsito na região. As intervenções no Joá têm que estar prontas até os Jogos Olímpicos de 2016. Nas próximas semanas, a Companhia de Engenharia do Tráfego (CET-Rio) concluirá estudos para atenuar o impacto dos trabalhos e reduzir possíveis congestionamentos. De antemão, no entanto, já se sabe que, devido à construção de novas pistas no tabuleiro superior, o elevado precisará ser interditado uma vez por dia, por cerca de 15 minutos, para detonações em rocha com uso de dinamite.

Os preparativos começaram na última sexta-feira, com a instalação dos canteiros. As detonações serão para a abertura de dois novos túneis – um com 250 e outro com 400 metros de extensão. Elas devem começar no fim de agosto ou nos primeiros dias de setembro. O presidente da Geo-Rio, Márcio Machado, explicou que será adotada uma série de medidas preventivas antes do início das explosões.

– Vamos convocar os moradores de cerca de 300 casas da Joatinga para uma reunião e apresentar os detalhes da obra. Explicaremos que todos os imóveis passarão por inspeções cautelares, para se documentar em que estado se encontram antes das detonações. Isso permitirá detectar qualquer anormalidade causada por elas – informou o presidente da Geo-Rio.

DETONAÇÕES DEVEM OCORRER À TARDE

Ele lembrou que as inspeções preventivas são comuns em obras de escavações de túneis. A prefeitura, por exemplo, monitora os prédios no entorno do novo túnel do projeto Porto Maravilha. A mesma medida é tomada em Ipanema pelo consórcio responsável pelas obras da Linha 4 do metrô. Segundo Machado, o melhor horário para as detonações ainda será combinado com a CET-Rio. No entanto, a tendência é que ocorram no início da tarde, quando o volume de carros em circulação é menor.

Nessa fase, técnicos da Geo-Rio também pretendem intensificar as inspeções preventivas na parte rochosa do Joá, durante as interdições de rotina feitas semanalmente de madrugada no elevado. A operação é conhecida como “bate choco”: com ferramentas apropriadas, os especialistas batem na rocha para tentar localizar eventuais pedras soltas que possam cair nas pistas quando estão abertas.

Machado acrescentou que, na maior parte do tempo, as obras não vão interferir no trânsito, porque operários vão trabalhar fora dos limites das pistas existentes, por onde também circularão os caminhões. Além disso, boa parte dos resíduos das escavações e detonações será reaproveitada na própria obra, reduzindo a movimentação de veículos de carga.

O presidente da Sociedade dos Amigos da Joatinga, Gilberto Almeida, disse que ainda não foi informado sobre as detonações previstas na obra. Ele lembrou que a Joatinga é uma área muito sensível e que as casas ficam em encostas:

– Existem muitas rochas soltas nas encostas próximo às casas. Já alertamos, inclusive, a Defesa Civil para isso. É preciso que qualquer detonação seja feita com cuidado – disse Gilberto.

A ampliação do Joá está orçada em R$ 457,9 milhões e será realizada com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O anúncio do empréstimo foi feito pela presidente Dilma Rousseff no dia 1º deste mês, quando ela esteve no Rio para inaugurar as obras do BRT Transcarioca. Com a ampliação, o Joá ganhará duas pistas paralelas às existentes, com cinco quilômetros de extensão (somados viadutos e túneis) cada uma, no tabuleiro superior (sentido São Conrado-Barra).

Se houver necessidade, essas pistas poderão ser operadas como reversíveis. Durante as Olimpíadas, porém, elas deverão ser usadas exclusivamente para a circulação da chamada “família olímpica” – atletas, técnicos, árbitros e dirigentes esportivos – entre a Barra da Tijuca e a Zona Sul.

As obras serão realizadas das imediações da Igreja de São Conrado, na altura da Rua Embaixador Gabriel Landa, até a Avenida Ministro Ivan Lins, na altura da Ponte Velha. Canteiros de antigas intervenções serão reaproveitados. Três imóveis na Praia do Pepê já estão sendo desapropriados pela prefeitura para a realização das obras. Os trabalhos vão durar dois anos, e a previsão é que sejam concluídos às vésperas das Olimpíadas – que acontecerão em agosto. Em março, porém, a prefeitura havia previsto que todos os serviços estariam concluídos até dezembro de 2015.

CICLOVIA TAMBÉM SERÁ CONSTRUÍDA

O projeto prevê ainda uma ciclovia contígua às faixas de rolamento do elevado, do lado do mar. Ela será interligada a outra via para bicicletas, ao longo da Avenida Niemeyer – os preparativos para essa obra também começaram na última sexta-feira. Com as duas ciclovias concluídas, será possível ir de bicicleta do Centro ao Recreio dos Bandeirantes, atravessando toda a ola da Zona Sul. No caso dessa obra, não haverá necessidade de interdições no trânsito.

– Durante boa parte das obras, os trabalhos serão imperceptíveis para os usuários da Niemeyer, porque as escavações em rocha serão feitas diretamente no costão – disse Machado.

Antes da opção de fazer na rocha duas novas pistas para o Elevado do Joá, alternativas foram estudadas. Uma delas, que chegou a ser apresentada ao Comitê Olímpico Internacional (COI) em 2012, consistia na construção de uma terceira faixa também no tabuleiro superior, com o alargamento dos túneis já existentes. A estimativa era que as obras poderiam ficar até mais baratas. Mas havia um inconveniente: os serviços só poderiam ser executados durante a madrugada, para não prejudicar o trânsito.

 

Fonte: O Globo, Luiz Ernesto Magalhães – 24/06/2014