Bolívar Lamounier integrou a Comissão de Estudos Constitucionais (“Comissão Afonso Arinos”) nomeada pela Presidência da República em 1985 para preparar o anteprojeto da Constituição. Presidiu o Conselho Diretor do CESOP – Centro de Estudos de Opinião Pública da Universidade de Campinas, de 1993 a 1999.

É atualmente assessor acadêmico do Clube de Madri, entidade criada em outubro de 2002, integrada por ex-presidentes e primeiros-ministros, com o objetivo de desenvolver esforços internacionais de apoio à democracia.

Neste entrevista exclusiva para a Stand ele traça um perfil panorâmico sobre o momento pelo qual passa o país politica e economicamente.

Stand: É correto afirmar que vivemos atualmente um dos períodos onde mais impera o extremismo de opiniões na política brasileira?

Bolívar: No sentido de atitudes, sim, sem dúvida. No pré-64, as posições eram mais radicais, devido à Guerra Fria e à influência da revolução cubana. A esquerda, de um modo geral, acreditava que cedo ou tarde o Brasil caminharia para uma revolução socialista nos moldes cubano e soviético, e à direita reagiu a tal ideia disposta a chegar a violência. Não se chegou a um conflito armado na sociedade porque as Forças Armadas intervieram e contiveram os dois lados. Hoje não há praticamente uma ideia de revolução, mas há uma atitude rancorosa, fomentada principalmente pelo PT e agravada pela crise econômica e pelos escândalos de corrupção.

Stand: E como esse fato influencia na questão da governabilidade e dos aspectos econômicos que proporcionam o crescimento do país?

Bolívar: As consequências principais dessa situação de rancor generalizado são a hostilidade à política e, em consequência, o enfraquecimento dos partidos de centro e a dificuldade de negociar reformas imprescindíveis, como a da previdência.

Stand: De que forma as chamadas “fake news” representam uma preocupação e podem influenciar no cenário político das eleições de 2018?

Bolívar: Difícil avaliar, por se tratar de um fenômeno novo. Com a debilitação da imprensa, de um modo geral, e o fortalecimento das redes sociais, isso passa a ser uma fonte de preocupação. Qualquer um pode inventar uma notícia falsa e utilizá-la contra um adversário. Será um desafio para os candidatos e para o Tribunal Superior Eleitoral.

Stand: Em ano de eleição, o comprador fica mais cauteloso para fazer grandes aquisições, como por exemplo, a compra de um imóvel?

Bolívar: Sem dúvida, sobretudo num ano de eleição com tantas incertezas. Mais grave ainda é a cautela do investidor. Surge, assim, um círculo vicioso. Para melhorar a situação, a economia teria que se recuperar mais rapidamente, mas com os investimentos em compasso de espera, a recuperação acontece de maneira lenta.

Stand: A percepção do brasileiro sobre a situação do país é prejudicada pela disseminação de notícias turbulentas no âmbito político? Como esse fato influencia na percepção de investidores estrangeiros? Há um maior receio?

Bolívar: Notícias turbulentas aumentam a insegurança e a turbulência na sociedade. E aí surge um paradoxo: notícias sobre a corrupção, principalmente, mostram que ela está sendo combatida, que a Justiça está agindo com mais eficiência, que há, portanto, um avanço. Mas o impacto inicial das investigações é perturbador e muita gente o recebe com desânimo, ou de uma maneira muito negativa, não percebendo que algo muito bom para o país no longo prazo está acontecendo. Investidores estrangeiros percebem isso com mais clareza, porque não estão tão próximos dos acontecimentos e têm conhecimento do que se passa em muitos países.

Stand: Muitos especialistas apontam as próximas eleições presidenciais com um grande número de candidatos. O que representa esse fator e como constituir uma base para gerar a governabilidade do país?

Bolívar: O problema não é propriamente o número de candidatos, mas a pulverização, a dificuldade de formar candidaturas fortes, principalmente no centro. Surge, assim, uma possibilidade real de que o vencedor seja um candidato sem base partidária, ou sem experiência, que provavelmente irá se deparar com dificuldades muito grandes no relacionamento com o Congresso. Collor foi um exemplo de tal situação.

Stand: O senhor acredita na tese de que é preciso que o brasileiro aprenda a votar melhor? Como senhor avalia a relação da sociedade brasileira com as urnas?

Bolívar: Não, não creio que o problema esteja no eleitorado. Está nas instituições, na proliferação desordenada de partidos e numa terrível deterioração da qualidade do Congresso e da cúpula do Judiciário no período de Lula e Dilma Rousseff.

Stand: Diante de tantos fatos que prejudicaram a imagem do país, o senhor acredita que o pior já passou e é possível projetar um crescimento nacional para os próximos anos?

Bolívar: Não, a recuperação ainda está no começo. Ainda não temos condições de aumentar o PIB a taxas anuais elevadas. Crescendo três por cento ao ano, nossa renda per capita anual levará 23 anos para atingir a dos países mais pobres da Europa mediterrânea, como Portugal e Grécia.

Stand: Nos últimos anos, um dos assuntos mais comentados na política brasileira foi a questão das reformas. Qual a sua opinião sobre a implementação das mesmas?

Bolívar: A reforma trabalhista foi um avanço muito grande. A educacional, tímida. E a da previdência, simplesmente não aconteceu.