Mesmo antes da pandemia, o Centro do Rio de Janeiro já apresentava sinais de degradação e esvaziamento, processo acentuado pela chegada do coronavírus,que infelizmente resultou em fechamento de lojas e recorde de vacância dos imóveis comerciais.

Mas esse cenário começou a mudar a partir deste ano com retomada da atenção do poder público para a região.

Com um cenário desafiador, a Secretaria de Planejamento Urbano desenvolveu o projeto Reviver Centro, que busca a requalificação urbana e ambiental, além de rejuvenescer as edificações e reduzir o déficit habitacional. Dessa maneira, o projeto busca ampliar a oferta de moradia para a população de diferentes faixas de renda e reverter o processo de esvaziamento de edifícios comerciais, acelerado pela ampliação da prática do trabalho remoto na pandemia.

Para isso foram estabelecidas condições específicas para os imóveis vazios e subutilizados, considerando a necessária consolidação da ocupação na região e o princípio constitucional da função social da propriedade. Já começaram a ser realizadas ações para qualificar os espaços públicos através da conservação e reurbanização, com foco na acessibilidade, arborização e áreas verdes, melhorias urbanas ambientais e apoio ao uso residencial, além de promover a conservação, requalificação e ativação dos bens protegidos pela legislação de patrimônio cultural.

Em entrevista recente à TV Creci Rio, Gustavo Guerrante, presidente da CDURP, Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto, contextualizou o projeto, destacando o trabalho inicial já realizado focado no cuidado da região:

– O primeiro passo do Projeto Reviver Centro foi começar com a questão do cuidado. Washington Fajardo, Secretário de Planejamento Urbano, começou esse movimento pela Cinelândia: tirou as grades, limpou, cuidou, pintou, organizou, implementou segurança e modificou a iluminação, um primeiro passo para mostrar zelo. Além disso, pela primeira vez é percebido um projeto de lei de fato consistente para trazer habitação para o Centro. Em muitos outros lugares do mundo, quanto mais próximo do centro comercial, mais valorizado se torna o imóvel, isso acontece em quase toda grande cidade. No ponto de vista do investidor, é um caminho natural buscar esse investimento no Centro, um lugar que tem infraestrutura pronta.

E essa perspectiva de mudanças na legislação local já atraiu construtoras e incorporadoras para a região, com o objetivo de lançar empreendimentos habitacionais. Mas e a infraestrutura de serviços e comércio acompanhará essa demanda? Gustavo Guerrante explica como funciona esse processo:

– Entre a contratação e a construção existe um período de 24, 30 meses. Quando se tem uma proposta firmada, naturalmente a procura dos serviços começa a crescer, e aqui não foi diferente. Houve essa primeira venda de uma construtora na região, com 477 unidades residenciais. Iniciaram a segunda fase do empreendimento, que são 377 unidades, e estão iniciando a terceira fase.

Um aspecto importante para atrair moradores para o Centro é entender o perfil de público que pode se interessar em residir na região.

– Esses primeiros empreendimentos são sempre desafiadores. No Porto, temos uma possibilidade de grandes terrenos com amplos condomínios com serviços e isso atrai um público familiar, normalmente mais jovem. Por ser mais adepto a algum tipo de novidade, ele é menos enraizado, mas é aquela pessoa que está buscando o primeiro apartamento familiar. Também tem o jovem que precisa de uma unidade pequena, que não custe muito caro, e tenha proximidade do trabalho. Esses dois tipos a gente consegue enxergar muito claramente aqui no Porto. [Existem também] Algumas unidades menores para o perfil mais executivo, aquela pessoa que precisa de um pouso, que é mais o perfil do empreendimento que está acontecendo na Visconde de Inhaúma. Quando a gente vai para o Centro, nós acreditamos que exista esse público de unidades menores, como estudante ou executivo. Mas tem também essa questão do investidor, que utiliza quando está no Rio, mas que aluga quando o imóvel está vazio.

Neste momento em que o Centro do Rio começa a retomar a credibilidade, para caminhar ainda mais é preciso consolidar avanços legislativos para estimular as unidades habitacionais, desenvolver uma estrutura de serviços inerentes ao dia a dia dos moradores e evoluir nos aspectos relacionados à segurança. Mesmo com esses desafios que ainda precisam ser superados é importante destacar que a região já apresenta uma infraestrutura de transporte, mobilidade urbana e lazer pronta para os futuros moradores.