João Teodoro da Silva iniciou a carreira de corretor de imóveis em 1972 e atualmente é empresário do ramo da construção civil em Curitiba (PR). Graduado em Direito e Ciências Matemáticas, foi professor de Matemática, Física e Desenho na PUC/PR. É técnico em Edificações e em Processamento de Dados e possui diversos cursos de extensão universitária pela Fundação Getúlio Vargas. Foi presidente do Creci-PR por três mandatos consecutivos, presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis do Paraná de 1984 a 1986 e diretor da Federação do Comércio do Paraná. No Cofeci, atua desde 1991, quando passou a exercer o cargo de conselheiro federal, e é presidente desde 2000.
1 – A mídia tem colocado de forma muito enfática que a valorização dos imóveis no Brasil não está no mesmo patamar de anos anteriores. E isso é comprovado com dados de algumas entidades do mercado. Alguns analistas estão apostando que já em 2014 essa valorização ficará abaixo da inflação. Como o sr. vê o cenário do mercado imobiliário no Brasil mediante esses fatos?
O medo da retração no mercado imobiliário tem tirado o sono de muito investidores do setor. Mas essa preocupação pode ser amenizada, afinal, todos os indicadores apontam para a potencial expansão do setor. A atual acomodação do mercado decorre de um contexto histórico onde o mercado imobiliário brasileiro está retomando o seu lugar.
Um dos momentos chaves para o que acontece agora foi o boom imobiliário vivenciado a partir da década passada que teve entre as suas características um aumento considerável nos preços dos imóveis. O que acontece agora é que estes valores estão se ajustando à realidade do consumidor brasileiro.
Além disso, os prazos estão também se adequando a este novo momento do mercado imobiliário. Uma mudança que surgiu decorrente da lei de oferta e procura. O fato é que nos últimos dez anos houve uma descompressão da demanda reprimida ao longo de décadas. E o que ocorre atualmente é um processo natural de acomodação.
Não estamos em crise porque no Brasil existe um déficit habitacional de sete milhões de unidades. Ou seja, há mercado, no mínimo, para a construção e comercialização dessa quantidade de propriedades. Hoje, o mercado imobiliário representa quase 18% do Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) e é o termômetro da economia, um espelho onde as pessoas buscam informações sobre os cenários e radiografia de um país.
A considerável alta nos preços, que assistimos recentemente, e que agora começa a baixar, é o resultado de anos de retração do mercado imobiliário pela ausência de linhas de financiamentos para o setor.
2 – O Brasil corre os mesmo riscos que o EUA na crise imobiliária de 2008? Como o país tem sido visto pelos investidores externos?
O nosso país não corre este risco, por uma questão muito simples: os sistemas financeiros são extremamente diferentes. No Brasil, o perfil é de compradores usuários do imóvel, enquanto nos Estados Unidos eram de investidores. Temos que levar em consideração que o volume em percentual de valores financiados é relativamente baixo e mesmo se existisse uma hipotética especulação não chegaria ao risco de uma bolha. Vale lembrar que a adimplência é de 98%. Este é outro fator que mostra a diferenças entre este mercados. Como dito antes, o que acontece agora é uma recolação de preços, uma adequação à realidade brasileira. De fato, o crescimento econômico está abaixo do esperado, mas ainda não significa recessão. Esse quadro é um reflexo do período que o país se encontra. É comum durante o ano de eleição uma semi-paralisação da economia, mas nada que possa desestimular investidores expressivos.
3 -O Rio de Janeiro, além de sediar a final da Copa do Mundo, também será sede das Olimpíadas de 2016. Qual é a sua opinião sobre o atual momento do mercado imobiliário carioca?
Assim, como na Copa do Mundo, as Olimpíadas não aumentarão os preços dos imóveis. O evento vai trazer melhorias de infraestrutura e promover a mobilidade urbana no Rio de Janeiro. Um exemplo disso é que até 2016 o Metrô deve chegar na Barra da Tijuca. O que pode acontecer é algo similar com a Copa que é uma alteração sazonal durante o evento na modalidade de aluguel, mas nada que afete o setor como um todo.
4 – As políticas públicas, os planos econômicos e os projetos de governo são fundamentais para a estruturação do setor de imóveis. Eles podem alavancar o mercado, como vimos acontecer com o Minha Casa, Minha Vida, ou podem atrapalhar. No que o sr. apostaria para o futuro governo que começa a partir de 2015, como ele tem de olhar para o segmento imobiliário?
Eu aposto na continuidade de tudo que acontece hoje. Não existe a possibilidade de nenhum governo acabar com essas políticas, pois elas vieram para ficar e melhorar a vida da população. O programa Minha Casa, Minha Vida, o FGTS e a caderneta de poupança são programas que trazem benefícios imensos a população brasileira. Não existe a possibilidade de haver uma bolha, temos uma economia saudável, com 93% de empregabilidade, o que garante uma alimentação segura do FGTS e a segurança para os outros financiamentos.
5 – Uma notícia bem interessante para os corretores de imóveis e empresas imobiliárias de todo o Brasil é a inclusão do setor no Simples Nacional. O Cofeci foi um dos grandes articuladores da proposta. Ao que o sr. credita essa conquista e a importância dela para os profissionais?
Após anos consecutivos de articulações em Brasília, o Sistema Cofeci-Creci conseguiu inserir o segmento imobiliário entre os setores da economia beneficiados pelo regime tributário Simples Nacional. Essa conquista representa uma redução estimada em 40% dos encargos tributários para a grande maioria das empresas do setor, desburocratização no recolhimento de impostos e agilidade na gestão das organizações. Esta é uma das principais conquistas para a nossa categoria, nos anos recentes. Profissionais e empresas serão beneficiados, podendo compartilhar esse avanço, a redução de custos e a simplificação na gestão de suas empresas com o cliente, gerando fidelidade e impulsionando o nosso mercado.
6 – A profissão de Corretor de Imóveis tem obtido um vertiginoso crescimento ao longo dos últimos tempos, nesses 52 anos de regulamentação podemos dizer que é uma profissão madura?
A profissão de corretor de imóveis está há 52 anos no mercado. E desde a década de 1970 existe o curso técnico, a partir dos anos 2000 foi criado o curso superior na área. Uma das nossas bandeiras é a luta pela formação superior obrigatória. A pessoa que trabalha com este mercado deve estar por dentro de questões econômicas, políticas e etc. Apesar disso já acontecer naturalmente – atualmente, 80% destes profissionais possuem o nível superior – precisamos regulamentar a obrigatoriedade do diploma. Desta forma, novas ideias e projetos poderão ser encabeçados que apontarão o destino que o setor deve tomar.
Com advento de novas tecnologias o mercado imobiliário mudou a forma de se vender. É necessário que o corretor busque em sua formação se familiarizar com este novo modo de se fazer negócios. Hoje, a internet funciona como uma nova plataforma que facilita e abrange os seus negócios. Saber investir bem nesta área é o principal desafio da profissão.
O setor imobiliário e da construção civil movimentam 18% do Produto Interno Bruto, e na ponta disto está o corretor de imóveis que é um dos principais atores que movimenta este mercado. Ele é o elo fundamental para este crescimento. Pois é quem faz a intermediação entre o vendedor e comprador e facilita o processo de venda.
7 – Como o senhor destaca a importância das parcerias entre os corretores de imóveis para o mercado imobiliário mais consolidado e produtivo?
A questão da parceria não tem ligação direta no mercado imobiliário. Sempre existirão compradores, o que influencia a compra e a venda são questões econômicas. A parceria entre os corretores é interessante, pois cria uma rede e ajuda ter um fluxo de vendas. Então, aquele que angariou o imóvel pode não conseguir vender, mas existe um colega que consegue realizar a venda. Desta forma, todos ganham.
8 – O que ainda falta para a categoria e pelo que o Cofeci está lutando ou vai lutar daqui para frente?
Acredito que hoje não falta nada, temos avanços em relação a conquistas de direitos. Mas posso dizer que a luta do Conselho hoje é a formação profissional. Queremos alcançar a excelência em nosso trabalho. Por isso, incentivamos os corretores de imóveis sempre a investirem em sua formação.
9 – Uma mensagem para os corretores de imóveis, em especial para os do Rio de Janeiro.
Acreditamos ainda que os caminhos com economia continuam crescentes no Brasil. Não há o que temer pela frente. O percentual de financiamento ainda é pequeno em relação ao volume que pode ser financiado. Ainda podemos crescer muito. Apostamos no Brasil.