A cidade passa por uma série de transformações, num programa de obras puxado, principalmente, por compromissos assumidos pelo poder público para assegurar o direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Ainda que nem todos os projetos prometidos sejam realizados, ou concluídos até o próximo ano, é previsivelmente positivo o legado urbanístico que, ao estímulo das Olimpíadas, o Rio ganhará no futuro próximo.

Algumas das conquistas de maior impacto dizem respeito à mobilidade, graças a um ambicioso plano de criação de corredores viários, já em avançada fase de construção. É desse terreno que poderia sair uma ponte para ampliar a abrangência estrutural do programa de mudanças urbanísticas. Pelo seu próprio perfil viário, os corredores (Transoeste, Transcarioca, TransBrasil e Transolímpica) podem estimular o aparecimento de bairros de uso misto ao longo de seus traçados – uma ideia que, como lembrou Roberto Kauffmann, presidente do sindicato da construção do Rio, em artigo no GLOBO, está na mesa há pelo menos dez anos.

A entidade, inclusive, tem um projeto bem definido, elaborado em 2005 (Projeto Piloto de Habitação Popular Sustentável), que prevê o aproveitamento de grandes áreas urbanas não utilizadas, perto da via férrea e ao longo da Avenida Brasil, para a implantação de minibairros. Neles, a cidade aumentaria a oferta de imóveis para uso residencial, comercial, industrial não poluente e com oferta de serviços de saúde, educação, segurança, saneamento etc. As vantagens desse tipo de proposta são evidentes.

A possibilidade de morar próximo ao local de trabalho é uma delas. Outra é a oferta de serviços essenciais (transporte e rede pública assegurando qualidade de vida), muitos dos quais já estão disponíveis em áreas previamente identificadas pelo sindicato.

Não menos importante, a oferta de moradias a baixo custo seria um forte indutor de migração de favelas, erguidas em regiões de alta densidade demográfica, para esses bairros populares – desde que lhes sejam asseguradas a oferta e manutenção das melhorias urbanísticas. As condições para tal existem.

Se a ideia dos minibairros é factível, trata-se de uma questão de vontade política. Kauffmann lembra, inclusive, que o projeto serviu de inspiração para o Minha Casa Minha Vida, sinal de que é viável. O fundamental é que o Rio aproveite a oportunidade das obras dos Jogos de 2016 para promover mudanças ainda mais profundas na sua política de ocupação do solo.

A cidade tem uma densidade demográfica desigual (alta concentração populacional em áreas que não têm mais para onde crescer e, em contraponto, grandes espaços vazios, viáveis para a implementação de projetos de urbanização). Entre outras razões porque têm sido tênues as investidas do poder público para mudar esse perfil.

 

Fonte: O Globo – 12/07/2015