Mais dinheiro disponível, os bancos já têm. A possibilidade de usar em novas operações de crédito uma parcela maior dos depósitos compulsórios (agora são 60% em vez dos 50% anteriores) já está valendo. Mas, mesmo positiva, não está garantido que a liquidez seja suficiente para gerar mais negócios agora.
– As medidas são positivas porque sinalizam para a redução de juros no futuro. Mas enquanto os valores de captação do banco estiverem altos, e a inflação no teto da meta, não haverá a redução – acredita o economista Roberto Zentgraf.
A medida do Banco Central é a única, entre as anunciadas na semana passada, já em vigor. As mudanças divulgadas pelo Ministério da Fazenda dependem ainda da edição de duas medidas provisórias, o que, segundo fontes da pasta, deve acontecer nos próximos dias.
Só com a edição das MPs será possível saber o tempo exato para a unificação de certidões, já que ela exige um sistema integrado de dados. Isso já começou a ser feito com a criação de um banco nacional. A informatização é essencial pois apenas assim poderiam ser feitas, por meio eletrônico, as averbações sobre pendências judiciais de imóveis e proprietários.
Ainda quanto ao aumento na concessão do crédito imobiliário, a expectativa do mercado é que ela aconteça, mas não imediatamente, até porque a inadimplência vem aumentando.
– As medidas dão mais liquidez ao setor, mas, hoje, os bancos estão mais cautelosos. E ainda não deu para saber se haverá novas diretrizes – avalia o economista Gilberto Braga.
Em comunicado, a Federação Brasileira de Bancos diz que “quanto melhores as garantias e mais simples a sua recuperação em caso de inadimplência, maior será a disposição dos bancos para emprestar e menor será a taxa de juros”.
Em países como os EUA, por exemplo, esse tipo de empréstimo é tão comum que foi justamente o grande número de segundas hipotecas uma das causas da crise econômica de 2008. Mas a situação era diferente. Os juros eram baixos, e o problema surgiu quando eles começaram a subir e as pessoas deixaram de pagar suas dívidas.
Mas será que os brasileiros, mais conservadores, apostariam nessa modalidade?
Cláudio Costa, diretor de financiamentos da imobiliária Coelho da Fonseca, acha que sim:
– Como toda operação de crédito, essa também inclui riscos. Mas, no médio e no longo prazos, acredito que as pessoas poderão usar a modalidade para comprar uma casa de campo, um apartamento na praia.
Uma das dificuldades é justamente a falta de familiaridade do brasileiro com a modalidade.
– Essa medida passa pelo aculturamento do brasileiro. As pessoas precisam assimilar essa possibilidade primeiro. Mas com a redução dos juros ela pode sim se tornar mais atrativa – lembra Fábio Pacheco, da imobiliária Lopes Rio.
Já João Paulo Matos, presidente da Associação dos Dirigentes do Mercado Imobiliário (Ademi-RJ) acha que o crédito até pode ser usado para outros fins, mas não o do segundo imóvel:
– Eu acho que é difícil as pessoas usarem um imóvel para financiar a compra de outro. Talvez, para reforma ou decoração da casa nova.
Além disso, haverá mudança nas regras da alienação fiduciária. Até agora, tributos e multas não pagos recaíam sobre o imóvel. Se o comprador deixasse de pagar e perdesse o imóvel, essa conta ia para o banco. Agora, a responsabilidade pelo pagamento das dívidas é do devedor. A modalidade também passa a valer para bens móveis.
Fonte: Jornal O Globo – 31/08/2014