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Dezoito longos anos se passaram desde que as obras da Linha 4 foram licitadas, em dezembro de 1998, ainda no governo Marcello Alencar. Tamanha espera pela chegada do metrô a seu bairro transformou o presidente da Câmara Comunitária da Barra, Delair Dumbrosck, num dos mais entusiasmados convidados da viagem inaugural, marcada para hoje de manhã, e que terá o presidente interino, Michel Temer, como ilustre passageiro. O projeto do metrô para a Barra só foi levado adiante por causa da Olimpíada. Mesmo assim, com o traçado modificado – em vez de seguir pelo Jardim Botânico até Botafogo, a via tomou o rumo de Ipanema. E a estação Gávea deixou de ser olímpica e ficou para 2018, desde que o estado consiga R$ 500 milhões para concluí-la.

– Quando tiver que ir ao Centro, só vou de BRT e de metrô. Tenho uma estação de BRT (lote zero do Transoeste) em frente ao meu escritório. Salto em cima da estação da Linha 4, no Jardim Oceânico. São 30, 40 minutos de viagem, e ainda não preciso dirigir. De carro, levo até duas horas – diz Dumbrosck.

DE INÍCIO, USO RESTRITO

A partir de segunda-feira, só credenciados para os Jogos e espectadores com ingresso e que comprarem bilhetes especiais poderão usar a Linha 4. Mas já estão sendo feitos os cálculos até de vantagens econômicas da nova ligação, que entrará em operação para a população em 19 de setembro, um dia após o fim da Paralimpíada. Tomando como base o salário médio no Rio, a população transportada pela futura via e a redução do tempo de deslocamento entre Barra e Centro/Zona Sul, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) estima uma economia de pelo menos R$ 883 milhões por ano. Em 25 anos, o valor salta para R$ 22 bilhões, recursos que dariam para construir duas linhas 4 (o custo, incluindo obras, trens e sistemas é de R$ 9,7 bilhões).

– O número é bem conservador. A economia pode ser maior ainda. A Linha 4 inicia a operação plena com 300 mil passageiros por dia, volume que irá aumentando com o passar dos anos. Por isso, consideramos uma média de 450 mil usuários/dia para os 25 anos de concessão. Se usar o metrô, o passageiro da Barra poupará duas horas diariamente, uma na ida e uma na volta. Mas, no cálculo, usamos o ganho de uma hora. Já o salário médio no Rio é de R$ 1.600, ou R$ 7,27 por hora. Multiplicamos 450 mil pelo valor da hora trabalhada e por 270 dias úteis por ano – explica o coordenador de projetos da FGV, engenheiro Luiz Carlos Duque.

A FGV mediu ainda a redução de gastos com combustíveis a partir da previsão de retirada de dois mil veículos por hora de rush, em cada sentido, do eixo Barra-Zona Sul. Considerando o valor médio de R$ 3,80 por litro de combustível, a permanência desses quatro mil veículos nas garagens representará economia de R$ 24 milhões anuais (R$ 615 milhões em 25 anos).

O comércio também vislumbra reflexos positivos. A Câmara dos Dirigentes Lojistas e o Conselho Empresarial de Comércio de Bens e Serviços da Associação Comercial esperam um aumento de 10% nas vendas dos estabelecimentos no entorno das estações Nossa Senhora da Paz, Jardim de Alah, Antero de Quental, São Conrado e Jardim Oceânico.

– Além dos benefícios econômicos, há os sociais. Pais, por exemplo, vão poder ficar mais duas horas em casa por dia cuidando da educação de seus filhos. E retirar quatro mil carros por hora das ruas, nos horários de pico, é tornar a cidade mais sustentável – afirma o secretário estadual de Transportes, Rodrigo Vieira.

O passageiro da Linha 4 poderá ir do Jardim Oceânico (Barra) à General Osório (Ipanema) em 15 minutos. Da Barra ao Estácio, serão 42 minutos. Até a estação Uruguai (Tijuca), 50. E até a Pavuna, com transbordo, 1h20m. Com 16 quilômetros, a nova linha representa um crescimento de um terço em relação à malha atual. Ela deverá fazer o metrô do Rio bater, pela primeira vez, a casa de um milhão de passageiros por dia (hoje são cerca de 850 mil), embora bem menos do que os 3,6 milhões transportados diariamente nos 70 quilômetros do metrô de São Paulo.

Pelo cronograma olímpico, as obras civis da Linha 4 deveriam ter sido concluídas em dezembro, iniciando-se uma fase de testes, para que a operação comercial fosse deflagrada em 1º de junho. No entanto, atrasos na execução e no repasse de verbas modificaram o cronograma. Após os Jogos, a via operará para o público, inicialmente, em horário reduzido (de 11h às 15h) e com baldeação para a Linha 1 na Estação General Osório. A expectativa da operadora (Metrô Rio) é que, até o fim do ano, a Linha 4 funcione em horário integral, com 15 trens e intervalos de quatro minutos.

E o futuro? Apesar de considerar bem-vinda a expansão até a Barra, Miguel Bahury, ex-presidente do metrô e atual membro do Conselho Diretor do Clube de Engenharia, diz que o sistema está incompleto:

– É preciso implantar a ligação Estácio-Carioca-Praça Quinze e concluir a estação da Gávea para se começar a pensar em rede metroviária. Executar o trecho previsto no projeto original da Linha 4, com a via passando pelo Jardim Botânico e Humaitá, também é fundamental. Outra questão importante é aproveitar a chegada à Gávea para seguir em direção às estações Uruguai e Saens Peña, criando uma linha circular, a exemplo de Londres.

EMPENHO PARA CONCLUIR GÁVEA

De acordo com o secretário estadual de Transportes, o estado está empenhado em conseguir os R$ 488 milhões necessários para terminar a estação Gávea:

– Assim que os Jogos terminarem, vamos detalhar o cronograma da estação.

Segundo a concessionária Rio Barra, responsável pela implantação da Linha 4, o túnel entre São Conrado e Gávea está pronto. Faltam perfurar 1,2 quilômetro (do Leblon à Gávea) e concluir 58% das obras da estação. Já Vieira garante ser prioridade do governo detalhar o projeto e o orçamento da ligação Estácio-Praça Quinze:

– Vamos calcular quanto a concessionária e o estado deveriam arcar para implantar o trecho, que é uma prioridade, porque vai permitir mais que dobrar a capacidade da Linha 2.

Fonte: Jornal O Globo – 31/07/2016