Em 1965, o Brasil ainda era apenas bicampeão mundial de futebol (1958-1962) quando o arquiteto e urbanista grego Constantino Doxiádis entregou ao então governador da Guanabara, Carlos Lacerda, um plano urbanístico que previa a construção de sete grandes corredores viários para organizar o trânsito e o transporte de massa na cidade. O chamado plano policromático ficou décadas no papel e só começou a ser implantado nos anos 90, com a inauguração das linhas Amarela e Vermelha. A um mês da Copa do Mundo, a prefeitura corre para concluir um novo corredor, inspirado nos conceitos de Doxiádis. Financiado com recursos do governo federal pelo PAC da Mobilidade Urbana da Copa do Mundo, o BRT Transcarioca – corredor exclusivo para ônibus que ligará a Barra ao Aeroporto Internacional Tom Jobim – será inaugurado no dia 1º de junho. E é, sem dúvida, o maior legado de mobilidade.

Terá 39 quilômetros de corredores exclusivos de ônibus com 45 estações que vão se integrar a terminais rodoviários, linhas de metrô e a trens ao longo das zonas Norte e Oeste. Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), as obras custaram mais de R$ 1,9 bilhão (incluindo reajustes contratuais pela inflação). Mas para a Copa do Mundo, está confirmado, por enquanto, apenas o funcionamento de quatro estações (Terminais 1 e 2 do Aeroporto Tom Jobim, Vicente de Carvalho e Alvorada) porque a implantação de todo o sistema é considerado um serviço complexo. Assim como aconteceu quando o BRT Transoeste foi implantado há dois anos, o usuário terá que se acostumar a uma série de mudanças: os itinerários de dezenas de linhas tradicionais serão revistos ou eliminados. A expectativa é que todas as estações entrem gradualmente em operação até o fim do ano, transportando cerca de 320 mil pessoas por dia.

De acordo com o Portal da Transparência da Copa, a obra sofreu atrasos: a previsão original era que terminasse em fevereiro de 2013. A prefeitura, por sua vez, sustenta que o compromisso para a Copa será atendido. A integração com o metrô em Vicente de Carvalho permitirá que o turista chegue ao Maracanã ou aos hotéis da Zona Sul. No caso da ligação com a rede hoteleira da Barra Tijuca, o mesmo papel é cumprido com a interligação ao Terminal Alvorada. Os horários e intervalos de operação ainda não foram divulgados.

Parte do traçado do Transcarioca foi previsto na linha azul do Plano Doxiádis. A ideia original da prefeitura era que o BRT Transcarioca ligasse apenas a Barra à Penha. Em 2009, a União condicionou o financiamento do projeto à expansão do corredor até o Aeroporto Tom Jobim.

– Grandes eventos, como a Copa do Mundo, são oportunidades para tirar da prancheta projetos que ajudam a resolver os problemas estruturais da cidade – disse o secretário de Obras, Alexandre Pinto.

Alguns dados sobre a obra dão ideia da quantidade de intervenções. Ao todo, mais de 2 mil imóveis tiveram que ser desapropriados total ou parcialmente. Foram usadas 21 mil toneladas de aço e remanejados 1.500 postes. Os 270 mil metros cúbicos de concreto empregados seriam suficientes para construir três estádios de futebol do tamanho do Maracanã. Também foram consumidas 200 mil toneladas de asfalto. Segundo a prefeitura, 99% dos serviços já foram executados. Ao todo, três mil operários trabalham nos canteiros. Há obras em execução nos terminais da Taquara, do Tanque e da Ilha Fundão; nas pontes estaiadas do Fundão e da Estrada do Galeão; e no Arco da Avenida Brasil. Trechos da rua Ibiapina e das avenidas Cândido Benício, Marthin Luther King e Campeões ainda estão sendo recapeados.

Outro legado importante, também na área de transportes, é a construção de uma nova estação com serviços integrados para atender aos usuários de trens e metrô, no Maracanã. A estrutura custou R$ 178 milhões. Com cinco plataformas de embarque e desembarque, sete escadas rolantes, cinco elevadores e banheiros públicos, ela receberá as composições dos ramais Saracuruna, Belford Roxo, Santa Cruz e Japeri. A Estação Multimodal permitirá, além do acesso ao Maracanã, a travessia até a Uerj, que fica ao lado, com rampas e elevadores para garantir 100% de acessibilidade. As obras devem ser concluídas em junho.

A infraestrutura urbana no entorno do Maracanã também recebeu melhorias. No último dia 1º, a prefeitura inaugurou obras de reurbanização. Toda a volta do estádio ganhou nova iluminação, uma pista de skate e as calçadas foram recuperadas. A ciclovia foi remodelada e uma passarela com cinco metros de largura construída para interligar a Quinta da Boa Vista ao Maracanã. O projeto, que custou R$ 109,5 milhões, já transformou consideravelmente a paisagem da região, que será o palco principal da Copa.

 

Fonte: O Globo, Luiz Ernesto Magalhães –  14/05/2014