Em dia com a inspeção predial

Importante medida para garantir a segurança e o bem-estar dos moradores, a inspeção predial costuma ocorrer de forma emergencial, quando o problema já está instalado ou em estado avançado. Só que esse tipo de trabalho deveria ser preventivo. Especialistas lembram que uma das atribuições do síndico é a contratação de um engenheiro civil ou de um arquiteto para fazer o serviço, evitando dores de cabeça e gastos desnecessários para o condomínio.

“A inspeção predial deveria ser uma ferramenta de acompanhamento da saúde da estrutura de um prédio, como um check-up anual de uma pessoa. Assim como acontece conosco, as construções envelhecem. E, à medida que isso ocorre, precisam de cuidados com estrutura e sistemas. A inspeção periódica ajuda a identificar problemas e ainda atua preventivamente, com custo menor do que quando se contrata uma obra emergencial”, diz Fernando Santos, arquiteto e diretor da Santos Projetos.

A engenheira civil Rejane Berezovsky, diretora do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo (Ibape/SP), explica que a inspeção é dividida em três etapas: vistoria técnica, análise da documentação pertinente e elaboração de laudo ou relatório técnico. “O prazo para realização do trabalho depende da idade da edificação e do seu estado de conservação”, afirma a especialista.

O diretor da Santos Projetos ressalta que, entre os problemas mais encontrados nos condomínios, estão vazamento de colunas de instalações hidrossanitárias (água e esgoto) e infiltração no piso. “Nos prédios mais antigos, as colunas eram feitas com tubulação metálica que se degradam naturalmente após tantos anos de serviço. O único meio de evitar vazamento é trocar as colunas preventivamente ou construir novas por prismas ou áreas menos nobres para abandonar a coluna antiga. Já no caso da infiltração do piso, o método mais popular de impermeabilização é utilizar a manta asfáltica. As mantas normais têm entre cinco e 10 anos de vida útil. Após esse período, ela perde eficácia”, explica Fernando Santos.

Rejane Berezovsky complementa, dizendo que desplacamento de revestimento da fachada e documentação incompleta também são outros problemas apontados. “A manutenção preventiva é o melhor instrumento para diminuir ou evitar o surgimento dessas falhas”, destaca.

Para Fernando Santos, o síndico precisa contar com o apoio do conselho para identificar a melhor empresa ou o profissional que fará a prestação do serviço. “Por mais que o problema se mostre maior que o esperado e que a solução seja cara, é muito melhor saber e elaborar um plano de ação para o futuro do que ficar sem saber a causa nem a solução. E, pior, sem saber se o problema está se agravando e se isso pode representar risco à segurança dos moradores”, alerta Santos.

Cuidados na escolha do profissional

Na hora de escolher a empresa ou o profissional para a inspeção predial, vale a pena tomar cuidados. De acordo com Fernando Santos, verificar se ambos têm registro no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) ou Conselho dos Arquitetos e Urbanistas (CAU) local é o primeiro passo. “Isso porque eles estão aptos a emitir o documento que dá garantia ao condomínio. Em seguida, o síndico e o conselho devem analisar as propostas recebidas e conversar com o prestador de serviço melhor avaliado para tirar dúvidas, nivelar entendimentos e perguntar sobre os procedimentos. Podem aproveitar a conversa também para negociar valores”, indica o profissional.

O arquiteto afirma que cada inspeção tem o seu procedimento distinto, dependendo da gravidade da situação, da dificuldade de acesso ou da quantidade de informações que serão necessárias para a correta identificação dos transtornos. “Antes de mais nada, deve-se fazer um plano de ação, com os impactos na rotina de moradores”.

Moradores devem agir como ‘fiscais’

Qual o papel dos condôminos neste processo? Para Fernando Santos, os moradores podem agir como ‘fiscais’ do síndico e do conselho, relatando situações anormais dentro das unidades e nos espaços comuns dos edifícios. “Muitas vezes, pequenos detalhes são indícios de grandes problemas. Mas que, tratados no devido tempo, não passam de um detalhe. Os síndicos podem tirar proveito de todas as informações que os condôminos passam para ter uma visão geral das condições do condomínio e conseguir priorizar e resolver os problemas, independente da idade do imóvel”, argumenta.

O especialista reforça a importância da continuidade das inspeções. “A periodicidade depende da natureza do problema, da idade, do uso do imóvel e dos serviços realizados anteriormente. Após a conclusão de alguns trabalhos corretivos, podem ser recomendadas inspeções para o acompanhamento do sucesso da intervenção e para dar garantia de que o problema não voltará futuramente”.

Fonte: Jornal O Dia – 12/02/2017