Boas notícias para quem enfrenta rotineiramente congestionamentos na Barra. Um dos pontos mais problemáticos do bairro sofrerá intervenções, com o objetivo de garantir maior fluidez ao trânsito. Na Avenida Lucio Costa, baias recuadas para ônibus serão feitas, na altura dos hotéis Windsor e Sheraton. A área em frente ao condomínio Atlântico Sul, no número 3.600 da via, terá alterações ainda maiores: naquele trecho, as vagas de estacionamento serão extintas, nas duas pistas, para a implantação de novas faixas de rolamento, e o retorno para acesso à Ponte Lucio Costa mudará de lugar, ficando em frente à Avenida Afonso Arinos de Melo Franco.

As obras serão financiadas quase que totalmente pela iniciativa privada. O projeto é contrapartida obrigatória que o Hotel Windsor Barra precisa pagar. As intervenções na Avenida Lucio Costa devem começar já este mês. Os estudos foram realizados pela CET-Rio, que detectou os principais gargalos daquela área.

Historicamente, o trecho entre a Praça do Ó e a Avenida Afonso Arino sé o mais congestionado da praia. Têm sido muitas as propostas, feitas principalmente por moradores de condomínios da orla, para sanar o problema. A CET-Rio estudou as possibilidades de mudança, e chegou a cinco medidas.

Primeiro, o retorno da pista sentido Pepê, na altura do Atlântico Sul, será reconfigurado, ficando na reta da Avenida Afonso Arinos, ou seja, alguns metros antes do ponto onde fica atualmente. Além disso, as 25 vagas de estacionamento naquele trecho serão substituídas por duas faixas de rolamento. Assim, a capacidade de acumulação de carros, que hoje é de oito, segundo os estudos, passará para 48. No mesmo ponto, mas na pista no sentido oposto, as intervenções facilitarão o acesso de veículos que vão da Ponte Lucio Costa para a orla, pela Avenida Evandro Lins e Silva. As vagas de estacionamento em frente ao Atlântico Sul também serão retiradas, para a criação de uma nova faixa, e o canteiro central, no fim da Evandro Lins, será encurtado.

O outro problema a ser corrigido serão as paradas de ônibus nos pontos em frente aos hotéis Sheraton e Windsor Barra. Hoje, quando um coletivo freia para embarque ou desembarque de passageiros, ocupa uma das duas faixas da pista, atrapalhando o trânsito. Agora, serão feitas duas baias recuadas nos pontos, para que o trânsito não seja interrompido. Por último, também serão eliminadas vagas da Rua Prudêncio do Amaral, perpendicular à praia, para a criação de mais uma faixa de rolamento.

O superintendente da Barra, Thiago Barcelos, justifica as intervenções na região:

– Eu mesmo sofro muito com esse trânsito. São alguns gargalos que precisamos superar. O tempo que hoje as pessoas perdem no tráfego gera impacto até na saúde. Às vezes leva-se meia hora para ir da Lagoa até o Pepê, e depois mais 20 minutos até o Barramares (na altura do número 3.300 da Lucio Costa), um trecho muito menor.

Segundo ele, as maiores intervenções na orla serão financiadas pelo Windsor, devido à contrapartida obrigatória, e a Secretaria de Conservação e Meio Ambiente (Seconserma) fará as obras menores, como as baias para os ônibus e a retirada de paralelepípedos para calçamento.

O projeto, que ainda não foi anunciado oficialmente, já repercute entre moradores da Barra. Ainda que muitos tenham outras sugestões, a expectativa é que essas intervenções sejam mesmo capazes de desafogar o trânsito. Síndico do Atlântico Sul, Ronaldo Carvalho lembra que o condomínio foi o primeiro da orla a fazer uma baia recuada para ônibus.

– Há quatro anos, levamos o projeto à prefeitura. Os ônibus antes paravam em uma das faixas e ficava tudo engarrafado bem na entrada do condomínio. Fizemos uma única baia, que custou cerca de R$ 70 mil e resolveu muito a nossa vida. Depois, muita gente quis fazer também, mas esbarrou na falta de verba – conta Carvalho, que foi avisado do novo projeto pela prefeitura, já que a área em frente ao condomínio terá obras. – É inteligente, o trânsito deve melhorar bastante.

O diretor da Câmara Comunitária da Barra, Cleo Pagliosa, acha que as mudanças vão facilitar o trânsito da orla. Ele ainda lembra de um projeto da entidade que prevê a construção de uma ponte na Avenida General Felicíssimo Cardoso, ligando a Lucio Costa à Américas.

– É um projeto antigo, parte de um pacote de obras que incluiria a abertura total da Avenida Dulcídio Cardoso e os mergulhões do BarraShopping e da ABM. Continuamos cobrando, mas sabemos que a situação está difícil, não há dinheiro. Enquanto isso, essas mudanças propostas vão ajudar – diz.

Na opinião de Ricardo Magalhães, diretor da ABM, a ponte na Felicíssimo Cardoso seria a principal solução, pois hoje não há acesso da praia para a Américas entre o Cebolão e a Avenida Afonso Arinos, um longo trecho. Ele diz que diariamente, a partir das 17h, há engarrafamento:

– O trecho em frente ao Atlântico Sul é muito ruim, o que inclusive favorece a ação de pivetes. De manhã, o fluxo também é grande, principalmente da Lucio Costa para a Américas, tanto no sentido Centro como no sentido Recreio. Sempre fica uma muvuca em frente ao Eurobarra.

Já o administrador do Barramares, Sergio Trindade, faz uma ressalva à proposta da CET-Rio. Para ele, as baias de ônibus não serão muito efetivas, porque os motoristas não costumam parar no recuo mesmo quando o espaço existe. E menciona uma sugestão feita por síndicos dos condomínios da orla ao poder público, há cerca de dois anos: a construção de mais uma pista para os carros, usando uma parte do canteiro central.

– Em frente ao Sheraton e ao Windsor, há espaço para isso. A obra seria de uma nova faixa, à esquerda, para passagem de carros, e os ônibus continuariam parando no mesmo lugar – explica Trindade.

Isso porque, para o administrador do Barramares, as baias recuadas só cumprirão sua função se houver orientadores de trânsito no trecho:

– Nós sempre vemos ônibus parando no meio da rua, mesmo onde há recuo. Os motoristas são apressados. Ano passado, na época da Olimpíada, colocaram vários agentes na orla, e aí o tráfego melhorou bastante.

Os investimentos da rede Windsor nas obras da Avenida Lucio Costa estão sendo feitos como contrapartida pela construção dos hotéis Windsor Oceânico e Windsor Marapendi, além de um centro de convenções. Em nota, a rede afirma que considera as alterações viárias essenciais e acrescenta que está investindo também em projetos de melhoria dos acessos aos seus empreendimentos e da sinalização do entorno.

Novo trecho da Via 4 pode ser aberto

As mudanças têm recebido muitos elogios, mas há também quem as veja com desconfiança ou, até, desagrado. Comerciantes que trabalham em quiosques no calçadão, em frente ao condomínio Atlântico Sul, por exemplo, reclamam da eliminação de vagas de estacionamento.

– Moro aqui há 40 anos e posso afirmar que o problema no trânsito da orla ocorre por causa dos pontos de ônibus do Sheraton e do Windsor. O acesso da Evandro Lins e Silva para a Lucio Costa também é ruim, mas o retorno do outro lado da pista (no sentido Pepê) nunca tem congestionamento – afirma Amilton Macedo, dono do quiosque Pescado.

Roberto Souza, dono do quiosque ao lado, o Leal, também critica o fim das vagas:

– É isso o que paga nossas contas no inverno. Além disso, onde os caminhões vão parar para fazer descarga?

Cliente do quiosque Leal, o advogado Early Besse compreende a preocupação com o trânsito, mas acha que é preciso pensar em alternativas para quem vai de carro à praia.

– Melhorar a fluidez do trânsito é sempre positivo. Mas no bairro há déficit de vagas. Existem terrenos baldios na Avenida Afonso Arinos que poderiam ser transformados em estacionamentos – sugere.

Questionado sobre o assunto, o superintendente Thiago Barcelos diz que não há previsão para criação de vagas no momento, mas que se pode pensar em alternativas:

– O projeto trará um ganho. É normal ganhar de um lado e perder um pouco do outro. Mas o trânsito é um problema grave, e, se for solucionado, isso será positivo para os quiosques.

Em relação à sugestão de criar uma faixa de rolamento no canteiro central, em vez de criar recuos para os ônibus, Barcelos diz que as duas medidas teriam resultados semelhantes.

– A solução é a mesma: ganhar uma faixa – observa o superintendente, admitindo a necessidade de haver operadores de tráfego no local. – Vamos reforçar a fiscalização, sim, para que os ônibus respeitem os novos locais de parada.

Se na praia a solução é fazer mudanças pontuais para melhorar a fluidez, o caso de um outro ponto-chave para o trânsito, a Via 4 requer mais esforço.

Uma das causas dos congestionamentos da Barra é o descumprimento do Plano Lucio Costa. Pelo projeto original, outras vias expressas cortariam a Barra, como a Via 4 e a Dulcídio Cardoso. O problema é que essas avenidas são, em muitos casos, bloqueadas por condomínios e outros empreendimentos.

A Superintendência da Barra está em negociações com a diretoria da Amil, responsável pelo Americas Medical City, localizado na Avenida Jorge Cury, para tentar viabilizar a abertura de um trecho de 300 metros da Via 4, que iria até a Avenida Rachel de Queiroz. Com isso, a Jorge Cury seria ligada à Avenida Celia Ribeiro Mendes, em mão dupla, tornando-se um caminho alternativo para se chegar à Avenida das Américas.

Segundo Thiago Barcelos, as outras medidas necessárias para o projeto sair do papel são uma licença da Seconserma, que deve ser concedida esta semana; e a assinatura de um termo entre a prefeitura e a Aeronáutica, já que a área margeia o Aeroporto de Jacarepaguá. Este vizinho, inclusive, foi um dos motivos de atraso da obra, devido a questões técnicas. Outro motivo de cautela são as capivaras.

– Tivemos que fazer um projeto bem detalhado, para não interferir na operação do aeroporto e proteger as capivaras. Com a abertura desse trecho da via, seria feito um corredor para os animais – afirma. – Essa medida reduziria 15% do tráfego entre o Terminal Alvorada e o condomínio Rio Mar.

Fonte: O GLOBO, 01 de junho