Washington Fajardo

Arquiteto, urbanista e secretário municipal de Planejamento Urbano do Rio

A pandemia mostra que moramos num ambiente desequilibrado, temos que perseguir a qualidade de vida, tendo mais área verde, as crianças terem mais lugares para brincar, ser mais inclusivo nesse ponto, temos territórios muito violentos.”

Washington Fajardo é secretário de Planejamento Urbano do município do Rio de Janeiro. Ele, que é arquiteto e urbanista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi assessor especial da prefeitura entre 2009 e 2016.

Em entrevista exclusiva para a Stand, Washington discute um pouco sobre os desafios da cidade do Rio de Janeiro no tocante ao planejamento urbano e o desenvolvimento do município, bem como questões sobre a revitalização do Centro, déficit habitacional e a importância do corretor de imóveis.

1) Qual o principal desafio já identificado para ser solucionado referente ao planejamento urbano da cidade do Rio de Janeiro?

R: O maior desafio é o esvaziamento da região do Centro da cidade, região com dominância do uso do comércio e do trabalho, historicamente com pouca área residencial. A pandemia atingiu bastante esse local, com o fechamento de muitas salas comerciais, sendo o principal ponto no momento. A vontade é, com as vacinas, criar uma boa oferta de imóveis residenciais na área do centro da cidade, plano chamado de “Reviver Centro”.

2) O senhor é referência nesse fator tão decisivo para o desenvolvimento da cidade. Nos últimos anos que exemplos positivos foram possíveis de serem assimilados e poderão ser implantados aqui no Rio de Janeiro? Quais são as inovações urbanísticas que o senhor pretende implantar?

R: A ideia é fazer a cidade do Rio de Janeiro mais dinâmica, em relação a isso, estamos atrás de outros grandes centros, como São Paulo e Belo Horizonte, portanto, precisamos avançar nesse ponto. Trabalhando dentro do Instituto Pereira Passos, podemos dominar a economia urbana, para que tenhamos mais efetividade dentro dessa área.

3) Quais as regiões do município apresentam melhores condições de desenvolvimento para os próximos anos? Na sua opinião, para onde a cidade deve crescer e se desenvolver de maneira mais acelerada?

R: Com certeza a melhor é a área central e a Leopoldina, as mesmas precisam se desenvolver acompanhando o metrô e o trem, outro ponto que temos capacidade é qualificar Campo Grande e Guaratiba, além de dar atenção a Zona Norte.

4) Como atrair novamente a atenção dos investidores para o centro, região tão importante da cidade?

R: Uma maneira é rompendo alguns gargalos de produção. Buscando uma legalização melhor, incentivos e isenções fiscais, podendo assim melhorar a qualidade do espaço público. Integrar as comunidades no planejamento urbano também é um assunto onde temos, e vamos, dar prioridade.

5) Quais os locais da cidade são mais propícios a construções e quais são mais propícios a reformas?

R: O local mais propício a reformas é a parte do centro da cidade. Já em São Cristóvão, Estácio, Cidade Nova, são locais mais propícios a construção.

6) A pandemia do coronavírus, ao mesmo tempo que diminuiu a circulação de pessoas nos centros urbanos, aumentou a circulação nos bairros, muitas vezes periféricos. Como o senhor analisa essa questão no tocante do Planejamento Urbano?

R: Pelo Rio de Janeiro ser uma cidade mononuclear, é necessário requalificar regiões como Campo Grande, Madureira, Tijuca, Santa Cruz, para fazê-los bairros “mais próximos”, a grande vontade é aproximar as residências dos empregos.

7) Os corretores de imóveis são profissionais que devem estar sempre atento às questões relacionadas ao Planejamento Urbano porque está diretamente ligada ao desenvolvimento do mercado imobiliário. Como o senhor analisa essa questão, reforçando a importância de se aprofundar nos aspectos urbanísticos?

R: Os corretores são decisivos, sendo uma categoria essencial para o planejamento urbano, disponibilizando o preço e a valorização dos imóveis e terrenos. Procuro sempre dialogar com os corretores, recebendo dados muito importantes para o meu trabalho dentro do planejamento urbano.

8) Como aprimorar a relação entre o progresso, o desenvolvimento e as questões sustentáveis? Indo além, que medidas podem ser estudadas para combater cada vez mais as construções irregulares?

R: A pandemia mostra que moramos num ambiente desequilibrado, temos que perseguir a qualidade de vida, tendo mais área verde, as crianças terem mais lugares para brincar, ser mais inclusivo nesse ponto, temos territórios muito violentos. As construções irregulares têm que ser combatidas, sendo danoso aos próprios moradores.

9) Há previsão de mudanças estruturais no Plano Diretor da cidade do Rio de Janeiro? Como a sociedade e as instituições podem participar desse debate e das decisões sobre o futuro do município?

R: O processo participativo nesse ponto é primordial para a melhora do município, dentro desse assunto. Sobre as mudanças no Centro, foi criado um questionário para entendermos exatamente o que a população pensa sobre a região.

OBS: As respostas das enquetes realizadas estão disponíveis no site prefeitura.rio/revivercentro.

10) De que forma o deficit habitacional pode ser reduzido através de uma ocupação adequada da cidade?

R: Uma forma é ter um ambiente de reforma fácil, ter uma produção habitacional localizada, ter superavit de moradia próximo do transporte público, são itens primordiais para esse processo ser reduzido.