vila olimpica

Será uma cidade com mais “moradores” do que 65% dos municípios brasileiros. Em menos de dois meses, ela começará a ser ocupada por 17.950 atletas e integrantes de equipes técnicas, além de 13 mil trabalhadores e voluntários que a manterão funcionando 24 horas por dia. A Vila Olímpica do Rio, na Barra, vai ser a mais populosa e terá prédios entre os mais altos da história dos Jogos. Mas, enquanto os novos habitantes não chegam, é um batalhão de operários que corre contra o tempo para entregá-la completamente equipada.

Nos 31 prédios de 17 andares cada, com 3.604 apartamentos, 600 mil itens estão sendo instalados, de camas, chuveiros e armários a luminárias, cortinas e roteadores de wi-fi. Segundo o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, nesse desafio de números gigantes, o processo de mobiliar a vila está 70% concluído. Em paralelo, ainda vêm sendo erguidas estruturas temporárias como um restaurante (numa tenda tão grande que poderia abrigar um Boeing 747), uma policlínica e uma academia de ginástica.

COMPLEXO TERÁ CHECAGEM DE SEGURANÇA

Diretor da vila, uma espécie de prefeito que administra a operação da casa dos atletas, Mário Cilenti diz que o tempo para a tarefa é curto, mas que desde o início já se sabia que seria tudo cronometrado. Como previsto, em março foram entregues as obras físicas dos edifícios, divididos em sete condomínios, de responsabilidade das construtoras Carvalho Hosken e Odebrecht. Agora, pelo cronograma, no dia 5 de julho acontecerá o lockdown da vila: uma cerca dupla em volta do terreno deverá estar pronta para a inspeção de segurança em todas as áreas do complexo. A partir daí, só entrará quem tiver credencial e passar por máquinas de raios X. A pré-abertura do complexo será no dia 18, para as delegações começarem a personalizar seus espaços. E, no dia 24, o lugar será liberado para a chegada dos atletas.

– No começo de julho finalizaremos os últimos detalhes. Os apartamentos foram entregues pelados, e pouco pode ser deixado neles, pois estão sendo comercializados (no empreendimento Ilha Pura). A montagem é em etapas. Primeiro, entra a instalação de proteção dos pisos; depois, os aparelhos de ar-condicionado, luminárias, mobília, espelhos e assim por diante. Por último, os itens de tecnologia – afirma Cilenti, acrescentando que parte do material foi comprada ou alugada por meio de licitação, ou fornecida por patrocinadores.

Toda a operação de montagem leva em conta que os prédios têm diferentes plantas, assim como os apartamentos, de dois, três e quatro quartos, que medem de 77 a 230 metros quadrados. São 11.152 quartos com ar-condicionado em montagem, onde ficarão nada menos que 19 mil camas e 10.650 armários. Estarão disponíveis 120.580 toalhas, 70.200 lençóis e 19 mil edredons, que serão lavados por uma empresa fora da vila. Na sala de cada unidade, há uma mesa de centro e um sofá. Nas cozinhas, nada de geladeiras: elas serão substituídas por máquinas de bebidas gratuitas nos prédios.

Os edifícios terão ainda estações de produção de gelo e, no térreo, salas de TV, computadores e impressoras, além de uma espécie de recepção com concierges para atender às necessidades dos atletas.

– Tentamos cuidar de tudo. Parece bobeira, mas os chuveiros, por exemplo, são um pouquinho mais altos. Quando abrirmos as portas da vila, os atletas começarão a contar tudo na mídia e nas redes sociais. Queremos que a impressão seja a melhor possível – diz Cilenti, que não citou o valor gasto com mobília, mas números não oficiais apontam que pode ter custado R$ 74 milhões.

Pensando na comodidade dos “moradores” da vila, haverá um Olimpic Village Plaza, um centro comercial com bancos, correios, salão de beleza e loja de produtos credenciados. Onde hoje estão os estandes de venda do Ilha Pura será o espaço de recreação dos atletas, com lounge e jogos como sinuca e simuladores de videogame. Tudo isso ficará, durante a Olimpíada, espalhado por 200 mil metros quadrados, com área verde, ciclovia e piscinas. A entrada no complexo será pelo Welcome Center (Centro de Boas-vindas) da Avenida Salvador Allende. E quem não quiser andar a pé poderá utilizar uma linha de ônibus que circulará pelos condomínios.

Ficar mais perto do acesso à vila, do restaurante ou do centro comercial está a critério das delegações. O Brasil foi o primeiro a escolher sua posição, seguido das maiores delegações que vêm aos Jogos, como Estados Unidos e China. Até agora, cerca de 50 já definiram seus prédios. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) ainda não divulgou o lugar do time verde e amarelo, mas já adiantou: parte da delegação ficará na Fortaleza São João, na Urca. Embora haja essa opção de alguns atletas se hospedarem fora da vila, garante Cilenti, todos terão espaço no complexo da Barra.

– Para quem optar por outro lugar, os custos não serão nossos. Nem será nossa a responsabilidade se o atleta não chegar a tempo a uma competição, por exemplo. Os que estiverem na vila, a gente garante – afirma.

O mesmo acontecerá na Paraolimpíada. A partir de 28 de agosto a vila estará liberada para os atletas paralímpicos, que ocuparão 21 prédios de cinco condomínios do complexo, cujas construções já foram feitas para atender às necessidades de acessibilidade dos competidores, sendo preciso apenas pequenas adaptações, como mudanças em alguns banheiros.

PARA O MARACANÃ, 300 ÔNIBUS

Para essas modificações, os operários voltarão à cena. Mas, antes deles, durante a Olimpíada, entre as 13 mil pessoas que trabalharão na vila, serão 10 mil contratados para serviços como segurança e limpeza dos quartos, 2.500 voluntários e 500 funcionários do Comitê Organizador. Dois mil deles estarão a postos só no restaurante principal, onde serão servidas 60 mil refeições por dia, com pratos preparados 24 horas por dia.

Nessa cidade, o burburinho promete ser grande. Os dias mais movimentados devem ser os do segundo fim de semana de Jogos, 13 e 14 de agosto. Mas só no dia da cerimônia de abertura olímpica, em 5 de agosto, 300 ônibus partirão da vila para o Maracanã, local da festa, em comboios que não podem atrasar. Operação, claro, que demandará atenção redobrada. Outro dia crucial deve ser o posterior à cerimônia de encerramento, 22 de agosto. Tanto que, para aliviar o fluxo de saída do Rio nos aeroportos, o comitê negocia com as principais companhias aéreas o check-in remoto das delegações, na própria vila.

Mesmo ainda havendo tanta água para rolar até lá, Cilenti, que é argentino e desde Sydney 2000 trabalha na equipe olímpica, não tem dúvidas da principal lembrança que os habitantes da vila levarão com eles.

– O grande diferencial do Rio, fora a beleza da cidade, é que os atletas devem sentir o calor humano da população. Essa é uma experiência única que eles vão levar – diz Cilenti, que será morador da vila durante os Jogos.

Fonte: Jornal O Globo – 29/05/2016