Desde a consolidação da definição de Desenvolvimento Sustentável, em 1987, no Relatório da Comissão Bruntland, inúmeros temas relacionados à sustentabilidade vêm sendo discutidos no mundo visando à satisfação das necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas necessidades: o setor da construção civil também foi alvo dessas reflexões devido ao seu histórico como grande gerador de resíduos e emissor de gases de efeito estufa – oriundos do processo de produção de cimento e do transporte de materiais de construção.

Além dos métodos construtivos, as questões alcançam a operação dos edifícios, que, muitas vezes, exige sistemas artificiais de condicionamento de ar e sobrecargas na infraestrutura urbana. Seguindo essas preocupações, além das discussões técnicas, nas últimas décadas surgiram demandas de mercado por construções verdes” que têm sido padronizadas através dos sistemas de certificação, onde se destacam o selo LEED (de origem americana) e o HQE (selo francês que sofreu uma adaptação para a realidade brasileira sob a forma do selo AQUA).

De maneira geral, os investidores que visam a aquisição de imóveis corporativos de alto padrão veem as certificações como garantia da redução de consumo de energia e água, com a consequente diminuição dos custos fixos dos imóveis, além de oportunidade de marketing.

Entretanto, cabe ressaltar que os requisitos das certificações são mais do que o uso de sistemas economizadores; uma construção sustentável certificada deve garantir menos impactos socioambientais e conforto e segurança para seus usuários.

De olho nessa fatia do mercado, os empreendedores interessados em colocar um selo “verde” em seus lançamentos se assustam com essa complexidade e os custos da certificação. Analisando as exigências de certificações em dois níveis, projeto e abra, verifica-se uma grande oportunidade de simplificação se o projeto já nasce sustentável. Em outras palavras, para construções sustentáveis, as análises que antecedem a tomada de decisão sobre a compra de terrenos e os empreendimentos a serem lançados deveriam incluir estudos socioambientais.

O selo AQUA, no Brasil, já aborda esse tema, exigindo um estudo sobre o entorno do empreendimento.

Na prática, os benefícios dessas análises pare a certificação seriam extremamente significativos, pois evitariam paliativos que encarecem a obra, como vidros de alta performance térmica, brises, isolamentos acústicos, sistemas de Irrigação complexos etc.

O estudo prévio também contribuiria para a harmonização da operação do edifício com sua a vizinhança, evitando sombreamentos excessivos ou a inserção de fluxo de veículos e pessoas em áreas já saturadas.

Para o planejamento, as análises iniciais permitiriam a organização do canteiro de obras para aproveitamento dos resíduos de demolição como agregados para concreto e viabilizariam uma gestão mais competente, com a redução de geração e destinação de resíduos recicláveis para agentes locais.

Outras medidas já consagradas também seriam adotadas mais facilmente, tais como o uso de lava-rodas para que os caminhões não sujem as vias públicas e a compra de madeira certificada. As emissões do setor poderiam ser minimizadas pelo incentivo ao uso de cimento com alto índice de escória em sua composição (CP Ill) e compra de materiais fabricados localmente. Nesse contexto, as certificações como o AQUA e o LEED têm um papel maior que a determinação de requisitos de sustentabilidade ou declaração de garantia “verde: Os processos de certificação, se simplificados, poderiam subsidiar os empreendedores nos estudos socioambientals prévios viabilizando edifícios sustentáveis desde a sua concepção.

Fonte: Jornal O Globo Online – 11/02/2014