Accor acaba de inaugurar dois novos hotéis no Rio. Um deles é da marca Ibis, de categoria econômica; o outro, Mercure, com serviço de padrão intermediário, focado no segmento executivo. Ambos ficam na Barra da Tijuca. E, mais: dividem o mesmo endereço. Essa espécie de “combo hoteleiro”, que reúne duas bandeiras diferentes em um mesmo empreendimento, já é tendência no exterior, onde a prática é conhecida como dual-branded (com duas marcas). Agora, ganha fôlego no Brasil.

A estratégia garante maior rentabilidade à operação, do incorporador ou investidor, passando pela gestora hoteleira. De 14 novos empreendimentos previstos no Rio por Accor e InterContinental Hotels Group (IHG), dez seguem a receita de um único terreno para dois hotéis.
– É uma forma de maximizar o uso de um terreno da melhor maneira, instalando dois hotéis de perfis diferentes – explica Ricardo Mader, diretor da área de hotéis e hospitalidade da JLL para América do Sul.
– Com boa localização, você atrai mais de um público e pode ter ganhos em escala, tanto na construção quanto na operação, usando sinergias.
As empresas estão atentas a esses benefícios. A Accor aposta com força nos projetos combo. Com 15 hotéis no Rio, vai inaugurar mais 12 na cidade até 2017. Oito deles estão sendo construídos em pares.
– As despesas com a operação dos hotéis caem cerca de 25% quando compartilhadas por duas unidades – disse Abel Castro, diretor de Novos Negócios da Accor.
Taxa de ocupação de 79%

No Rio, os “combos hoteleiros” ficarão no Parque Olímpico (Barra), na Zona Portuária, em Botafogo e em Del Castilho, em complexo do Shopping Nova América.

A capital fluminense é líder em novos empreendimentos do grupo no país, afirma Castro. Além dos hotéis em dobradinha, haverá mais dois na Barra e outros dois em Copacabana. No total, serão cerca de R$ 800 milhões em investimentos feitos por parceiros da Accor.
– O Rio é hoje o melhor destino para hotelaria no Brasil. Oferece as mais altas diária média e taxa de ocupação – conta Castro.
No ano passado, o aproveitamento nas unidades da Accor na cidade chegou a 79%, dez pontos percentuais acima da média da rede no país. Com a procura em alta, o Sofitel, empreendimento de luxo da rede em Copacabana, passa por reformas. Em Ipanema, o grupo planeja transformar o Caesar Park num hotel Sofitel So, uma categoria de luxo com design arrojado.

O grupo tem sete mil empregados no Estado do Rio. Com os projetos de expansão, deve contratar mais seis mil funcionários.
Antonietta Varlese, diretora de Comunicação da Accor, explica que, embora os hotéis não concorram entre si, eles podem ser complementares:

– Eles funcionam de forma independente. Mas um hóspede do Ibis pode, se quiser, jantar no Mercure.
Outros grupos de hotelaria estão apostando em empreendimentos que combinam duas marcas diferentes. Atlantica Hotels, IHG e BHG são alguns deles.
– Esse perfil de projeto tem uma grande vantagem operacional. Ao casar duas marcas, o custo de gestão pode cair à metade – explica Cristiano Placeres, diretor de Desenvolvimento da Atlantica.

Identidade de cada marca 

Para ele, o importante é preservar a identidade de cada marca que compõe o complexo. Facilidades, serviços e instalações de cada hotel não podem perder em qualidade.
A primeira experiência dual-branded da Atlantica é o Complexo Stadium, há uma década em operação em Alphaville, Barueri (SP), com hotéis das bandeiras Radisson e Comfort Suites. Até o fim deste ano terá mais dois em Salvador e Natal. Em 2016, inaugura outros três pares em Goiânia (GO), Santo André e São Caetano (SP).
– Nesses projetos a ocupação é, em geral, melhor que em hotéis avulsos. Fica ainda mais alta em complexos que, além de hotéis, têm torres comerciais e shopping – conta Placeres.

A IHG aposta no potencial em lazer e negócios da Zona Portuária do Rio, por conta da revitalização da região. Terá as marcas Holiday Inn e Holiday Inn Express, em projeto da Odebrecht de R$ 300 milhões em valor de vendas. As
unidades abrem até as Olimpíadas de 2016.
– Do ponto de vista do incorporador, esses projetos ajudam a otimizar o custo do investimento e diversificam a oferta de produtos imobiliários num mesmo empreendimento – avalia Mariano Carrizo, da consultoria Horwath HTL.

Muitos destes projetos são vendidos como cotas ou unidades para investidores. O incorporador é responsável por lidar com os interessados. A rede hoteleira, na maior parte das vezes, determina os padrões do projeto e cuida apenas da gestão do empreendimento.

Fonte: Jornal O Globo – 07/09/2014