Vinte e quatro horas por dia, seis dias por semana – o domingo é de folga -, 120 operários se revezam, a até 46 metros de profundidade, na escavação, pavimentação e instalação de equipamentos no Túnel da Via Expressa, que vai ligar a Praça Quinze ao Armazém 8 do Cais do Porto. Faltam seis metros de perfuração para que as galerias cheguem ao mergulhão da Praça Quinze, trecho que deve ser concluído ainda esta semana. O encontro simbólico é resultado de três anos de trabalho, mas não significa o fim do expediente: a obra será entregue no primeiro semestre de 2016, antes dos Jogos.

Segundo a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (Cdurp), 82% da construção já foram concluídos. Será o maior túnel urbano rodoviário do Brasil – oficialmente, a via será chamada Prefeito Marcello Alencar. Em velocidade de 80 km/ h, o trajeto será percorrido em 2min30s.

O túnel faz parte do novo eixo viário que vai ligar o Aterro do Flamengo aos acessos à Avenida Brasil e à Ponte RioNiterói, em substituição ao Elevado da Perimetral. Ao todo, a nova rota terá 6,8 km de extensão – parte em túnel, parte em superfície.

– A Perimetral vai ser substituída por uma via com uma capacidade maior de receber o trânsito – garante o presidente da concessionária Porto Novo, José Renato Ponte.

Em uma manobra incomum na engenharia, o Túnel da Via Expressa passa por baixo de seu vizinho, o Túnel Rio 450, que chega a 40 metros de profundidade e liga a Rua Primeiro de Março à Via Binário.

– Não é comum um túnel subterrâneo alcançar toda essa profundidade (46 metros), mas os estudos geológicos indicaram que este era o traçado mais adequado – explica Ponte.

No canteiro de obras, outra cena chama a atenção: sob uma tenda, uma equipe de arqueólogos analisa materiais que foram encontrados ao longo do caminho, para avaliar se há valor histórico nos achados.

– Já encontramos estacas que sustentaram o cais do porto e até ossadas. Mas muita coisa foi retirada na época da construção da Perimetral, porque não havia todo esse cuidado de preservação – acredita Ponte.

Trecho de um quilômetro já está asfaltado e perto de ficar pronto

A obra acontece em frentes simultâneas e, por isso, os cenários vão se alterando ao longo de uma caminhada subterrânea. Há um trecho de um quilômetro já asfaltado (somando-se as duas galerias), enquanto em outra área a rocha no solo ainda é visível – as máquinas perfuraram os morros da Conceição e de São Bento.

– Há um trecho do túnel em que só faltam instalar os sistemas de combate a incêndio, a iluminação e o circuito interno de câmeras – diz Ponte.

Prédios monitorados

Dois poços de perfuração foram abertos: na altura da Praça Barão de Ladário e na Avenida Venezuela. O grau de profundidade exigiu um cuidado específico: antes de o concreto ser colocado, o teto foi revestido com uma espécie de manta. Como a escavação foi feita em uma área próxima ao lençol freático, a água provoca uma pressão externa na rocha e, sem a cobertura extra, penetraria pelas cavidades. Outra necessidade foi a construção de quatro lajes intermediárias entre o teto e o nível dos carros. Ponte explica que as lajes têm função “estruturante”, uma espécie de apoio às paredes. Em uma obra complexa, rodeada por outras construções, outra precaução é fundamental: checar o impacto na vizinhança.

– Monitoramos os prédios todos os dias, para verificar se não houve interferências (na estrutura) – afirma Ponte.

 

Fonte: O Globo – 06/10/2015