A caminho do café da manhã ou de uma sessão de massagem no sofisticado spa localizado no subsolo do hotel Sofitel Carrasco, no centro histórico de Montevidéu, a capital do Uruguai, os hóspedes passam pelo lobby de decoração suntuosa. O que chama a atenção não é apenas o piso ou as colunas de mármore, os vitrais coloridos ou os móveis no melhor estilo belle époque, mas os restauradores ali instalados. Dois homens e uma mulher trabalham com suas espátulas nos detalhes em relevo das paredes que mais lembram as de um castelo francês, muitas vezes até com acabamento em folhas de ouro de 18 ou 22 quilates.

“É como se fosse a Catedral de Notre-Dame, em Paris”, diz Mario Leite, brasileiro responsável pela gerência do hotel, que contratou sete restauradores como profissionais fixos do estabelecimento. “A restauração não para nunca.” As duas suítes imperiais, cada uma com 200 m² de espaço interno e 185 m² de terraço, não saem por menos de US$ 10 mil a diária e estavam ocupadas durante a visita da DINHEIRO ao hotel. Localizado no bairro de Carrasco, famoso por seus casarões e galerias de arte, e às margens do Rio da Prata, o hotel leva a bandeira Sofitel, uma rede hoteleira de alto padrão pertencente à francesa Accor, uma das gigantes do setor, com faturamento anual superior a US$ 7 bilhões.

Inaugurado em 1921, o empreendimento teve seu apogeu entre as décadas de 1930 e 1970, até sofrer lentamente uma deterioração e ser fechado em 1997. Antes disso, hospedara personalidades ilustres, como o cientista Albert Einstein e o poeta espanhol Federico García Lorca. Sua história se assemelha à do Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Os dois hotéis foram construídos e viveram seus melhores momentos praticamente na mesma época, além de terem sido proclamados como parte do patrimônio histórico de seus respectivos países.

No entanto, diferentemente da hospedaria carioca, que foi revitalizada no início dos anos 1990, o Casino Carrasco só voltou à boa forma em 2013, quase quatro anos depois que a Sofitel ganhou a licitação para assumir a operação hoteleira. A reforma, que teve início em 2009, mobilizou mais de 100 especialistas em restauração e 600 artesãos. O trabalho, comandado pelo arquiteto argentino Francisco López Bustos, teve um custo estimado em US$ 70 milhões e contou até com a ajuda dos moradores da vizinhança, que mostravam com depoimentos ou fotos guardadas nos álbuns de família como era o interior do prédio em sua época de ouro.

Os brasileiros parecem ter gostado do resultado. Basta cruzar o saguão do hotel ou as máquinas de jogos de azar do colorido cassino 24 horas lá instalado para ouvir o português por todos os cantos. O gerente Leite conta que hoje eles representam pelo menos um terço dos visitantes, à frente de argentinos, chilenos, europeus e americanos. A mesma situação se repete por todos os destinos turísticos do Uruguai, como Colonia del Sacramento, Punta del Este e até o intocado balneário de Cabo Polônio, que não conta sequer com luz elétrica, preferido por hippies e mochileiros.

De acordo com dados do governo do presidente José Mujica, o turismo no país corresponde a 13% do PIB, mas a expectativa é que fique entre 18% e 20% nos próximos dois anos. Muito disso se deve, é claro, aos brasileiros, que não apenas aumentaram a sua presença no turismo do Uruguai, como também cobriram a ausência dos argentinos, que deixaram de visitar o país com tanta frequência em decorrência da crise econômica sofrida do outro lado do Rio da Prata e agravada nos últimos dois anos.

Antes da restauração do Casino Carrasco, a capital uruguaia só contava com o Sheraton como opção de rede hoteleira internacional e era vista apenas como local de passagem de turistas, que optavam pela grande atração do país, a luxuosa Punta del Este, com seu icônico Conrad Resort & Casino (US$ 230 a diária por pessoa). “O Sofitel mudou a cara do turismo de alto padrão em Montevidéu”, afirma Leite. “Tanto é que, depois da nossa chegada, outras redes de peso, como Hilton, Marriott e Hyatt, estão vindo para cá.” Quem deve se hospedar por lá em breve é a presidenta Dilma Rousseff e outros 11 chefes de Estado que visitarão a cidade para o encontro da União das Nações Sul-Americanas (Unasur), que acontecerá em agosto deste ano.

 

Fonte: IstoÉ Dinheiro – 30/07/2014