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A 26 dias da Olimpíada do Rio, a Gamboa que Eduardo da Conceição avista é um rebuliço de ruas quase intransponíveis. Pouco lembra o abandono do passado, mas ainda não é o bairro renovado prometido. É que a região ainda convive com as obras de dois trajetos do VLT, que a prefeitura admite que podem não ficar prontas antes dos Jogos. Se não der tempo, entrará para uma lista de transformações que seguirão modificando a cidade após o evento esportivo. Algumas, como o BRT Transbrasil, já estavam previstas para terminar depois. Outras, como a estação Gávea do metrô, atrasaram. Todas, no entanto, são aguardadas com expectativa.

– A Praça Mauá e a Saúde já mudaram de cara. Está chegando a hora da Gamboa – afirma Eduardo, de 20 anos, vigia das obras do VLT. – A região vai deixar o esquecimento para trás. Já é outro lugar. Antigos moradores que viviam aqui, quando voltam, nem reconhecem mais. Tomara que mais melhorias aconteçam.

Morador da Providência, ele lembra que a região é um dos berços do samba, considerada parte da Pequena África carioca. Um patrimônio que Eduardo espera que seja redescoberto e valorizado. Por enquanto, a maior movimentação no bairro é dos operários, que reurbanizam ruas e erguem o centro de controle e a oficina do VLT. Um dos trajetos dos trilhos – já instalados – seguirá por trás da Cidade do Samba até a Praça da Harmonia e o Centro. Outro passará pelo velho Túnel da Marítima – que reapareceu na paisagem – até a Central do Brasil e a Praça Quinze. Segundo Alberto Gomes, presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (Cdurp), é certo que, na Olimpíada, o VLT funcionará da Rodoviária Novo Rio ao Aeroporto Santos Dumont, pela Binário, Rodrigues Alves e Rio Branco. Os caminhos pelas ruas internas da Zona Portuária, diz ele, não têm data para ser inaugurados. Caso passem do período olímpico, serão entregues até o fim do ano, enquanto o trecho da Avenida Marechal Floriano ficará para 2017.

– Gastamos mais tempo arrumando a infraestrutura de outros serviços do que a do VLT. Por isso, não posso afirmar quando a obra ficará pronta – diz Alberto, apostando na efervescência cultural da região para o processo de renascimento local.

Além de novas linhas do VLT, o Porto ainda deve ganhar, pós-Olimpíada, um shopping com hotel no Moinho Fluminense, prédios comerciais e, nos armazéns do Pier Mauá, o Youtube Space e centros gastronômicos. No fim do ano, a Cdurp também definirá o cronograma de revitalizações em vias como a Avenida Francisco Bicalho, a Rua do Livramento e trechos da Sacadura Cabral. Novas alterações estão previstas ainda com a abertura do BRT Transbrasil, que ligará Deodoro ao Centro pela Avenida Brasil.

Fora do plano de legado dos Jogos, o Transbrasil deve ser entregue em 2017, com sete terminais, 20 estações e perspectiva de 820 mil passageiros por dia. Por enquanto, de acordo com a Secretaria municipal de Obras, 46% do corredor de ônibus estão concluídos e, até a Olimpíada, serão 50%. As intervenções – com R$ 700 milhões ainda a serem aplicados – param temporariamente devido aos Jogos e são retomadas em setembro. Até o fim deste ano, devem estar prontos os trechos do Caju à Maré, entre os trevos das Missões e das Margaridas, e de Irajá a Guadalupe.

Ainda no tema mobilidade, o BRT Transolímpico (Deodoro-Recreio) terá só três estações funcionando durante os Jogos (Recreio, Parque Olímpico e Magalhães Bastos), exclusivamente para o público do evento e para a família olímpica. A operação completa seguirá um cronograma da Secretaria municipal de Transporte após as competições.

REFORMA DE ESTAÇÕES DE TREM

No quesito transporte sobre trilhos, a SuperVia pretende reformar a estação São Francisco Xavier até o fim de 2016, num programa de investimentos de R$ 376 milhões para reformular as paradas dos trens até 2020. Já no metrô, se cumprido o prazo de entrega do trecho olímpico da Linha 4 (General Osório-Jardim Oceânico), após os Jogos as preocupações se voltarão para a extensão do trajeto até a Gávea – prevista inicialmente para 2016, mas que, desde 2013, vem sendo adiada. O prazo agora é janeiro de 2018. No 1,2 quilômetro de túneis até lá, afirma o consórcio Linha 4 Sul, 42% das escavações estão concluídas.

O problema é que, por estar inadimplente, o estado não conseguiu aval do Tesouro Nacional para obter um empréstimo de cerca de R$ 1 bilhão do BNDES, do qual R$ 500 milhões seriam destinados à extensão do metrô até a Gávea. Um obstáculo que, não fosse a ajuda federal de R$ 2,9 bilhões ao Rio, teria posto em risco também a conclusão do trecho olímpico entre Ipanema e Barra.

Enquanto isso, o Tatuzão – equipamento usado para escavar os túneis – está estacionado no Alto Leblon. E a expansão da Linha 2 até a Praça Quinze soa como um projeto cada vez mais distante.

Incerto também é o futuro dos bondes de Santa Teresa, hoje em operação do Largo da Carioca ao Largo dos Guimarães. Dali ao Silvestre, a previsão da Secretaria estadual de Transportes é que as obras terminem até dezembro de 2017, com investimentos de R$ 125 milhões. Mas, na Rua Almirante Alexandrino, perto do Largo do França, o canteiro vazio preocupa.

– Há uns dois meses que não vejo ninguém por aqui – diz o morador Bené Pereira, de 66 anos.

Ainda no âmbito do estado, a Cedae diz que concluirá, após os Jogos, o saneamento da Restinga de Itapeba, legado olímpico atualmente com 40% das intervenções executadas, entre a Barra e o Recreio, perto da Lagoa de Marapendi.

AQUÁRIO, SÓ NO ÚLTIMO TRIMESTRE

Já à prefeitura caberá finalizar intervenções do Bairro Maravilha em 102 localidades nas zonas Norte e Oeste; readequar instalações olímpicas como a Arena do Futuro (casa do handebol), cuja estrutura será desmontada e aproveitada na construção de escolas em outra região; e remover os entraves à reforma e reabertura da Ciclovia Tim Maia.

A iniciativa privada também tem entregas a fazer. O Aquário Marinho do Rio, que estava previsto para antes da Olimpíada, agora deve ser aberto no último trimestre deste ano.

– As obras civis terminam este mês. Mas precisamos de pelo menos três meses para a adaptação das espécies aos tanques – diz Marcelo Szpilman. diretor-presidente do empreendimento.

Haverá novidades ainda na Marina da Glória, que encerra temporariamente suas atividades na terça-feira, para ser a base da vela olímpica, e reabre em 22 de setembro, com eventos, restaurantes e intervenções para criar uma esplanada de 36 mil metros quadrados perto da Baía de Guanabara.

– Assim que a Rio 2016 acabar, começamos o paisagismo. Sai o asfalto, entra o verde, com ciclovia. Nossa ideia é entregar o espaço, com novos ângulos do Rio, até dezembro – diz Gabriela Lobato, presidente da concessionária BR Marinas.

O QUE FICOU PARA DEPOIS

VLT do Centro

O PROJETO: Linhas que cruzam a área interna da Zona Portuária.

O NÓ: Previstas para os Jogos, as obras atrasaram, por entraves na infraestrutura das ruas da região.

PRAZO: Se não forem entregues em agosto, serão até fim do ano.

Transbrasil

O PROJETO: BRT entre Deodoro e o Centro, pela Avenida Brasil.

O NÓ: Extrapolará a atual gestão, ficando a cargo do próximo prefeito terminar a obra.

PRAZO: Conclusão e operação até o fim de 2017.

Metrô até a Gávea

O PROJETO: Ampliação da Linha 4 até a estação da Gávea.

O NÓ: Sem o financiamento do BNDES e com a crise do estado, pode faltar dinheiro para o projeto.

PRAZO: Governo diz que obra não está garantida nem para 2018.

Bonde de Santa Teresa

O PROJETO: Extensão até o Silvestre e o Largo das Neves.

O NÓ: Lentidão e falta de recursos, em tempos de crise, podem comprometer as obras.

PRAZO: Trajeto completo é previsto para dezembro de 2017.

Ciclovia Tim Maia

O PROJETO: Pista do Leblon à Barra da Tijuca.

O NÓ: Após queda de um trecho na Avenida Niemeyer, a ciclovia foi interditada pela Justiça.

PRAZO: Com suspensão das obras, não há data para sua reabertura.

AquaRio

O PROJETO: Aquário com 28 tanques marinhos no Porto.

O NÓ: Intervenções atrasaram. Inauguração esperará agora a adaptação das espécies ao lugar.

PRAZO: Inauguração no último trimestre de 2016.

Fonte: Jornal O Globo – 10/07/2016