Luz de sobra para inovar e ter sustentabilidade

A iniciativa de um belga que chegou ao Brasil em 2009 promete mudar a forma de consumir energia no Morro da Babilônia, no Leme. Morador da favela há quase quatro anos, Pol Dhuyvetter criou a Revolusolar, uma organização sem fins lucrativos para reunir voluntários e expandir seu projeto de sustentabilidade dentro e fora da comunidade. Para começar, 32 painéis fotovoltaicos, comprados por meio de um financiamento da Agência Estadual de Fomento (AgeRio), foram instalados no Babilônia Rio Hostel e na pousada Estrelas da Babilônia. A ideia é produzir iluminação limpa, gerando a tão sonhada economia na conta.

– Brasileiro não tem tradição de se juntar e agir. Ou aguarda ações do governo, ou as respostas de Deus. Se queremos melhorar de vida, temos que agir e procurar novos caminhos. Não é complicado – disse o estrangeiro, que aguarda a homologação da Light para ligar os aparelhos.

O novo sistema no Babilônia funcionará com um medidor bidirecional, que permitirá ao produtor da energia renovável consumir o que precisa e injetar o restante na rede da companhia. Quando o equipamento estiver funcionando plenamente, é possível que o usuário não dependa mais da rede elétrica.

ECONOMIA DE ATÉ 100%

No hostel, que tem nove quartos para até 29 hóspedes, espera- se economia de 80% na conta de luz durante o verão, podendo chegar a 100% no inverno. Segundo o proprietário, Eduardo Figueiredo, sua conta girava em torno de R$ 1.200 por mês. Ele chegou a fazer uma cotação em empresas especializadas e soube que o serviço sairia por R$ 65 mil. Mas, com a ajuda de Pol, comprou 20 placas fotovoltaicas por R$ 31 mil e, com o apoio de moradores da favela, instalou os equipamentos.

– Obtive resultado em todas as medidas sustentáveis que fiz aqui. Captação de água da chuva, teto verde, janelas para captar luz solar. As placas darão retorno a médio prazo.

Pol, que é proprietário do Estrelas da Babilônia, conta que o estabelecimento consome, por mês, R$ 1 mil em energia. Com R$ 21 mil, ele instalou 12 placas no imóvel. A intenção é que a experiência dos dois empresários sirva de exemplo para as famílias do Babilônia.

– Estamos mostrando como é fácil fazer um projeto assim. O Babilônia servirá de modelo – acredita Augustin Butruille, um francês que vive na favela e ajudou na instalação.

Empolgado com o projeto, Pol acredita que conseguirá levar o projeto a dez casas na comunidade ainda este ano. A ONG Viva Rio, por exemplo, estuda a possibilidade de instalar placas solares na Clinica da Família e na sede da Associação de Moradores do Morro da Babilônia.

Até dezembro do ano passado, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) registrou 1.731 conexões por fontes renováveis em todo o Brasil, sendo 1.675 fotovoltaicas. Atualmente, o Rio de Janeiro é o segundo estado com o maior número de instalações: 203, atrás apenas de Minas Gerais, com 333.

Professor de planejamento energético da UFRJ, Emílio La Rozere considera o país atrasado neste tema, mas vê com otimismo as novas iniciativas:

– Estamos no caminho certo, apesar de lento. Estamos atrasados, com pouco mais de 200 instalações num estado como o Rio.

Fonte: O Globo – 12/02/2016