imovel-expresso

Montar um prédio em cinco dias. Levar um imóvel inteiro para outro lugar. Aumentar a casa conforme a necessidade. Estas são apenas algumas das possibilidades que novos métodos construtivos estão criando para quem deseja economizar tempo e até dinheiro. Embora a cultura da alvenaria ainda seja forte no Brasil, arquitetos e empresas têm se empenhado em oferecer alternativas que se mostram cada vez mais viáveis.

A empresa Tecverde, de Curitiba, acabou de erguer o que classificou como o primeiro prédio em wood frame do Brasil. Foram 40 horas de trabalho para levantar três andares, cujas paredes foram feitas em uma fábrica por meio da tecnologia que combina materiais como madeira autoclavada (protegida contra apodrecimento e cupins), painéis de OSB (madeira prensada com resina) e chapas de cimento.

– Esse sistema existe há mais de cem anos e, em países como o Canadá, representa 90% das construções. No Brasil, não era muito valorizado porque o custo da mão de obra empregada na construção de alvenaria era muito barato. Mas, conforme isso foi mudando, as pessoas começaram a valorizar os novos métodos – afirma o sócio-fundador da empresa, Caio Bonatto.

A companhia foi criada em 2009 e já construiu mais de 85 mil m², entre imóveis populares e casas de alto padrão. Segundo Caio, as construções são cerca de 5% mais baratas do que as feitas pelos métodos mais tradicionais, sendo que levam até um quarto do tempo para ficarem prontas e produzem 85% menos resíduos.

– A gente monta uma casa de 50m² em duas horas – ilustra ele.

Aberta até o dia 20, a edição deste ano da Casa Cor no Rio mergulhou fundo nesse universo. No jardim da mansão que abriga o evento na Gávea, a casa de vidro de Gabriela Eloy e Carolina Freitas foi toda feita com estruturas metálicas, vidro e gesso acartonado. Após o fim da exibição, o espaço será desmontado e erguido de maneira permanente no escritório das arquitetas.

– Foram só dois dias para deixar a estrutura de pé – conta Carolina, que está usando princípios semelhantes no projeto de uma casa de serra em Itaipava. – Serão três módulos. Quando finalizarmos o primeiro, os donos já poderão habitá-lo enquanto terminamos os outros. O utro exemplo que vem da Casa Cor é o loft assinado pelo arquiteto Duda Porto. A estrutura de 30m² foi feita de aço estruturado com revestimento termoacústico, OSB, manta hidrofugante (para repelir água) e placa cimentícia (mais leves do que o cimento convencional). O interior foi coberto por madeira reaproveitada. Num projeto residencial, a casa fica pronta em dois meses e novos módulos podem ser acrescentados ao gosto dos moradores.

– É uma construção totalmente eficiente, com desperdício zero de materiais – afirma Porto. – Com orçamento a partir de R$ 190 mil é possível comprar e montar. Mas, por se tratar de um projeto muito adaptável, é preciso avaliar caso a caso.

Batizada de Cabanas, a criação estará disponível comercialmente a partir do próximo dia 15. A ideia é que sirva tanto para residências quanto para hotéis.

– Cerca de 80% das pessoas que procuram a gente têm terrenos em lugares maravilhosos e ainda não constroem por medo da obra. Agora, podem ver isso de maneira mais prática, e num projeto que não perde a sofisticação – diz Porto.

Na mesma mostra, o living gourmet de Alexandre Gedeon e Hugo Schwartz também será transportado ao fim do evento, para o escritório da dupla. O espaço de 70m² foi todo estruturado com vigas de aço que ficam à vista, madeira e vidro.

– Se fizéssemos pelo método tradicional, teríamos que quebrar tudo e jogar fora ao fim do evento – destaca Gedeon, sobre as vantagens do modelo. – E embora os materiais sejam mais caros, a construção é muito mais rápida. Então, esse orçamento acaba equilibrado pela economia com a mão de obra.

CONSTRUÇÕES EM BAMBU

Reflexões sobre novos métodos estarão entre os principais debates do Festival da Sustentabilidade, entre 11 e 15 de novembro, em Nova Friburgo. O evento reunirá referências internacionais, como o construtor e marceneiro alemão Jorg Stamm, que corre o mundo com suas criações de bambu, como a famosa Green School, em Bali. Em entrevista ao GLOBO, ele falou sobre o material.

– O bambu está disponível em muitos lugares, e o melhor é trabalhar com exemplares plantados próximos à área da construção, já que transportar varas de cerca de 20m é complicado. Pode-se usar a extensão total ou apenas a metade, em estruturas de dois ou três pisos – detalha ele, explicando que a força desse material é comparável à de um tubo de aço.

Para Stamm, levar esses métodos até equipamentos públicos pode inspirar toda uma comunidade. Foi o que aconteceu com uma escola erguida numa favela de Cali, na Colômbia.

– Inicialmente, a comunidade não recebeu bem. Mas hoje tem orgulho da escola de bambu, que recebeu prêmios e é um dos melhores colégios públicos da cidade – conta ele.

– É mais fácil ter adesão ao construir uma escola ou um centro comunitário bonito e agradável, porque as pessoas que participam da construção partem, por seus próprios métodos, para erguer casas das quais vão se orgulhar.

Fonte: Jornal O Globo – 06/11/2016