Hotéis investem no atendimento a pessoas com deficiências

Balcão de recepção com o dobro da altura de um cadeirante, falta de atendentes treinados na Língua Brasileira de Sinais ou sobre como mostrar instalações a um cego. Na cidade olímpica – e mais importante: paralímpica – ainda há provas a serem vencidas por pessoas com deficiências físicas e intelectuais ao fazerem check-in em um hotel. A acessibilidade das instalações avançou, dizem especialistas. As atenções agora estão voltadas para o atendimento.

– São clientes com necessidades específicas e que precisam ser atendidas para que aproveitem a estada. O treinamento é muito importante para que a comunicação seja a melhor possível. O aprendizado, que tem muito da relação humana, vem com a prática – explica a psicóloga Cristina Masiero, do Instituto Mara Grabilli, organização sem fins lucrativos que desenvolve projetos para melhorar a qualidade de vida de pessoas com deficiência.

Esta semana, Cristina coordenou um treinamento sobre atendimento a pessoas com deficiência no Rio, que reuniu representantes de 30 redes de hotéis associadas ao Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb), que promoveu o curso em parceria com a AccorHotels.

Na hotelaria, a presença desses visitantes ainda é tímida. Em 2014, representou 0,06% da ocupação no país, segundo dados do Fohb. Já no mercado carioca, em 2015, o resultado foi bem superior a essa média: 0,8%, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio (ABIH-RJ).

– Estamos nos adaptando, mas sabemos que as pessoas com deficiências terão dificuldade de chegar aos hotéis. É um processo de transformação da cidade também. E a Paralimpíada está ajudando neste ponto. Queremos ampliar a ocupação por esses hóspedes – diz Manuel Gama, presidente do Fohb.

AO MENOS 1 QUARTO ADAPTADO

De acordo com o último Censo do IBGE, de 2010, perto de um quarto dos brasileiros (23,9%) relatou ter algum tipo de deficiência. São cerca de 50 milhões de pessoas, destaca Cristina, sendo a maioria com mais de 15 anos. Ou seja, em idade de consumir.

– E vão viajar. E a hotelaria precisa saber recebê-las – diz.

A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei n º 13.146/ 2015), de julho do 2015 e válida desde o início deste ano, determinou que hotéis, pousadas e similares deverão contar com 10% dos quartos, com mínimo de um, acessíveis, o dobro da exigência anterior. Os hotéis já em operação terão 24 meses para se adaptarem.

– Estamos atentos à demanda e nos preparando para atender bem. Mas o número pedido por lei é excessivo frente à demanda atual. Em todo o Brasil, será preciso investir perto de R$ 1 bilhão para fazer as adaptações – destaca Gama.

O Ministério do Turismo se dispõe a articular linhas de crédito com instituições financeiras públicas, como Caixa, Banco do Brasil e BNDES, para facilitar a adequação de unidades.

Em setembro, o Rio será palco da Paralimpíada, recebendo 4.350 atletas de 176 países.

Tradicionalmente, o evento tem 1% do público de pessoas com deficiência e outros 2% com mobilidade reduzida, diz Augusto Fernandes, responsável pela acessibilidade dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.

Levantamento feito pelo comitê Rio 2016, três anos atrás, mostrou que o Rio tinha pouco mais de 2% da oferta de quartos acessíveis. As melhores instalações estão nos novos hotéis, sobretudo na Barra, onde a expansão foi mais agressiva.

– Quando a infraestrutura não atende, tem de ser compensada com atendimento. Se o apoio para toalha no banheiro é alto e o hóspede é cadeirante, a camareira precisa estar preparada para deixar as toalhas ao alcance dele – exemplifica Fernandes, que é cadeirante. – É uma grande oportunidade de melhoria.

Lopes, da ABIH-RJ, sublinha que os treinamentos não são direcionados a Paralimpíada. Segundo a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, desde 2008 os hotéis são obrigados por lei a treinar funcionários para a comunicação com pessoas com deficiência, principalmente nos serviços ligados a quarto, restaurantes e recepção.

 

Fonte: O Globo – 18/02/2016