Há lugares no Rio que proporcionam verdadeiras viagens ao passado, como Santa Teresa. Mas um passeio pela Zona Portuária, uma das áreas mais antigas da cidades, é uma chance de ver um encontro entre o passado e o futuro. Andar por ali é como assistir a uma nova etapa da história do Rio ser desenhada. Sobre um terreno que abrigou trapiches e cais, pelo menos oito grandes empreendimentos privados, entre hotéis e prédios comerciais de arquitetura moderna e com predominância de vidros nas fachadas, estão com obras em andamento. Essas intervenções fazem parte de um grupo de 15 projetos que, de acordo com o Fundo de Investimento Imobiliário Porto Maravilha, gerido pela Caixa Econômica Federal (CEF), já foram negociados para a região.

As mudanças na paisagem são cada vez mais claras. Perto da Rodoviária Novo Rio, numa rua nova e ainda sem nome, fica uma das obras que mais se destacam na Zona Portuária: uma torre de concreto de 32 andares que pode ser vista da Avenida Francisco Bicalho e do Viaduto do Gasômetro. Ela abrigará dois hotéis, o Holiday Inn e o Holiday Inn Express. O empreendimento da Odebrecht Realizações Imobiliárias contará com 594 quartos, que serão colocados à venda como unidades autônomas no próximo mês, numa operação que deverá envolver R$ 300 milhões. A previsão de conclusão é 2016.

Também em novembro, começará a funcionar o primeiro edifício privado do Porto Maravilha: o Port Corporate, que já está em processo de locação dos 22 andares e salas. A primeira empresa a ocupar o endereço, a partir do mês que vem, será a Tishman Speyer, responsável pelo projeto. A mesma companhia iniciou a construção, na Via Binário, de uma torre projetada pelo badalado arquiteto inglês Norman Foster, autor da cúpula de vidro do parlamento alemão. As obras estão em fase de fundação. A Tishman ainda tem um outro terreno na região, perto do Gasômetro, onde lançará mais um empreendimento.

MAIS 20 PROJETOS EM NEGOCIAÇÃO

Os maiores projetos da Zona Portuária são viabilizados por meio de Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs), arrematados em leilão pela CEF em 2011. A compra desses certificados (foram emitidos 6,4 milhões) permite a construção de prédios com maior gabarito, chegando a 150 metros de altura na Avenida Francisco Bicalho.

– Hoje, temos 15 negócios firmados para o Porto, que representam um terço de todas as Cepacs disponíveis no começo da operação. Esses projetos vão resultar na construção de 1,3 milhão de metros quadrados de área privativa. E temos outros 20 empreendimentos em negociação, que vão consumir mais um terço do estoque total. O outro terço ainda está disponível – informa o gerente de fundos para o setor imobiliário da Caixa, Vitor Hugo, explicando que o estoque total equivale a um potencial construtivo de 4,5 milhões de metros quadrados.

A Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio (Cdurp) mapeou 123 empreendimentos previstos, sendo 51 residenciais, 38 comerciais, oito culturais, sete de hotelaria, seis institucionais e 13 de outras características. Há, nesse pacote, projetos em fase de aprovação e edifícios já em construção. Um dos maiores planos para a região, ainda em fase de aprovação, será a ocupação do do terreno do Gasômetro, uma área de um milhão de metros quadrados que abrigará prédios residenciais e comerciais, shoppings e hotéis.

Apesar da velocidade dos anúncios para a região, o ritmo dos projetos ainda é lento. A culpa, afirmam empresários envolvidos com negócios na Zona Portuária, é da retração da economia do país. Presidente da Patrimóvel, Rubem Vasconcelos diz que o mercado imobiliário deve fechar o ano com um total de vendas 30% menor que o registrado em 2013. Os investidores, ressalta ele, estão temporariamente parados, aguardando o fim do processo eleitoral.

Até agora, apenas dois empreendimentos, da Odebrecht, estão comercializados. Em três dias, em junho de 2013, foram vendidos os 450 quartos de um outro prédio que abrigará dois hotéis (das bandeiras Ibis e Novo Hotel) e as 330 salas de uma torre no complexo Porto Atlântico Leste, na Avenida Professor Pereira Reis. Os dois edifícios e um terceiro em construção no mesmo terreno ficarão prontos até o primeiro semestre de 2016. Daqui a dois meses, a Odebrecht começará as obras de mais três torres, que integrarão o Porto Atlântico Oeste.

Somente um empreendimento residencial está saindo do papel: o Porto Vida, próximo à Rodoviária Novo Rio, que foi freado pela decisão do comitê organizador dos Jogos de 2016 de tirar dali as vilas de mídia e de árbitros das Olimpíadas. O projeto e o cronograma estão sendo revistos.

Rubem Vasconcelos afirma que o tão falado boom da Zona Portuária ocorrerá a partir de 2016, com as obras de infraestrutura e do VLT prontas:

– Os projetos vão alavancar a partir das Olimpíadas. Com o palco pronto, ganharão uma velocidade maior do que a de hoje. A ocupação do Porto será um processo de dez a 15 anos.

Com o metro quadrado para espaços comerciais avaliado em R$ 15 mil (o mesmo valor de Botafogo, mas ainda abaixo dos melhores pontos do Centro, onde custa R$ 20 mil), a Zona Portuária, apostam investidores, deve atrair principalmente empresas já instaladas na cidade.

– O Porto não vai ser ocupado por novas empresas que vêm para o Rio, como se pensava lá atrás. Há uma demanda grande no Rio de empresas hoje instaladas em prédios antigos, com filas imensas nos elevadores, e que precisam se dividir em quatro ou cinco endereços – avalia Rodrigo Caldas, vice-presidente da construtora Concal, que iniciou o processo de aprovação de um empreendimento misto na Francisco Bicalho, com quatro torres.

Para Stefan Ivanov, CEO do consórcio que vai lançar as Trump Towers (ainda no papel), o Porto Maravilha ocupa um vácuo de espaços corporativos de alto padrão na cidade:

– O espaço imobiliário classe AAA no Rio representa uma parte muito pequena do mercado: menos de 10%, sendo que e o estoque corporativo está cada dia mais antigo e ultrapassado, com idade média de mais de 44 anos. Não há lugar mais lógico para esses novos empreendimentos do que o Porto.

 

Fonte: O Globo – 11/10/2014