Os investidores brasileiros buscam cada vez mais imóveis em Londres. Levantamento feito pela consultoria imobiliária britânica Knight Frank mostra que as consultas de potenciais compradores do Brasil cresceram 115% nos últimos 12 meses. Esse foi o maior aumento entre os países emergentes.

O estudo diz que esse interesse é uma resposta à maior aversão ao risco gerada pela política monetária nos Estados Unidos e menor crescimento da China. Investidores estariam em busca do “porto seguro” representado pelo aquecido mercado imobiliário da capital britânica, diz a pesquisa.

A aversão ao risco e a desconfiança com países emergentes não atingem apenas investidores estrangeiros. Os brasileiros também estão migrando para opções mais seguras, avalia a consultoria britânica.

Uma das maiores do segmento imobiliário no Reino Unido, a empresa tem notado forte aumento nas consultas de clientes de mercados emergentes interessados em investir em imóveis na cidade. Para a consultoria, o fenômeno é explicado pela busca de um investimento seguro em resposta à atual fragilidade do mercado financeiro.

“Tem ocorrido um recente aumento do interesse por imóveis residenciais em Londres de compradores em mercados emergentes diante da instabilidade política e econômica crescente em várias partes do mundo em desenvolvimento”, explica o consultor da Knight Frank, Tom Bill. “A decisão do Federal Reserve (o banco central dos EUA) de iniciar a retirada dos estímulos econômicos no ano passado e a desaceleração da economia da China geram aumento da volatilidade nessas regiões emergentes”, completa.

Tal busca por um investimento mais sólido é liderada pelos brasileiros, cujo volume de consultas de potenciais clientes mais que dobrou nos 12 meses encerrados em janeiro. Em seguida, aparecem Argentina e Ucrânia, ambas com alta de 67%. Entre os demais, também há aumento da demanda entre os “Cinco Frágeis” – emergentes que estariam mais expostos à mudança do cenário econômico global. Segundo a Knight Frank, consultas cresceram 10% entre investidores da Indonésia e Turquia, 9% da África do Sul e 3% da Índia. Contatos da China também tiveram alta expressiva: 31%.

Na média, as consultas com origem em todos os mercados emergentes cresceram 44%. O foco desses investidores está especialmente no segmento de luxo e a procura por imóveis londrinos com valor de mais de 15 milhões de libras esterlinas (cerca de R$ 60 milhões) saltou 76%, mostra o estudo da imobiliária que atua há mais de cem anos na capital britânica. A empresa não informa o número total de consultas e o volume de negócios efetivamente fechados.

Estrangeiros. Não são apenas os emergentes que prestam atenção ao mercado imobiliário britânico. Segundo dados coletados pelo banco BNP Paribas, investimentos no setor imobiliário na região metropolitana de Londres alavancaram 24 bilhões de libras (cerca de R$ 95 bilhões) no acumulado em 18 meses até meados do ano passado. A maior parte desse dinheiro – 64% do total – foi investida por estrangeiros. Nos últimos anos, clientes de países emergentes especialmente russos, chineses e árabes passaram a ser comuns nas grandes transações imobiliárias em Londres.

Um bom exemplo é o maior empreendimento imobiliário em construção em Londres. O projeto Battersea Power Station é liderado por um consórcio de empresas e investidores da Malásia. Ao total, serão investidos 8 bilhões de libras (mais de R$ 30 bilhões) em um grande complexo que terá mais de 3 mil residências que custam até 6 milhões de libras (R$ 23 milhões), hotel, área comercial, centro de convenções e lazer e que só ficará pronto em 2024. O projeto fica na área ocupada pela antiga usina elétrica, construção com grandes chaminés e que ficou famosa na capa do disco Animals, da banda Pink Floyd.

Preços

A procura dos estrangeiros por imóveis ajuda a explicar o aumento dos preços do mercado. Segundo o escritório de registros imobiliários do governo britânico, o preço médio dos imóveis negociados na capital britânica alcançou 403,7 mil libras (R$ 1,6 milhão) em dezembro do ano passado, o primeiro mês com valor médio acima de 400 mil libras na história. Nos acumulado em 12 meses, a alta dos preços foi de 11,2%. Na comparação com agosto de 2008 – um mês antes do estouro da crise, o valor médio das residências já está 23,5% mais caro.

Fonte: O Estado de São Paulo – 13/02/2014