De braços abertos

O Rio chega à Olimpíada com novos museus, equipamentos para eventos e atrações culturais, além de parque hoteleiro e gastronomia renovados. Segundo o presidente da Embratur, Vinicius Lummertz, os Jogos levaram à aceleração da demanda por obras realizadas em curto prazo, mas de efeito duradouro:

– A cidade não recebia há décadas investimentos parecidos. Em mobilidade, na repaginação do Centro da cidade. Esse ciclo se fecha com os Jogos, com investimentos do setor privado, com remodelação de hotéis, em especial na Barra. Mas o modelo escolhido para a Barra, em alguns aspectos essencialmente rodoviarista, tem que ser compensado com estratégias semelhantes ao que se vê na Flórida. Desenvolvendo mais pontos de encontro, distritos de arte, calçadões que possibilitem caminhadas. Isso daria uma dimensão em uma escala mais humana ao bairro.

Ao longo de dois anos, a oferta hoteleira do Rio de Janeiro saltou de 35 mil quartos (em todas as categorias de hospedagem, de motéis a luxo, incluindo apart-hotéis) desde o início de 2015, para 60 mil quartos, entregues até os Jogos. O dobro da exigência feita pelo COI. Mas há um temor para o futuro: o risco da superoferta, admite o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado do Rio de Janeiro (ABIH-RJ), Alfredo Lopes:

– O caderno de encargos para a candidatura da Olimpíada exigia 30 mil quartos, o COI nos sinalizou que seriam necessários mais dez mil, no mínimo. Chegamos a esse número, mas o mercado mudou, e os empresários já tinham tomado suas decisões. Temos um grande desafio daqui para frente, principalmente na Barra da Tijuca, onde houve uma maior expansão. O bairro, que não tem tradição hoteleira reconhecida, concentra muitos hotéis de luxo. É preciso criar o destino, coisas como o Distrito da Bossa Nova, com shows.

Para o executivo da hotelaria, é necessário aproveitar a exposição positiva que os Jogos vão proporcionar:

– Vamos ter um mês de mídia gerada pelo evento. Precisamos aproveitar. Pelo Rio passam 34% dos turistas internacionais que o Brasil recebe. O total está em seis milhões (por ano), mas é pouco. Deveríamos ter 18 milhões.

É exatamente esse o número de visitantes que Londres, sede dos Jogos de 2012, recebe hoje – cerca de 20% a mais do que quatro anos atrás, quando registrou 15,4 milhões. Em sua oferta hoteleira, a capital britânica conta com 198 mil quartos, conforme o censo do VisitEngland (2014). Guardadas as devidas proporções, a esperança no aumento do fluxo de turistas nos próximos anos é o que move a hotelaria carioca:

– Historicamente, há aumento de até 25% no número de turistas nos cinco anos posteriores a grandes eventos, como Jogos Olímpicos. Contamos com isso.

Transformar essa exposição em saldo positivo envolve um trabalho de promoção, diz Lummertz:

– O Rio tem seu simbolismo. Trabalhamos com o Rio C&VB (Convention and Visitors Bureau) na divulgação em feiras, eventos e viagens para a imprensa. Nossa meta é acelerar a comercialização, através de parcerias e encontros de negócios. É preciso manter a visibilidade para que o que tem sido feito não seja esquecido.

Mas os hotéis da cidade têm registrado queda nas taxas de ocupação – de 79%, em 2011 (recorde desde 2000), para 66%, em 2015:

– Isso também é reflexo do aumento da oferta e das crises. Depois da Copa, houve crise interna, internacional – destaca Lopes, lembrando que o mercado doméstico responde por 70% e o internacional por 30% da ocupação dos hotéis cariocas na alta temporada (carnaval etc).

Junte-se a isso a oferta de aluguéis de residências – mas que, diz Lopes, “não assustam”. Segundo o Airbnb, parceiro oficial do Rio 2016, a cidade já é o quarto mercado no mundo em aluguel de casas e apartamentos, atrás de Paris, Nova York e Londres. A comunidade de hospedagem alternativa confirmou mais de 55 mil hóspedes em lares cariocas para os Jogos. Em outras empresas do gênero, a oferta está em trono de 3.200 residências (Booking,com) e 3.653 (AlugueTemporada).

A realização de eventos contribui para reduzir o impacto da sazonalidade do turismo de lazer. A melhoria da infraestrutura para eventos – profissionais ou culturais e artísticos – ajuda a alavancar os resultados:

– Temos arenas prontas, centros de convenções. Uma oferta que nos permite realizar três grandes eventos simultâneos, na Barra e no Porto Maravilha. Temos um calendário robusto, com dois eventos internacionais por mês em média. O setor de petróleo, mesmo com problemas, é forte. Acredito na retomada – diz Lopes.

A competitividade da cidade como destino turístico esbarra também na qualidade dos serviços. Isso implica esforços na melhoria da qualidade da mão de obra. Uma parceria entre RioSolidario, Carvalho Hosken, Senac RJ, Hilton Barra e ABIH-RJ resultou na formação de 76 alunos de hotelaria. Desses, 36 foram contratados pelo Hilton Barra, ao lado do Parque Olímpico.

Fonte: Jornal O Globo – 29/07/2016