Cláudio Hermolin, presidente da Ademi

1 – O mercado imobiliário do Rio de Janeiro talvez tenha atravessado o período mais crítico da sua história recente. É possível acreditar que o pior tenha ficado para trás? Se sim, quais dados apontam para isso?

Resposta: No segundo semestre, o mercado imobiliário carioca já deu sinais de recuperação. Além dos números apontarem bairros da Zona Oeste, como Jacarepaguá e Recreio como os que mais lançaram e venderam imóveis este ano no Rio, recentes lançamentos nas Zonas Sul e Norte aumentaram a confiança do mercado. Na Tijuca, por exemplo, a RJZ Cyrela vendeu, 90% das 139 unidades do Move Tijuca, 80% residenciais e 20% para investimento, com ticket médio de R$ 750 mil. Já no Flamengo, o Ícone Parque Residência, da Sig Engenharia e Opportunity, teve 75% das 210 unidades vendidas ainda no pré-lançamento. O ticket médio foi de R$ 1 milhão. Também no Flamengo, a RJZ Cyrela lançou o Rio By YOO, o antigo Morro da Viúva, que conseguiu atingir 80% de vendas das unidades disponíveis. Por tudo isso, acredito sim que o pior ficou para trás.

2 – Quais fatores podem impactar positivamente o mercado daqui para frente? Acredita que com um novo presidente no país as chances de alavancagem do setor imobiliário sejam possíveis?

Resposta: A expectativa é de que 2019 seja um ano melhor para o mercado imobiliário. A velocidade média de venda de lançamentos é um indicador importante da tendência do mercado. Em 2017, a velocidade de vendas de lançamentos esteve na ordem de 43%. Já em 2018, está em 70%.

3 – O sr. enxerga o mercado de imóveis de volta aos patamares de 2012 / 2013?

Resposta: O mercado imobiliário trabalha com ciclos longos e com uma retomada lenta. Mas acredito que 2019 será melhor do que 2018 e 2017. Mas, provavelmente, ainda estará aquém dos melhores períodos recentes que foram entre os anos de 2010 e 2013.

4 – O texto-base do projeto de lei 68/2018, que fixa direitos e deveres das partes nos casos de rescisão de contratos de aquisição de imóveis em regime de incorporação imobiliária ou loteamento, foi aprovado no Senado. Esse projeto é o que o mercado esperava? E qual a importância dele para o desenvolvimento do setor nos próximos anos?

Resposta: Podemos dizer que o distrato é o calcanhar de Aquiles do mercado imobiliário. A questão envolve incorporadoras, construtoras, consumidores, advogados, bancos, enfim, toda a cadeia produtiva do setor. É importante que haja uma legislação à altura do mercado e da população. Já houve a aprovação do texto base no Senado e o projeto volta à Câmara dos Deputados. A expectativa é de que, no fim, haja um consenso favorável aos consumidores e empresas.

5 – Para além de todas as questões políticas e econômicas, o setor imobiliário tem passado por algumas mudanças significativas no que diz respeito ao comportamento do consumidor. Hoje, os imóveis compactos são os grandes queridinhos da sociedade. Como o sr. enxerga essa tendência? Acredita que ela veio para ficar?

Resposta: Percebemos várias mudanças no comportamento, principalmente do comprador jovem e uma delas é que ele não quer um imóvel grande para morar ou um investimento de custo e demanda alta. Mas, para qualquer comprador, o tamanho do imóvel não importa mais do que a localização e a qualidade de vida.

6 – Em termos de financiamento, temos algumas notícias positivas para o setor, como o aumento do teto para utilização do FGTS. Em contrapartida os números do desemprego ainda assustam muitos consumidores. Como as empresas imobiliárias devem se comportar equilibrando esses dois fatores?

Resposta: O novo teto para financiamento da casa própria foi uma boa notícia para o mercado em geral, mas os resultados só começarão a ser sentidos no ano que vem. A economia como um todo tem dado sinais de recuperação, com indicadores que indicam uma melhora gradual. O mesmo vai acontecer no mercado de trabalho, só que, provavelmente, de forma mais lenta.

7 – Falando sobre segurança pública, as UPPs foram importantes para dar sustentação ao desenvolvimento imobiliário em locais antes tomados pelo crime. Essa política infelizmente foi deixada de lado. A segurança pública será um tema muito cobrado dos próximos governos federal e estadual nos próximos 4 anos, pois foi plataforma nas candidaturas. Quais as perspectivas do nosso setor quando o assunto é esse? É possível acreditar numa melhora significativa?

Resposta: Essa questão de segurança pública é crucial para o setor imobiliário, pois está ligada diretamente à decisão de compra do consumidor e também à decisão de investimento das incorporadoras. No Rio de Janeiro, a situação chegou ao seu limite e tem prejudicado não só o setor, como a sociedade em geral. Mas estamos otimistas quanto ao futuro.

8 – Qual a importância dos corretores de imóveis nesses próximos anos para uma recuperação imobiliária e qual recado o sr. daria aos profissionais da intermediação imobiliária sobre as perspectivas do setor?

Resposta: Temos mudanças no setor imobiliário e até a forma de trabalhar evolui a cada dia com o impacto da tecnologia, por exemplo. A parceria entre as imobiliárias e os corretores, que são os nossos associados, segue firme. Os corretores são fundamentais para o setor e, quanto mais afinados estivermos, mais positivos serão os resultados. E todos nós esperamos que 2019 seja um ano muito melhor para todos.