Depois dos “prédios verdes”, chegou a vez da “vizinhança verde”. Se as certificações Leed (Leadership in Energy and Environmental Design, espécie de atestado de respeito ao meio ambiente) começaram a aparecer em construções brasileiras em 2004, agora, dez anos após, a busca é pelo selo de Desenvolvimento de Bairros, concedido a empreendimentos com capacidade de transformar o entorno.

O primeiro a receber esse atestado na América Latina é o Ilha Pura, bairro planejado que está sendo construído em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio. Há registro também do Parque da Cidade, conjunto de 13 torres, entre residenciais, comerciais, hoteleiras e shopping center, em construção em um terreno de mais de 80 mil m2 na Chácara Santo Antonio, zona sul de São Paulo. E, conforme o Estado apurou, outros quatro empreendimentos estão na fila – mas os processos correm em sigilo.

O Ilha Pura terá como primeiros moradores (temporários) os 18 mil atletas e integrantes de comissões técnicas que estarão no Rio para participar da Olimpíada e da Paralimpíada de 2016, a serem realizadas de 5 a 21 de agosto e de 7 a 18 de setembro, respectivamente. Depois do evento, os 3.604 apartamentos, distribuídos por 31 edifícios em 7 condomínios, receberão eventuais reparos e a pintura definitiva e, a partir do primeiro semestre de 2017, serão entregues aos compradores.
Os apartamentos têm de dois a quatro quartos, com tamanhos que variam de 77 m2 a 227 m2, e custam a partir de R$ 670 mil. Embora a obra tenha começado no segundo semestre de 2012 e já esteja 55% concluída, a venda começou em 11 de outubro passado. Em 1.º de março de 2016 todos os prédios serão entregues ao Comitê Organizador da Olimpíada, que vai devolvê-los após a Paralimpíada.
A certificação Leed para Desenvolvimento de Bairros foi conquistado pelo Ilha Pura após a avaliação de 110 itens do empreendimento relativos à sustentabilidade. Os prédios terão lâmpadas de baixo consumo, vidros especiais (para deixar o ambiente mais claro e barrar a incidência do sol), aquecedores solares e telhado verde.
O prédio terá um parque de 70 mil m2, ciclovia, equipamentos de ginástica em áreas comuns, incentivo ao uso de bicicletas elétricas e um centro comercial. “Haverá mercado e outros serviços do cotidiano, evitando que o morador precise pegar o carro para fazer compras ou cortar o cabelo, por exemplo. Já as ciclovias e os equipamentos de ginástica são um incentivo à prática de esportes”, diz o diretor geral do Ilha Pura, Maurício Cruz Lopes.
Na construção também foram adotadas medidas de respeito ao ambiente. A instalação de duas centrais de produção de concreto na área de obras evitou 100 mil viagens de caminhão que seriam necessárias para buscar o produto em outras regiões. Cerca de 80% do entulho produzido foi reaproveitado ou reciclado. A água usada em torneiras nos vestiários dos operários foi reaproveitada.
Entorno. No caso paulistano, a previsão de entrega total do Parque da Cidade está mais distante – 2019 ou 2020. Mas as duas primeiras torres devem funcionar a partir do fim de 2015.
As preocupações com o entorno estão em todo o projeto. O Parque da Cidade, cheio de ciclovias – uma malha que se conectará à da cidade, no caso, à da Marginal do Pinheiros -, terá 90% de sua área livre de gradis. “E o conceito todo, de uso misto, também aproxima os usos e as pessoas, incentivando transportes alternativos, caminhadas, bicicletas”, diz o arquiteto Luiz Felipe Aflalo Herman, do escritório Aflalo e Gasperini, responsável pelo projeto.
Estimativas do mercado indicam que construir um empreendimento verde custa de 4% a 6% mais do que um convencional. Porém, os ganhos não são só ambientais. “Um prédio do Parque da Cidade terá economia mensal de 60% na conta de água e de 20% na de luz”, diz Herman. “São só alguns exemplos de como o investimento se paga fácil.”

Fonte: O Estado de S.Paulo – 08/11/2014