Diretor do Senseable City Lab no Massachusetts Institute of Technology (MIT), o arquiteto italiano Carlo Ratti fala sobre como a tecnologia pode melhorar a vida nas grandes metrópoles. Autor da expressão “cidades fluidas”, ele apresentou suas ideias segunda-feira, no Encontros O GLOBO, na Casa do Saber, na Lagoa, e na terça, no Arq. Futuro, no Teatro Adolpho Bloch, na Glória

O que é uma cidade fluida?

Uma cidade fluida é quando recebemos informações sobre a nossa cidade em tempo real e, assim, você tem acesso a uma visão dinâmica sobre o que acontece o tempo inteiro. As cidades sempre estiveram em movimento, mas, no passado, era muito difícil captar isso. Hoje, podemos entender muito melhor o que acontece nas cidades e seus fluxos. E esse fluxos podem ser de pessoas, dos carros, de energia… Até fluxo de água, o que venho estudando agora.

Como reunir essas informações e transformá-las em melhorias para as cidades?

Um dos pioneiros do planejamento urbano chamado Élisée Reclus escreveu que duas coisas eram importantes: pesquisa e planejamento. E é isso que fazemos. Nesse caso, há projetos como o táxi compartilhado, em que cruzamos os dados de pessoas que querem se deslocar pela cidade e vemos quem pode sair de um ponto e buscar outro passageiro no caminho. Há sistemas de carros compartilhados também. Ou ainda chips que podemos instalar no lixo para saber para onde ele vai, ou até drones que sirvam de guias em locais públicos e levem pessoas até seus destinos.

Mas não corremos o risco de perdermos a interação humana?

A interação humana é muito importante, é claro, e justamente porque ela é importante e especial que você quer tê-la em momentos que realmente signifiquem algo. Tempo de qualidade. Ou seja, a tecnologia pode liberar o seu tempo para que ele seja usado em interação com qualidade. A tecnologia é um meio, uma ferramenta. O importante é o que você quer fazer com ela.

Como desenvolver tecnologias para cidades com culturas tão diversas?

A tecnologia é adaptada para cada cultura, desenvolvida de formas diferentes. Introduzir novas tecnologias é como introduzir mutações na seleção natural da espécie. Você vê culturas que abraçam aquela mudança e outras que não. Mudando de um ambiente para o outro, através da observação.

O quão longe estamos dessa nova realidade tecnológica?

Acho que isso está acontecendo agora. Um exemplo é a enorme quantidade de aplicativos que estão sendo desenvolvidos para smartphones. Não é futuro, é o presente.

Um dos seus principais estudos atualmente é a água. Por quê?

Porque é um fluxo muito importante. A água vem sendo usada há muitos anos como um ingrediente lindo para a arquitetura, mas venho pesquisando como podemos criar novos meios para ela. Como podemos monitorar a qualidade da água através de sistemas novos, como drones que medem essa qualidade, se é segura ou não…

Os novos arquitetos são diferentes dos antigos arquitetos?

São. Hoje podemos usar a tecnologia para criar novos efeitos fluidos, novos repertórios de formas e meios de interação das pessoas com o ambiente. Mas, no final, o que importa de verdade é o lado humano da arquitetura. Isso não muda nunca.

 

 

Fonte: O Globo, Catharina Wrede – 28/05/2014