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Em meio às más notícias para o meio ambiente, como o possível cancelamento do projeto de dragagem das lagoas da região, o morador da Barra tem pelo menos um motivo para acordar de bom humor hoje, Dia Mundial do Meio Ambiente. Até o fim do ano, nos tetos das casas e nas praias, a visão de painéis fotovoltaicos – ou placas geradoras de energia solar – se tornará mais comum. A estimativa é que eles estarão presentes em pelo menos 40 dos 98 quiosques da Barra e do Recreio. Nos parques da região, a energia limpa já é realidade. Enquanto isso, nas residências, desde março se tornou mais fácil instalar o sistema.

Há anos os quiosqueiros da Barra e do Recreio aguardavam uma reforma nos seus estabelecimentos. Após brigas judiciais e diversas propostas da concessionária Orla Rio, a prefeitura autorizou as obras. Enquanto trabalha em um contêiner provisório, Rosana Lameirinhas, presidente da Coopquiosque, cooperativa que representa os quiosqueiros da orla da cidade, espera seu novo espaço, equipado com placas fotovoltaicas, ficar pronto.

– Estamos todos com grande expectativa. Com os novos quiosques, o faturamento deve melhorar – diz Rosana. – E as placas vão ajudar a diminuir os gastos. A energia elétrica está muito cara.

Com isso, os quiosques vão entrar em uma lista crescente de estabelecimentos comerciais, residências e espaços públicos que são alimentados por energia solar na região. A tradição da Barra como polo gerador de energia limpa remonta à instalação do Parque Natural Municipal da Prainha (PNM), em 2001. Por questões estruturais, toda a energia gerada no local precisa vir dos painéis. Os outros três grandes parques da regiplo. ão, o Chico Mendes, o Bosque da Barra e o Parque de Grumari, são parcialmente alimentados com energia solar. Para Alexandre Chagas, gestor do Parque de Grumari, aproveitar a melhor a luz natural poderia ser uma solução para a região como um todo, desde que usada como complemento à energia elétrica tradicional, que vem pelo sistema da concessionária – no caso do Rio, a Light.

– Todos os lugares deveriam ter sistema duplo. Assim, não se sobrecarrega a matriz energética. O nosso modelo chama a atenção; as pessoas costumam nos perguntar como funciona – diz.

A complementação é uma necessidade, diz Chagas. Ele conta que, em semanas nubladas, pode haver quedas de luz no PNM, onde também fica a sede do Parque de Grumari. Mas o fato de haver poucos eletrodomésticos no local ajuda na economia:

– Só temos um micro-ondas, que usamos pouco, e uma geladeira. Não temos chuveiro elétrico, por exemNo geral, dá supercerto. O pessoal também usa a energia com parcimônia; já existe essa conscientização.

Como não há residência com energia elétrica na Prainha, o parque já foi concebido com essa proposta de captar energia solar, explica Abilio Fernandes, gestor do PNM:

– Nos outros parques da cidade, existe o sistema inteligente. Ou seja, quando acaba o sol, entra a energia elétrica para compensar. Conseguimos armazenar energia solar para cerca de três dias, mas também estamos querendo adotar esse modelo.

Nos quiosques da Barra e do Recreio, o sistema será compartilhado, mas na Prainha os únicos dois quiosqueiros não têm essa opção. José Alla, proprietário do Soul Prainha Rio, usa o combo de placas solares com uma bateria para conseguir manter a operação diária.

– Se ficar nublado ou chover, tenho energia para cerca de dois dias por meio da bateria – conta ele. – Dá até para ver TV, mas, se fico sem luz, perco a configuração do sinal.

Alla instalou seu equipamento há três anos. Gastou cerca de R$ 25 mil:

– O mais caro foi a bateria, mas não dá para viver sem ela. Preciso de um suporte.

Alla tem pelo menos a sorte de estar em uma das melhores áreas do Rio para se aproveitar a luz solar. Maurício Ribeiro, diretor da Green Solar, empresa de soluções sustentáveis na área de energia, explica que Barra da Tijuca, Recreio e Jacarepaguá são locais ideais para a instalação de painéis:

– A Barra tem muitos condomínios de casas, e os telhados são ótimos locais para a instalação de placas solares. Há também muitos condomínios de prédios com grandes áreas entre eles. Ou seja, há espaço para instalar o sistema e ratear a economia pelo condomínio.

O especialista compara a região a Copacabana:

– Lá é o contrário. Ali há muita sombra, e os prédios têm uma área limitada. Não são condomínios com cinco blocos e estacionamento. São prédios colados uns nos outros. Isso dificulta a instalação e diminui a efetividade das placas.

Para quem se interessa pela ideia de gerar parte de sua própria energia elétrica, o processo ficou mais fácil recentemente. A resolução normativa 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), assinada em 17 de abril de 2012, regulamentou como deve ser feita a microgeração de energia. E, em 24 de novembro do ano passado, a resolução 687 alterou o texto de 2012 e melhorou ainda mais as condições para quem quer gerar a própria energia. As mudanças começaram para valer em março deste ano.

Dentre as medidas está a redução da burocracia. Antes, a concessionária demorava até 90 dias para registrar um sistema de energia solar. Hoje, são 34 dias. Tornou-se possível também a chamada geração compartilhada, que é quando a energia gerada em uma casa abate o valor na conta de outra. É necessário apenas provar um vínculo entre as duas unidades. Um pai, por exemplo, pode abater parte de sua conta de luz com a energia gerada na casa de seu filho.

A principal mudança para a Barra é a possibilidade de se partilhar os créditos gerados por unidades dentro de um condomínio. Assim, os moradores podem instalar um grande número de painéis, rateando o custo dos equipamentos e dividindo a economia entre as residências. – De três anos para cá, vimos que há uma preocupação bem grande dos nosso clientes com sustentabilidade. Em muitos casos, a instalação é bem simples – diz Patricia.

Para quem acha as placas feias, a designer afirma que é possível ocultá-las, mas isso demanda uma obra mais complexa. Para ela, o que move alguém a adotá-las é a economia de energia:

– Os clientes querem reduzir o gasto com energia, mas também estão preocupados em fazer um projeto que junte beleza e economia. Isso vai desde o reúso de água até uma iluminação eficiente, culminando na instalação das placas.

Muito mais do que a estética, a dona de casa Marluce Moser prezou a sustentabilidade e a economia. Na sua casa, a energia solar serve para aquecer a água da piscina e a do chuveiro:

– Além de ser correto ecologicamente, é menos custoso – explica Marluce, que mora na Barra desde 2008. – Já usávamos o sistema quando vivíamos em Brasília. Lá tem sol o dia inteiro, fazia sentido. Gostamos do resultado e trouxemos os aparelhos todos para o Rio. No início, as crianças até diziam que não iríamos precisar, por causa do calor da cidade. Mas no inverno cai bem.

Fonte: Jornal O Globo – 05/06/2016