O desafio proposto pela startup de construção Bim.bon ao lançar um concurso de arquitetura no início deste ano era a criação de uma casa de, no máximo, 10m x 10m, mas que pudesse crescer – para abrigar novos usos ou moradores – e ser replicada, formando uma vila ou condomínio, se necessário. Pois entre os dias 6 e 9, quem for a Feira Minascon, em Belo Horizonte, poderá visitar o protótipo do projeto vencedor, criado pelo arquiteto Carlos Alberto Maciel.

Sua “Casa 333” consiste em módulos quadrados de 2,80m – de largura, profundidade e altura -, que têm nas laterais a parte hidrossanitária pensada para abrigar as áreas molhadas de uma casa: cozinha e banheiro. Assim, os módulos podem abrigar, internamente, ambientes variados como salas, quartos, escritórios, de acordo com a necessidade. Uma flexibilidade que permitiria que esse modelo pudesse, inclusive, ter usos não residenciais, mesmo sem passar por qualquer reforma.

– O maior desafio em projetar uma casa com essas dimensões é equilibrar os ambientes que não precisam ser determinados, como salas e quartos, com as áreas de mais infraestrutura predial, como os sanitários, a cozinha e as partes de circulação. Por isso, a solução modular com espaços que dão maior liberdade ao usuário, já que podem abrigar diferentes ambientes, multiplicando, inclusive, as possibilidades para usos não residenciais – diz Maciel.

UM QUINTAL NA LAJE

A casa proposta tem apenas um pavimento, mas uma escada lateral permitiria o acesso à cobertura, que poderia ser utilizada como uma varanda, retomando uma tradição brasileira: o uso da laje que, nesse caso, funcionaria como um quintal – espaço antes comum nas casas tipicamente brasileiras, mas que perdeu lugar por conta da grande densidade das cidades. Mas a laje oferece ainda uma segunda possibilidade: a do crescimento, nesse caso, vertical.

É que futuramente poderia ser construído ali um segundo andar, atendendo à proposta de replicação do prêmio.

– Esse segundo andar poderia ser, inclusive, uma nova casa independente, já que o acesso é externo e independente – reforça o arquiteto.

Outra grande vantagem é que a casa será feita apenas com estruturas metálicas, o que permite uma construção limpa e rápida. O protótipo que será montado em Minas, por exemplo, deve ficar pronto em apenas cinco horas, já que as estruturas, industrializadas, chegam prontas ao canteiro de obras e só precisam ser montadas.

– A lógica modular permite conciliar industrialização, redução de resíduos e agilidade construtiva. E, nesse caso especificamente, em que foi criado um sistema, mais que um projeto, a comercialização poderia ser em formato de kits que atendessem às necessidades de cada cliente – imagina Maciel.

O arquiteto destaca ainda que, ao seguir esses preceitos, cria-se um projeto de baixo impacto ambiental, que gera menos resíduos durante a construção, ao mesmo tempo que garante uma durabilidade maior, já que a própria estrutura prevê a variedade de usos. Assim, embora não haja previsão para sistemas de coleta de água, tratamento de esgoto ou economia de energia, a “Casa 333” atenderia inclusive a questões de sustentabilidade.

 

Fonte: O Globo – 03/08/2014