Em menos de 72 horas, percorrer os 1.800 metros de extensão da Avenida Rio Branco, no Centro, dentro de um ônibus será uma daquelas experiências para contar para os mais novos. De carro particular ou táxis já não era permitido desde 2014, mas, agora, a medida vai além. A partir do próximo sábado, o trecho de 600 metros, entre a Avenida Nilo Peçanha e a Rua Santa Luzia, entrará em obras para construção de um passeio público, exigindo o desvio nos itinerários de 82 linhas de ônibus que atualmente percorrem a Rio Branco de uma ponta à outra. Para amenizar a situação, a prefeitura vai inverter a mão da Avenida Nilo Peçanha. Coletivos serão obrigados a virar à esquerda e entrar na Avenida Graça Aranha, ou na Rua Debret. A maioria das linhas seguirá para o Aterro.

As mudanças não são temporárias. Quando terminarem as intervenções no trecho interditado, em abril, o desvio será mantido, já que a área ficará restrita a pedestres, ciclistas e ao VLT. Com o passeio público inaugurado, as antigas faixas para carros e ônibus terão dado lugar a calçadas largas e a uma ciclovia. Andar em transporte público, só com o VLT.

– A obra estará concluída até abril. Não é uma intervenção de grande complexidade, do ponto de vista de tudo que já foi feito na (Avenida) Rio Branco. É complexo para a população que terá que se acostumar com mais uma mudança – disse o secretário municipal de Transportes, Rafael Picciani.

O aviso do secretário tem fundamento, já que aprender os novos itinerários no meio de tanta mudança no transporte da cidade pode não ser uma tarefa fácil. De acordo com o planejamento da prefeitura, das 82 linhas com alguma alteração, 26 vão passar a entrar na Avenida Nilo Peçanha e cruzar a Avenida Graça Aranha para chegar ao Aterro. O bloqueio da Rio Branco também vai impactar o tráfego da Rua Debret. A partir de sábado, onze linhas vão passar por ela antes de chegar à Rua Araújo Porto Alegre, onde fazem ponto final.

– No caminho do Centro até ao Aterro, não haverá tantos problemas. A Avenida Nilo Peçanha é grande o suficiente para receber os ônibus da Rio Branco e a (Avenida) Graça Aranha também tem o mesmo perfil. Quanto a isso, nossos estudos e simulações comprovam que haverá fluidez – diz Joaquim Dinis, diretor de operações da CET-Rio.

A preocupação do diretor de operações é no caminho para o Centro. Motoristas estavam acostumados a entrar na Avenida Presidente Antônio Carlos e acessar a Rio Branco pela Avenida Nilo Peçanha. Agora, tudo muda. Com a mão invertida, a Rua da Assembleia passará a receber o tráfego de 17 linhas.

– A (Rua da) Assembleia realmente vai se tornar um ponto mais complicado. Optamos por proibir o estacionamento de motos e veículos para aumentar o espaço para ônibus e carros. Esperamos que o VLT ajude a absorver parte da população que hoje depende dos ônibus para circular pelo Centro – afirma Dinis.

O início de operação do VLT, inicialmente previsto para abril, agora deve ocorrer até o fim do primeiro semestre, segundo a prefeitura. Antes das Olimpíadas, estarão em funcionamento 18 das 32 estações. A linha fará a ligação entre a Rodoviária Novo Rio e o Aeroporto Santos Dumont, pela Rio Branco, em cerca de 30 minutos. O restante das estações entra em operação até o final do ano.

Enquanto o VLT não é inaugurado, a prefeitura estuda como ficará a distribuição das linhas de ônibus que passam pelo Centro. Ainda não há definição de quantas linhas poderão circular, por exemplo, em Avenidas como Presidente Vargas e Rio Branco. Segundo o presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Porto (Cdurp), Alberto Gomes, o novo bonde tem capacidade para carregar 300 mil passageiros por dia, o que estaria acima da atual demanda de circulação em coletivos no Centro.

– Não sei quanto os ônibus carregam, mas é um número abaixo da capacidade do VLT. O sistema entrará em operação podendo receber os passageiros dos ônibus do Centro.

TRÂNSITO PODE PIORAR

O engenheiro de transporte da Coppe/UFRJ Paulo Cezar Martins Ribeiro acredita que o trânsito no Centro possa piorar com o fechamento de um trecho da Rio Branco. Segundo estudos coordenado por ele, a velocidade média de carros está em declínio na região. Antes de 2009, era de 12km/h. Depois caiu para 10/km e, em 2014, passou para 5km/h.

– Algumas obras estão prontas, mas o impacto da migração de linhas de ônibus para ruas menores, como a Assembleia, não vai ajudar a melhorar o trânsito.

O especialista em transportes Edgar Coelho Vaz faz coro. Para ele, a Assembleia terá um trânsito caótico a partir da próxima segundafeira, e isso terá reflexo em regiões do Centro.

– A Assembleia não tem capacidade para escoar o trânsito do dia a dia e mais as linhas que passarão por ela. Uma das alternativas seria a população optar pelo metrô. Mas nem isso é possível, já que o trecho Estácio-Carioca-Praça Quinze não está pronto.

 

Fonte: O Globo – 13/01/2016