O contrato de venda ou locação já está assinado. Agora, começa a segunda parte da saga de ter o primeiro imóvel: como decorá-lo. Não é um processo rápido, pois construir um lar requer tempo e dinheiro. Mas é uma tarefa quase sempre agradável transformar um espaço à sua maneira. Algumas ações são imediatas, como as obras estruturais. Já outras, como preencher os espaços até ficarem com a cara do dono, são bem sutis e demoram mais.

Arquitetos e decoradores explicam que o processo de adequação de todos os cômodos aos seus novos moradores depende do perfil e orçamento de cada um. A orientação geral é investir na obra mais pesada inicialmente, caso seja necessário. Ou seja: pintar, trocar piso e bancadas e, em alguns casos, derrubar paredes. Passada esta etapa, a dica é apostar em um revestimento o mais neutro possível e deixar o charme por conta dos adornos e mobílias leves, que podem até ser levados para outro imóvel no futuro.

A arquiteta Luciana Machado, da Plark Arquitetura, está passando por esse processo. Ela acaba de comprar um imóvel e vai morar pela primeira vez sozinha. Ou melhor, com seu filho de 4 anos. Como o orçamento não permite realizar todas as mudanças desejadas, ela optou por fazer alguns acertos na estrutura e deixar a decoração clean, pelo menos por enquanto.

– A ideia é fazer toda a obra mais pesada agora. Troquei as bancadas do banheiro e da cozinha de lugar. Assim, toda a parte hidráulica já está resolvida. Uma coisa essencial para mim era integrar a cozinha à sala, pois posso ver meu filho assistindo à TV enquanto cozinho – conta Luciana, que, por ser arquiteta, já tem ideia de como conduzir um projeto.

Mas, para quem não pode contratar um profissional, ela oferece dicas úteis:

– O ideal é arrumar o piso antes de entrar, para evitar transtornos futuros, dar uma pintura geral e investir em uma boa iluminação, que faz muita diferença. Se a pessoa não pode fazer toda a decoração de uma só vez, basta resolver o básico. O resto é aos poucos.

A designer de interiores Laura Santos ressalta, porém, que cada caso é um caso, pois as obras são desgastantes e onerosas. Portanto, é preciso pensar bastante se as reformas valem a pena e se vão agregar valor ao imóvel:

– Às vezes, uma boa pintura, um bom papel de parede, uma iluminação eficiente e móveis interessantes valorizam tanto quanto uma obra.

Foi o que o arquiteto Thoni Litsz fez no apartamento do médico Rubens Tavares, de 33 anos, que comprou um imóvel na Barra, o primeiro após sair da casa dos pais. Sala e quarto ganharam uma versão mais clássica, com tons nudes nas paredes e no chão, em contraponto com uma decoração moderna e algumas pitadas de cor. Duas guitarras penduradas na parede destacam a paixão de Rubens, dando um toque mais pessoal na ambientação de sua nova casa.

– Eu queria um ambiente acolhedor e tentar aproveitar ao máximo o espaço. Fui montando aos poucos, até que, quando estava tudo pronto, saí da casa dos meus pais – conta o médico.

– Tudo o que você puder levar depois, vale a pena! Almofadas, quadros e vasos são peças coringas que vão deixar o ambiente com cara de casa sem gastar muito. Eletrodomésticos também são itens que merecem investimento, pois vão com você para qualquer lugar e, dependendo do design, ganham dupla função, de uso e decoração – sugere a arquiteta Marcela Torrelio, da Arquilego.

Já Litsz aconselha que os proprietários ou inquilinos novatos aproveitem as peças que ganham dos seus pais para deixar o novo espaço acolhedor:

– Uma coisa que percebo é que quem está indo morar sozinho pela primeira vez tem muitos móveis herdados, e isso é ótimo. É bom ter em sua nova casa algo que te lembre sua família, seu porto seguro, o que vai te trazer aconchego. Eu já passei por isso também.

PLANEJADOS VALORIZAM BENS PRÓPRIOS

Transformar o imóvel em algo aconchegante pode ser muito mais simples do que se imagina. Para a arquiteta Marina Dubal, da Dad Arquitetura & Design, as texturas devem ser aplicadas em paredes a fim de ambientação e dar acolhimento. Além disso, afirma, móveis em madeira, estofados com linhas mais retas e design minimalista são uma maneira fácil de se dar uma nova cara a qualquer espaço:

– A área social sempre é uma das mais privilegiadas no momento da escolha de mobiliário. No entanto, é importante levar em consideração conforto, ergonomia e durabilidade ao escolher todos os móveis, incluindo os de quartos, cozinha e banheiros.

Para imóveis próprios, segundo Marina, os móveis planejados são uma ótima opção, pois valorizam o bem. Já no caso dos alugados, o ideal é não investir nesse tipo de mobiliário, já que, normalmente, a pessoa não fica muito tempo em um mesmo apartamento e não pode levar esse tipo de mobília quando se muda.

Agora, se o novo imóvel é para ser dividido entre amigos, a designer de ambientes Laura Santos sugere apostar em peças soltas e mais democráticas.

– Quando se trata de um espaço que será compartilhado por várias pessoas, é muito interessante trabalhar com cores neutras e objetos que fazem referência a essa turma, mas que, ao mesmo tempo, deixem o ambiente confortável. Se uma pessoa gosta de grafite e outra prefere papel de parede, para se entrar em um consenso seria bom investir em uma composição mais neutra, com quadros coloridos.

 

Fonte: O Globo – 31/05/2015