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A escolha do síndico, responsável por cuidar do patrimônio dos demais moradores do condomínio, gera preocupação e dúvidas. O que é melhor, um síndico morador ou um profissional, que trabalha para vários prédios e passa algumas horas por semana em cada um deles?

Na opinião de especialistas em administração de condomínios, um bom síndico, seja morador ou profissional, deve saber se comunicar e executar suas propostas, gastar dentro do orçamento, agir com transparência e cumprir o que é definido nas assembleias de moradores.

“O síndico morador vive de perto os problemas do prédio e sente as despesas na própria pele”, diz Hubert Gebara, da administradora de condomínios e imóveis Hubert.

Assim, o gestor se beneficia com uma boa administração tanto quanto os outros condôminos. “Quando ele faz melhorias, faz para o lugar onde mora, e isso serve como uma motivação”, diz Marcio Rachkorsky, advogado especialista em condomínios e colunista da Folha.

A professora aposentada Célia Coelho, 67, se tornou síndica do edifício de 64 apartamentos onde mora, no Campo Belo, zona sul de São Paulo, há 18 anos. Desde então nunca deixou o cargo. “Tudo o que faço pelo prédio é também pela minha casa”, afirma Coelho.

Mas, muitas vezes, os residentes não têm tempo nem habilidade para administrar o edifício, lembra Gebara.

“O morador funciona bem como síndico quando o prédio é pequeno e se não existem grandes conflitos entre os moradores”, afirma Rachkorsky. Condomínios maiores, segundo o advogado, exigem mais dedicação e uma gestão mais profissionalizada. Para esses casos, a opção de ter um síndico profissional pode ser a melhor.

‘SEM MILAGRE’

Renato Daniel Tichauer, presidente da Assosíndicos (Associação dos Síndicos de Condomínios de São Paulo) e síndico profissional de dez prédios, diz que a busca por alguém para ocupar o cargo deve ser minuciosa. “É preciso levantar informações do profissional e buscar referências onde ele já prestou algum serviço”, diz.

Segundo Tichauer, o candidato deve ter experiência e conhecimentos de manutenção e legislação de condomínios e, para isso, precisa se preparar com cursos específicos para síndicos.

Quando o candidato é um morador, é importante que tenha bom relacionamento com todos os vizinhos, ressaltam os especialistas.

“O síndico deve ser um negociador. Ele precisa ouvir todas as opiniões e chamar os demais moradores para participar da gestão a fim de evitar desentendimentos”, afirma Avio Lavagetti, 80, administrador aposentado e síndico há cinco anos do prédio onde mora, no Morumbi, zona oeste de São Paulo.

A escolha da administradora que irá auxiliar o gestor também precisa ser criteriosa. “Se a administradora não tem serviço ágil e transparente, a gestão fica comprometida”, diz Eduardo Zangari, diretor de relações institucionais da AABIC (Associação das Administradoras de Bens Imóveis e Condomínios).

De acordo com Zangari, a troca de síndico dificilmente revoluciona a administração do prédio. “O orçamento é muito limitado e, a menos que a antiga gestão tenha sido muito mal feita, poucas mudanças serão observadas. Não tem milagre que o síndico possa fazer.” As melhorias são mais visíveis na qualidade dos serviços e na manutenção do edifício do que no orçamento, afirma Zangari.

A busca pelo enxugamento dos custos pode até apresentar riscos: “Alguns cortes, principalmente em manutenção, são perigosos e podem gerar ainda mais gastos”, alerta Rodrigo Karpat, advogado especialista em direito condominial e imobiliário.

PRÉDIOS ADOTAM PRÁTICAS DE GESTÃO EMPRESARIAL

A necessidade de profissionalização da gestão de condomínios levou algumas empresas a oferecer o serviço de governança condominial, que adapta conceitos e práticas que já são usados na administração de grandes empresas.

O serviço inclui auditoria de compras e contratos, controle de inadimplência, fiscalização das contas de água e luz para checar se não há vazamentos e acompanhamento da atuação do síndico.

“Para prédios maiores, a implantação de um sistema de governança ajuda a aprimorar a gestão”, afirma Eduardo Zangari, diretor de relações institucionais da AABIC.

“É uma espécie de boas práticas anticorrupção que prega o respeito à administração e à ética nas relações condominiais”, diz Talita Zanelato, da Conlive, empresa que oferece o serviço, em São Paulo.

Fonte: Folha de São Paulo – 02/10/2016