O Clube de Regatas do Flamengo anunciou o interesse de construir, até 2016, uma arena multiuso com capacidade para 3,5 mil pessoas, que receberia jogos de basquete, vôlei e outros eventos, em terreno no Leblon junto à sua sede. A ideia da diretoria rubro-negra é erguer a nova instalação onde antes funcionava um posto de gasolina, na esquina da Mário Ribeiro com Borges de Medeiros – atualmente o espaço, cedido ao clube , é usado como estacionamento. Questionado sobre o assunto ontem à tarde, o prefeito Eduardo Paes disse que dá seu aval ao projeto e, com relação à parte que cabe ao município, falta apenas a concessão de licença pela CET-Rio.

– Se depender da prefeitura, o projeto está aprovado – disse o prefeito.

De acordo com o vice-presidente rubro-negro de Esportes Olímpicos, Alexandre Póvoa, já foram cumpridas todas as exigências feitas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pelo tombamento do espelho da Lagoa Rodrigo de Freitas e que precisa autorizar qualquer tipo de intervenção nos clubes da região. A última alteração exigida foi um recuo de nove metros em relação à Rua Mário Ribeiro. O ginásio vai custar R$ 25 milhões, com investimento total do McDonald’s, que poderá explorar a venda de alimentos em todos os jogos e eventos.

– Entregamos a última exigência ao Iphan na sexta-feira, esperamos que seja aprovado nos próximos dias. Na CET-Rio também não teremos problema. É bom lembrar que haverá uma estação de metrô na Gávea, o que resolverá a questão do trânsito. Vamos usar o estacionamento do próprio clube (cerca de mil vagas) e fazer parcerias com estacionamentos vizinhos, como o do Cinépolis Lagoon, por exemplo – explica Póvoa. – Queremos um ginásio padrão NBA, com vestiários de alto nível, tudo moderno. E que seja usado por outros clubes também, não apenas pelo Flamengo.

Representantes de associações de moradores do Leblon, da Gávea e do Jardim Botânico se reuniram, na terça- feira, para discutir o assunto. O tom é crítico. Eles alegam que o clube tenta levar a ideia adiante há pelo menos trinta anos, e prometem organizar um panelaço na semana que vem, em frente ao local onde se pretende construir o equipamento.

– Na última vez, em que o caso foi discutido, o ex-governador Sérgio Cabral encerrou o assunto dizendo que não iria se opor à população. O que o Flamengo quer, e todos sabem disso, é primeiro fazer a areninha para depois fazer um arenão, um novo estádio de futebol – argumentou o presidente da Associação de Proprietários de Prédios do Leblon, Augusto Boisson. – Se isso for aprovado, uma perigosa exceção será aberta a novos empreendimentos nos outros clubes da Lagoa.

Já a advogada Evelyn Rosenzweig, que preside a Associação de Moradores e Amigos do Leblon (AmaLeblon), é favorável à arena, ao contrário de outras associações do bairro. Embora afirme não conhecer detalhes do projeto, ela não se opõe ao empreendimento.

– Não dá para dizer que adoramos a ideia, mas acho importante. Talvez o Leblon não sofra impacto, pois não necessariamente os visitantes da arena passarão pelo bairro.

Apesar do aval da prefeitura e do Iphan, a liberação da obra depende do governo estadual, a quem pertence o terreno, cedido ao Flamengo nos anos 1930. O procurador do Estado Raphael Carneiro da Rocha acompanha esse cabo de guerra desde 1985, quando entrou para a procuradoria. Segundo ele, o assunto já era recorrente na época:

– A então prefeitura do Distrito Federal concedeu aforamento da área ao Flamengo, assim como fez com outros clubes da Lagoa. Mas há uma condição: se o local não for usado exclusivamente para a prática de esportes, o imóvel pode ser retomado pelo estado. Mesmo que o Papa seja favorável, enquanto o Estado do Rio não disser que é possível, nada será feito. Foi entregue ao Flamengo uma área que hoje vale centenas de milhões de reais. O clube usa de graça e ainda quer mais. A Procuradoria será sempre contra.

Questionada sobre o assunto, a assessoria de imprensa do governador Luiz Fernando Pezão disse, por telefone, que ele não se pronunciaria. O temor das associações de moradores é que Pezão contrarie decisão de seu antecessor, que havia anulado um ato da ex-governadora Rosinha Garotinho. No fim de 2006, pouco antes de deixar o Palácio Laranjeiras, ela aprovou um projeto mais ambicioso que o da atual arena: o Flamengo pretendia construir um shopping center na Gávea, ideia que não foi adiante. Polêmica semelhante aconteceu quando surgiu a ideia de construção do Shopping Leblon, mas o temor de caos no trânsito nunca se confirmou.

Mas Denise Correa, presidente da Associação de Moradores e Amigos da Selva de Pedra, que representa 40 edifícios com cerca de 13 mil moradores, afirma que a região não suportaria o impacto de uma arena multiuso.

 

– Com a construção do Shopping Leblon, passamos a ter problemas de transbordamento de esgoto nas ruas do bairro, que tem estrutura de saneamento básico ainda dos anos 60. Outro problema é que, do outro lado da rua, fica o hospital Miguel Couto. Imagine a situação dos enfermos em dia de evento – afirma.

 

Fonte: O Globo – 26/03/2015