Quando o homem criou seus primeiros protótipos de casas, a preocupação era ter espaços seguros, aproveitando a luz e a ventilação natural. Com o tempo, ele foi adotando novas técnicas de construção, sem qualquer preocupação com o meio ambiente. Hoje, a ordem é voltar a usar o máximo possível os recursos naturais. Investindo em moradias sustentáveis, duas instituições internacionais já concedem selos verdes para casas independentes no Rio, num mercado que tende a crescer e que ganhará, em breve, um terceiro tipo de selo.

Até o fim do ano, o Green Building Council Brasil (GBC), que fomenta a indústria de construções sustentáveis em todo o mundo e que hoje emite o selo americano LEED (sigla em inglês para Liderança em Energia e Design Ambiental) para obras comerciais, ganhará um certificado especial para residências. Com custo que varia de R$ 3 mil a R$ 9 mil, dependendo da metragem, a organização estima uma valorização de 10% a 20% do imóvel “verde” e redução no custo de manutenção mensal entre 8% e 9%.

Nove projetos pilotos

O Referencial GBC Brasil Casa ainda está na fase de ajustes e só deve estar aberto ao público depois que seus nove projetos pilotos estiverem concluídos, e os detalhes para criação de parâmetros nacionais de viabilidade, economia e técnica de sustentabilidade, definidos.

Estes projetos estão localizados em São Paulo (capital, litoral e interior), Brasília, Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Entre os critérios de avaliação, estão reutilização de água e energia, gerenciamento de resíduos, controle de emissão de gases de combustão e acústica, mobilidade e durabilidade. Marcos Casado, diretor técnico e educacional do GBC Brasil, explica que a ideia de uma referência para casas sustentáveis surgiu após o GBC receber vários questionamentos de proprietários e empresas sobre os parâmetros que definiam uma casa sustentável.

As áreas construídas em até 300 m² ficarão isentas de taxa de inscrição e terão somente o custo de avaliação do projeto, de R$ 3 mil. Já proprietários de imóveis com tamanho entre 300m² e 600m² pagarão mil reais de inscrição e R$ 5 mil de avaliação. Acima de 600m², as taxas previstas são de R$ 2 mil e R$ 7 mil, respectivamente. O custo inclui uma avaliação dos projetos na fase inicial e cinco visitas no decorrer da obra para auditoria.

Os selos que já existem

O Building Research Establishment, que concede o selo inglês Breeam, já aceita pedidos para certificação de sustentabilidade em casas, mas ainda não concedeu nenhum selo no Brasil. A previsão é que no próximo mês seja emitida a primeira certificação Breeam para uma residência. Localizada em Petrópolis, Região Serrana do Estado do Rio, a casa faz parte de um conjunto de oito, todas construídas com aproveitamento da água da chuva e energia solar e teto verde, entre outros critérios.

O arquiteto e idealizador do condomínio, Sergio Conde Caldas, explica que o principal desafio foi construir uma casa totalmente sustentável, mas com os mesmos custos de uma comum. Segundo Viviane Cunha, consultora de sustentabilidade e avaliadora do Breeam Brasil, a residência que receberá o selo está em processo final de certificação e as demais em outras etapas. Os valores para se obter o selo Breeam variam conforme a metragem, sendo a partir de R$ 8 mil para casas novas e R$ 5 mil para imóveis já existentes.

– O selo é uma chancela de que a casa foi testada e aprovada, e isso valoriza o imóvel – pontua Caldas.

No Rio, a prefeitura tem o selo sustentável Qualiverde, que traz benefícios no bolso também, inclusive com descontos em impostos. Não há custo para o requerimento de obtenção do Qualiverde, e um projeto de lei está em estudo para detalhar estes descontos.

Lançado no ano passado, até agora são cinco processos em andamento, quatro consultas e um projeto qualificado. Dos projetos em andamento, dois são residenciais.

“Não há relação direta do Qualiverde com selos como o LEED, apesar de várias ações serem comuns a ambos, como estratégias de uso racional da água. Os prédios qualificados no LEED, por exemplo, não necessariamente conseguem ser qualificados no Qualiverde, ou vice-versa, uma vez que focamos mais em projetos e parâmetros urbanísticos, como ventilação natural e permeabilidade do solo, e menos em sistemas de eficiência energética”, explica, em nota, a prefeitura.

Mais liquidez na venda

Outros projetos, ainda que não sejam voltados para casas independentes, mas sim para a área residencial, reforçam o viés ecológico de futuras moradias, a exemplo da certificação AQUA (Alta Qualidade Ambiental), conferida pela Fundação Vanzolini. Ela não possui referencial técnico para certificar casas, mas abrange empreendimentos comerciais, residenciais, bairros e loteamentos.

Em março, o Residencial Damha I, em Campos dos Goytacazes, se tornou o primeiro loteamento no Estado do Rio a receber o AQUA.

Mas, apesar de todo o discurso ambiental, qual a vantagem de ter uma casa sustentável?

Segundo Felipe Faria, diretor gerente da GBC Brasil, o metro quadrado de uma casa “verde” é mais valorizado e a velocidade de venda, maior. Para Bianca Carvalho, diretora executiva da Facility Consult, aplicar ações sustentáveis numa obra até pouco tempo atrás era visto apenas como gasto, mas nos últimos anos isto tem mudado:

– Com muitas empresas se instalando nos últimos 30 anos no Rio, está se criando uma nova cultura. Você investe mais em um projeto sustentável, porém, no dia a dia, tem redução de 7% a 15% no custo da conta de energia e água.

Leonardo Schneider, vice-presidente do Secovi-Rio, engrossa o coro de que a busca por imóveis sustentáveis tem crescido e, consequentemente, a liquidez na venda também. Ele ressalta que muita gente já entende que o investimento é recuperado através da economia nos gastos mensais com manutenção. Já Bianca e Caldas dizem que a liquidez depende da região. Para eles, na Zona Sul e Oeste, por exemplo, a absorção do empreendimento “verde” é grande. Na Zona Norte, nem tanto.

O arquiteto ressalta que duas medidas poderiam contribuir para baixar os custos da construção de imóveis residenciais sustentáveis. A primeira seria já iniciar o projeto com critérios que minimizem o impacto ambiental, em vez de fazer adaptações depois que o imóvel está pronto. A segunda seria diminuir a carga tributária sobre produtos sustentáveis que, segundo ele, ainda são muito caros no Brasil.

Mercado crescendo

A construção sustentável já movimenta cifras bilionárias no Brasil. Um estudo realizado pela EY (antiga Ernst & Young) revela que, em 2012, o valor total dos imóveis que reivindicaram o selo sustentável atingiu R$ 13,6 bilhões do PIB de edificações – subdivisão da construção civil que desconsidera obras de infraestrutura.

Isso representa 8,3% do valor total de R$ 163 bilhões do PIB de edificações. Em 2010, a porcentagem era de 3% e o PIB, de R$ 139 bilhões.

O estudo foi realizado a pedido do Green Building Council Brasil (GBC Brasil) e considerou projetos registrados para o selo LEED. Entretanto, o crescimento deste tipo de edificação é verificado de maneira geral por outras organizações que emitem selos verdes.

Até agora, o GBC já certificou 112 empreendimentos de 783 registrados. Cenário bem diferente do de junho de 2007, quando a organização iniciou a operação no Brasil: eram 48 registros e só um projeto certificado.

– O mercado de edifícios verdes vem ganhando espaço. A certificação de construção sustentável para edifícios comerciais e de serviços funciona como um cartão de visitas. E os edifícios habitacionais não ficam para trás: os compradores estão mais exigentes e procuram por menores custos de condomínio, além, é claro, de beleza, conforto e qualidade de vida para os usuários – explica Manuel Carlos Martins, coordenador executivo do processo AQUA (Alta Qualidade Ambiental), que, desde 2008, quando foi lançado pela Fundação Vanzolini, já concedeu 149 certificações no país.

Fonte: O Globo, 22 de setembro