Se há algo que Rio e Nova York têm em comum, ao menos nos últimos anos, é o alto preço dos imóveis, o que se reflete também nos valores de aluguéis das duas cidades.

Lá, numa tentativa de minimizar o problema, o prefeito Bill de Blasio anunciou nesta segunda-feira um plano para implementar, em dez ano, 200 mil novas unidades residenciais periféricas da cidade como o Brooklyn, que viriam tanto de novas construções, como da preservação de prédios antigos. Com o aumento significativo na oferta, acredita De Blasio, os valores dos aluguéis cairiam significativamente. Para isso, o prefeito nova-iorquino prevê a captação de US$ 30 bilhões da iniciativa privada. Outros US$ 11,1 bilhões viriam do poder público. E, se fosse aqui? Será que o Rio teria condições de criar um plano parecido? Dificilmente, dizem agentes do mercado ouvidos pelo Morar Bem.

Para o presidente da Associação dos Dirigentes dos Mercado Imobiliário (Ademi-RJ), João Paulo Matos, os recursos nem seriam o problema, já que nossos bancos estão dispostos a investir no mercado imobiliário e as construtoras não têm tido dificuldades nesse sentido. Mas, segundo ele, não haveria demanda para crescimento tão acelerado. No ano passado, foram 21.247 unidades lançadas no Rio, sendo 14.361 residenciais. Ou seja, para lançar tantas novas unidades em tão pouco tempo, o mercado precisaria quase dobrar o número de lançamentos residenciais anuais.

— Não temos consumidor final para tanta oferta. Por isso, não vejo como implementar um plano como esse aqui. Até porque, muito provavelmente, esse investimento em Nova York será feito em unidades compactas, entre 30 e 45 metros quadrados, o que no Rio só é permitido pela legislação em pouquíssimas áreas — explica ele.

De fato, a legislação carioca só permite que sejam construídos imóveis com metragem inferior a 55 metros quadrados em algumas poucas áreas do Recreio e do Porto. Mudar essa lei, aliás, é pleito antigo dos construtores de imóveis, que com uma metragem menor, investiriam em mais imóveis de apenas um quarto.

— São imóveis que têm uma ótima liquidez, principalmente para o mercado de locação, pois há uma demanda muito grande e quase nenhuma oferta. Se houvesse uma mudança da lei, certamente, o mercado se interessaria em investir nesses imóveis e aí sim poderia ser possível chegar a esse número de novas unidades — completa Matos.

Presidente da Patrimóvel, Rubem Vasconcelos vê na geografia da cidade outra dificuldade para implementação de projeto similar no Rio:

— A região onde o preço de locação é mais desequilibrado é em Ipanema e Leblon. E quem mora lá, não vai trocar os bairros pelo Porto ou por outra região mais periférica. A escassez no Rio está na linha do mar, onde não há como aumentar a oferta. Então, mesmo que essa oferta cresça em outras regiões, não acredito que isso mexa nos preços de locação da Zona Sul.

Já o vice-presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-Rio), Leonardo Schneider, acredita que seria preciso, antes de mais nada, investir em infraestrutura já que a falta de um bom transporte público para a maior parte dos bairros mais afastados da região central inviabilizariam que um projeto como esse tivesse sucesso.

— Em Nova York, onde o metrô liga toda a cidade, a logística é muito mais simples. Aqui, não faria sentido implementar essas novas unidades em Campo Grande ou Santa Cruz, por exemplo, até pela dificuldade com transporte. Zona Sul já não tem mais terrenos, Tijuca também não. Onde então criar essas unidades? Acho que só valeria se fosse em regiões centrais como São Cristóvão e Porto Maravilha. Investir na revitalização e uso para habitação dos muitos imóveis abandonados do Centro e Lapa também poderia ser uma opção — conclui.
Fonte: Jornal O Globo – 06/05/2014