Menos de um mês após o Comitê Olímpico Internacional (COI) demonstrar preocupação com a falta de um orçamento detalhado dos Jogos de 2016, os três níveis de governo apresentaram na tarde desta quarta-feira, no Forte de Copacabana, os custos que cada esfera terá com o evento. Somando todos os gastos, a Olimpíada custará, segundo este último cálculo, R$ 36,7 bilhões. Desse total, R$ 24,1 bilhões (65%) serão destinados às obras de legado do evento, R$ 7 bilhões aos custos operacionais e de organização do Comitê Rio 2016 e R$ 5,6 bilhões restantes são dos 24 projetos já aprovados da Matriz de Responsabilidades, documento divulgado em janeiro pela Autoridade Pública Olímpica (APO) que relaciona as obrigações dos entes governamentais e do setor privado em projetos necessários para os jogos, como a Vila dos Atletas e os parques olímpicos. Estiveram presentes o presidente da APO, general Fernando Azevedo e Silva, o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, o prefeito Eduardo Paes e o governador Luiz Fernando Pezão.

– A grande conquista é que mais de 60% de todos os recursos são de origem privada, fruto de captação e de PPPs. Londres tem sido usada como modelo de Olimpíada, mas a nossa terá muito menos recursos públicos – afirmou o prefeito.

Valor não é definitivo

 Os R$ 36,7 bilhões, no entanto, ainda não são o valor definitivo, pois 28 dos 52 projetos que constam na Matriz de Responsabilidades da APO ainda não foram licitados. Nesta quinta-feira será publicado o edital de licitação do Complexo Esportivo de Deodoro. Estima-se que os 11 projetos do complexo acrescentem mais R$ 900 milhões ao custo total. Os outros 17 projetos que continuarão pendentes ainda não têm orçamento definido. Tudo indica que o valor final da Olimpíada só será conhecido às vésperas do evento.

– Só será possível descobrir o custo final quando todos os projetos listados na matriz estiverem em sua maturidade. Será perto da entrega das instalações, infelizmente – admitiu, após o encontro, o general Azevedo e Silva.

O plano do legado apresentado nesta quarta-feira lista os 27 projetos voltados para as áreas de infraestrutura, mobilidade, meio ambiente e urbanização. Integram essa lista, por exemplo, o Porto Maravilha, a Linha 4 do metrô, os BRTs e a duplicação do Elevado do Joá. A maior parte de iniciativas (14) cabe à prefeitura. O percentual de recursos privados nas obras do legado será de 43% (R$ 10, 3 bilhões), contra 57% (R$ 13,8 bilhões) de verba pública. O maior percentual de gastos públicos com o legado ficará a cargo do governo do estado, que terá como principal investimento os R$ 8,79 bilhões da ampliação do metrô, dos quais 88% sairão do erário estadual.

Todas as obras de legado já estavam programadas ou mesmo em andamento, mas foram aceleradas pela Olimpíada. O prefeito Eduardo Paes destacou, no entanto, que foram incluídas no plano de políticas públicas apenas o que ainda não está pronto, pois o objetivo do cronograma, segundo o prefeito, é dar ao cidadão ferramentas para cobrar o poder público.

– Agora todos podem saber quem é responsável pelo quê, quem deve ser cobrado por cada um dos investimentos anunciados. Estamos dando mais transparência aos gastos com os Jogos Olímpicos e Paralímpicos – destacou Paes.

Mais que o prometido na candidatura

 O prefeito disse ainda que está sendo feito mais do que se prometia no dossiê de candidatura. Ele citou, por exemplo, os cinco reservatórios – também chamados de piscinões – contra enchentes na Grande Tijuca. O primeiro deles, na Praça da Bandeira, foi inaugurado no fim de 2013 e está em operação.

– Não há hipótese de o Rio alagar durante os Jogos, pois não é uma época de chuvas na cidade. Apesar disso, incluímos no pacote os outros quatro piscinões já em construção, que vão receber as vazões dos rios Trapicheiros, Maracanã, Jacó e Joana. Com isso, estamos garantindo que a Olimpíada deixará uma transformação permanente no Rio – afirmou ele.

A Baía de Guanabara também foi citada durante a apresentação. Como, segundo as autoridades, o problema maior para as competições no local é o lixo na superfície, e não a poluição propriamente dita, foi apresentado o programa Baía Sem Lixo. Dez ecobarcos vão fazer o trabalho permanente de recolhimento do lixo flutuante – três já estão em operação desde janeiro e os outros sete serão licitados ainda este mês. Para reduzir a poluição, o governador prometeu a construção de um tronco coletor que vai captar o esgoto de bairros como Centro, Tijuca, Praça da Bandeira, Catumbi, Cidade Nova, Estácio e Rio Comprido. A promessa é que o novo sistema irá reduzir a carga poluidora lançada no Canal do Mangue – que deságua na Baía de Guanabara.

Já o governo federal vai investir principalmente no Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD/Ladetec), que será também um centro formador de profissionais especializados. O laboratório ficará na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

– O Brasil não possui um centro como esse. Depois dos Jogos, ele continuará sendo uma referência nesse campo – afirmou o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo.

Obras seguem em ritmo lento

 Os números apresentados nesta quarta-feira respondem em parte aos questionamentos do Comitê Olímpico Internacional (COI). No dia 21 de março, o diretor-executivo do comitê de inspeção do COI, Gilbert Felli, manifestou preocupação com o fato de que, até aquele momento, União, estado e prefeitura não haviam apresentado o orçamento detalhado dos gastos públicos de cada um para a realização dos Jogos Olímpicos de 2016. O comentário foi feito ao fim da última visita do comitê à cidade, para acompanhar os preparativos para o evento.

Três semanas depois, o COI anunciou uma série de medidas para acompanhar os preparativos dos Jogos. Entre elas, a antecipação da vinda de Felli ao Rio. Sua chegada está prevista para a semana que vem, depois dos feriados, quando ele deve se reunir com o prefeito Eduardo Paes e o comitê organizador dos Jogos. Dias depois, Felli vai apresentar ao COI sua primeira avaliação sobre o andamento dos preparativos.

As medidas foram anunciadas pelo presidente do COI, Thomas Bach, no último dia 10, depois de uma reunião com representantes das federações esportivas, que começam a se alarmar com os atrasos nos preparativos do Rio para as competições. Embora rejeite a palavra intervenção, na prática, o COI decidiu tomar as rédeas da organização dos Jogos: vai acompanhar, passo a passo, as obras na cidade. Bach avisou que anunciará, nas próximas semanas (a data ainda não foi fixada), a criação de forças-tarefas. E que o COI também vai recrutar no Rio um administrador de projetos “com experiência em construções para monitorar, no dia a dia, os progressos das obras de infraestrutura”.

Sobre o anúncio, Paes disse que vê com bons olhos a antecipação da chegada de Felli. O prefeito reconheceu que o atraso nas obras do Parque Olímpico de Deodoro é preocupante, mas garantiu que cumprirá todos os prazos.

Fonte: Jornal O Globo – 17/04/2014