Entre os requisitos básicos para uma cidade receber os Jogos Olímpicos está a capacidade de hospedar a multidão de esportistas, jornalistas e turistas atraídos pelo evento. Nesse ponto, o Rio causava certa apreensão, pois, dos 50 mil quartos necessários, tinha, em outubro de 2009, apenas 25 000. Para efeito de comparação, Chicago, a principal concorrente dos cariocas na disputa, oferecia 55 mil unidades apenas em estabelecimentos de três a cinco estrelas — no nosso caso até albergues ajudavam a engordar a conta. Na ocasião, o plano para alcançar a meta envolvia ancorar oito transatlânticos no porto.

Hoje, a pouco mais de dois anos para que se acenda a pira olímpica, o cenário é outro. Nada menos que 76 empreendimentos, de redes brasileiras e internacionais, estão em algum estágio de construção na cidade, sem contar a reativação e reforma de antigos hotéis que, juntos, elevarão a capacidade para 52 mil unidades. A tal flotilha que ficaria na baía, inclusive, já foi reduzida para dois navios, que só serão usados em caso de emergência. “Está em curso uma verdadeira revolução no mercado hoteleiro carioca, tanto em termos de quantidade como de qualidade”, entusiasma-se Alfredo Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Rio (Abih-RJ).

De fato, a dupla Copacabana Palace e Fasano, que reina absoluta entre os turistas endinheirados, vai ganhar concorrência. É dada como certa no mercado a escolha da prestigiada rede Four Seasons para administrar o Hotel Glória, recentemente comprado de Eike Batista pelo fundo de investimentos suíço Acron e renomeado como Glória Palace. Mas a disputa mais acirrada virá da Barra da Tijuca, palco da maior parte das competições olímpicas, onde estão sendo implantados conceitos não necessariamente novos no mundo, mas certamente inéditos no Rio. Na extremidade oeste, no último terreno antes da Reserva de Marapendi, já está em construção o resort seis-estrelas Grand Hyatt, com 436 quartos. Mais afastado do centro urbano, é autossuficiente — o hóspede não precisa deixar o complexo para aproveitar a praia, fazer esportes ou comer bem, tudo com o requinte que é marca da rede americana. No lado oposto, ao lado da Praça do Ó, outro grupo americano chega com uma proposta radicalmente diferente.

Em março, o bilionário Donald Trump, aquele do topete inconfundível, vem à cidade para promover o empreendimento que leva seu sobrenome. Serão 170 quartos cinco-estrelas — todos já reservados para os patrocinadores da Olimpíada entre junho e setembro de 2016 —, mas isso é apenas um detalhe. “Seremos totalmente integrados à cidade, com uma boate para 600 pessoas, restaurante cinco-estrelas, e promoveremos festas na piscina de 400 metros quadrados. A ideia é proporcionar hospedagem e entretenimento de alta qualidade a cariocas e turistas”, explica Paulo Figueiredo Filho, presidente da Polaris, incorporadora responsável pelo hotel.

Obviamente, o súbito interesse de investidores e grandes redes hoteleiras pelo Rio está diretamente ligado à Copa e à Olimpíada. Mas há outro atrativo, muito mais simples: o lucro. Graças ao princípio da oferta (baixa) e da demanda (altíssima), a diária dos hotéis cariocas está entre as dez mais altas do mundo. A cidade está atraindo tantos turistas que já há até quem se aventure a fazer hospedagens com prazo de validade. É o pop-up hotel, que vem para aproveitar a procura aquecida em um ano de eventos e depois fecha as portas. No fim do mês, será aberto o Maria Santa Teresa, que oferecerá até dezembro seis quartos de luxo sob a bandeira da Design Hotels, empresa que tem como atrativo projetos assinados por grandes arquitetos e designers.

Mesmo com toda a euforia, os empresários não temem uma queda vertiginosa de clientes no período pó­s­-Jogos. “O Rio estava subaproveitado em termos de hotelaria”, analisa Marcelo Haddad, diretor executivo da Rio Negócios. “Não se trata de uma bolha, e sim de um processo de adequação.” Que venham os turistas.

 

Fonte: Revista Veja – 24/02/2014