Prefeitura negocia venda de imóveis na Vila dos Atletas para servidores

Seis meses após a Olimpíada, o município começa a desenhar um destino para os 3.604 apartamentos da Vila dos Atletas, na Barra. Atento ao que pode arrecadar com o IPTU desse imóveis, o prefeito Marcelo Crivella costura um acordo com a Caixa Econômica Federal (CEF) para que as unidades sejam vendidas em condições especiais a funcionários públicos. Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, a primeira proposta já foi feita à Marinha.

Representantes dos militares participaram de um encontro com Crivella e o presidente da Caixa, Gilberto Occhi, na semana passada. Um fundo da Marinha – com dinheiro orçamentário – seria usado para financiar os imóveis com juros abaixo dos cobrados no mercado.

Para fazer com que outros órgãos da administração pública criem programas de venda parecidos, a Caixa estuda criar financiamentos, com taxas diferenciadas, voltados a funcionários da Petrobras, da Vale, da Eletrobras, de Furnas, do Exército, do Banco do Brasil, da própria CEF, do BNDES e da Justiça. Outras estatais podem lançar planos semelhantes caso tenham interesse em facilitar a compra por funcionários no Rio.

De acordo com fontes que participam das discussões, a avaliação é que o metro quadrado dos apartamentos da Vila dos Atletas esteja valendo em torno de R$ 8 mil. No entanto, devem ser vendidos com preço mais barato. A ideia inicial é cobrar cerca de R$ 7.800 pelo metro quadrado dos apartamentos maiores (com três ou quatro quartos) e R$ 6.800 pelo dos menores (de um a dois quartos). Os detalhes, no entanto, ainda estão em negociação entre a prefeitura, a Caixa e o grupo Carvalho Hosken, dono dos imóveis e responsável pela construção.

– Todo mundo tem pressa: o investidor quer recuperar o investimento, a Caixa quer receber pelo financiamento e a prefeitura quer arrecadar – disse uma fonte.

A aposta do prefeito seria elevar a arrecadação de IPTU. Isso sem contar o que a prefeitura receberia de ITBI (o imposto de transmissão de bens) na venda dos apartamentos.

– Vamos fazer um pacote para cada categoria. É fácil vender com juros e prazos diferenciados – afirmou um participante da negociação.

A Caixa pretende recuperar os R$ 2,3 bilhões que colocou na construção da Vila. E, talvez, até lucrar um pouco. A estimativa é que a instituição financeira poderá levantar até R$ 3 bilhões com a operação.

A Vila dos Atletas tem 31 prédios, divididos em sete condomínios, com 17 andares cada um. Batizada de Ilha Pura, a área tem mais de 800 mil metros quadrados. Além da Carvalho Hosken, a Odebrecht Realizações Imobiliárias (OR) executou a obra.

O diretor executivo de Marketing da Carvalho Hosken, Henrique Caban, disse que cerca de 260 apartamentos foram vendidos até ontem. Ele explicou que após o fim dos Jogos, não foi feito um novo lançamento imobiliário devido ao cenário de crise econômica, desfavorável ao mercado. No entanto, a empresa tem pressa.

A partir do mês que vem, o grupo terá que arcar com R$ 20 milhões de juros por mês do empréstimo para a construção do condomínio. Desde março de 2016, essa despesa é bancada pelo Comitê Organizador Rio 2016. No ano que vem, a empresa passará a pagar parcelas da dívida.

– Uma das ideias é oferecer opções. O interessado no imóvel que não queira comprá-lo de forma imediata poderia firmar um aluguel de longo prazo (30 meses). Ao fim do contrato de locação, ele teria preferência na compra do apartamento, descontando o que pagou de locação – disse Caban.

Segundo o diretor da Carvalho Hosken, o preço de mercado dos imóveis varia de R$ 1 milhão a R$ 2,5 milhões. O aluguel mais barato ficaria em R$ 3 mil mensais.

Fonte: Jornal O Globo – 01/02/2017