Pouca gente sabe, mas caso não sejam realizados investimentos na manutenção e renovação de uma edificação, a longo prazo, essa estrutura pode ser condenada de forma definitiva. Portanto, a atualização dos prédios não é apenas uma questão estética, mas uma forma preservação da estrutura e segurança dos moradores. Além disso, investir na renovação das instalações e equipamentos pode representar economia e valorização. Especialistas explicam as principais razões para manter prédios e condomínios em dia, e dão dicas sobre os fatores a serem cuidadosamente observados durante a realização desse trabalho.

As estruturas que precisam ser atualizadas com mais frequência são esquadrias, instalações hidrossanitárias e elétricas, conforme explica Eduardo Qualharini, responsável pelo laboratório de usabilidade das construções, da UFRJ. Segundo ele, esses são itens que sofrem evolução nos padrões e usos, e por isso possuem uma redução no ciclo de vida.

“Cada vez mais, ficam estabelecido limites de para desqualificação e descarte em prazos de uma ou duas décadas para essas estruturas. Já os custos, podem ser muito acessíveis, dependendo das condições de degradação e da intenção do projetista. O ideal seria um investimento de 1% do valor edificado ao ano, com manutenção ou conservação. Vale lembrar que caso esse trabalho não ocorra, entre 50 ou 60 anos podem acontecer demandas urgentes e colapsos, podendo inclusive gerar a perda total da edificação”, alerta o engenheiro.

Atualizar uma construção antiga frequentemente se confunde com fazer manutenção. No entanto, são coisas muito diferentes. Segundo o engenheiro, um simples reparo, é um trabalho paliativo para resolver problemas pontuais, enquanto a atualização, ou customização, é um trabalho que tem a preocupação de atender às demandas da atualidade, como instalar wi-fi ou climatizar ambientes.

“As intervenções devem ter o objetivo de reconduzir o espaço a uma vivência, moderna, atual e usável. Ser útil no presente. Essa atualização precisa ser dirigida principalmente aos equipamentos mecânicos e eletrônicos, que hoje são tão necessários”, afirma Qualharini.

Nos dias de hoje existe uma grande demanda de novos cabeamentos, câmeras de segurança, pisos antiderrapantes, acessibilidade, boa iluminação, entre outros quesitos, exigidos pela atualidade, que fazem com que edifícios necessitem de atualizações, segundo a arquiteta Cinara Vidipó.

“Uma pesquisa com os moradores é muito importante, como forma de avaliar as reais necessidades. A localização do imóvel e perfil dos condôminos também são itens que merecem ser observados, assim como a utilização das áreas comuns. Tudo isso com certeza vai ajudar que o trabalho realizado corresponda às expectativas dos moradores”, afirma a arquiteta.

Muitos edifícios, só possuem plantas de aprovação antigas, mas sofreram reformas ao longo dos anos ou décadas, sem notificações aos órgãos públicos e sem registro na administração do condomínio. Com isso, segundo Cinara, muitos dados são perdidos, e em alguns casos o que é encontrado não condiz com as plantas, dificultando a regularização das intervenções atuais junto aos órgãos públicos.

“Outro problema comum é a demanda de aumento de carga de energia exigida pelos apartamentos em função de novos equipamentos domésticos. Se a estrutura do prédio não se atualizar para essa demanda atual e crescente, os moradores terão problemas. A deficiência de uma infraestrutura adequada, pode tornar inviável também a melhoria de serviços em outras áreas, como a de telefonia, internet e encanamento de gás natural”, ressalta Cinara.

Autora de um projeto que atualizou toda a entrada de um edifício na Zona Sul do Rio de Janeiro, a arquiteta Manuela Guida afirma que os moradores de prédios antigos costumam se surpreender com o resultado proporcionado pela atualização e modernização das áreas comuns. Ela lembra ainda que a necessidade de modificações também pode surgir por mudanças de padrões estéticos e questões sociais, que surgem com o passar do tempo.

“A liquidez do imóvel sem dúvida é aumentada, além disso, os edifícios costumam ser comparados, principalmente na vizinhança, e quem não se atualiza acaba desvalorizado. Fora a troca de materiais já desgastados com o tempo, hoje também existem exigências legais para garantir a acessibilidade dos portadores necessidades especiais aos edifícios, e por isso é preciso criar ou adaptar estruturas, instalando rampas por exemplo, que seguem um padrão rigoroso de normas”, conclui a arquiteta.

Mesmo se a estrutura física do edifício ainda atende bem os usuários, mas a eficiência e segurança são obsoletas é preciso investir, afirma Murilo Ramos, engenheiro da CNL Engenharia. Ele explica ainda que o ideal é que o trabalho seja feito por uma equipe multidisciplinar, uma vez que se trata de um processo de engenharia, técnico, tecnológico e obrigatoriamente arquitetônico.

“Se adicionarmos tecnologia, eficiência e funcionalidades a um espaço inadequado ou com visual antigo, o resultado é funcional, mas não agrada os moradores. Mas quando tratamos da renovação técnica e visual juntos, deixamos o cliente com a impressão de uma repaginação completa do ambiente, e isso aumenta a satisfação com o resultado”, revela Murilo.

O projeto elétrico do edifício, tubulações para fios e cabos e iluminação são os primeiros obstáculos que uma renovação enfrenta, que segundo o engenheiro, costumam ser parcialmente ou totalmente substituídos. Ramos lembra ainda que benefícios com esses investimento são muito evidentes, pois acarretam a redução da conta de energia e água,  maior segurança e controle dos visitantes, automatização de tarefas manuais e redução do quadro de funcionários fixos dos edifícios.

“Apesar das inúmeras vantagens, fazer a atualização toda em uma única obra pode significar um custo mais elevado. Por isso recomendo que as atualizações sejam feitas gradativamente, com o investimento diluído no tempo. Além disso, as obras de adequação e melhorias não devem incomodar ou impedir o funcionamento dos condomínios e prédios. E para isso, deve ser feito um cronograma de realização de obras, evitando o máximo possível dos horários de maior movimentação do prédio”, conclui.

 

Fonte: O Fluminense – 03/08/2015