Hispanic businessman looking through binoculars

Na atual conjuntura, os juros da renda fixa ainda estão altos, mas a redução da Selic para 9,75% até o final do ano – como esperada pelo mercado na pesquisa Focus do Banco Central (BC) – pode tornar a tradicional caderneta de poupança em um investimento atrativo.

Nos cálculos do professor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Atuariais e Contábeis (Fipecafi), George André Willrich Sales, a poupança poderá render 7,23% em 2017, enquanto outras aplicações de renda fixa de perfil conservador – consideradas seguras e de resgate rápido – terão dificuldade para entregar rentabilidade líquida acima de 7,50% com a incidência do imposto de renda (IR) sobre ganhos de capital e taxas de administração cobradas por bancos, corretoras ou gestoras.

“Se isso acontecer [Selic a 9,75% no final do ano] a poupança começa a ter atratividade em comparação às demais aplicações, pois rende 6,17% ao ano mais a TR [taxa referencial], sem impostos ou taxas”, afirma George Sales.

O professor da Fipecafi lembrou que em 2012 – quando a Selic esteve abaixo de 10% – houve uma situação semelhante e a caderneta de poupança foi a melhor aplicação do mercado. “Somente se a taxa básica de juros cair para abaixo de 8,5% ao ano é que a poupança passa a ter remuneração atrelada a Selic”, disse.

Em 2016, quando a Selic média no ano atingiu 14,02%, a caderneta de poupança rendeu 8,30%. Descontada a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que ficou em 6,29%, a aplicação popular teve rentabilidade real de 2,01%.

Para 2017, os analistas e economistas consultados pela Pesquisa Focus do Banco Central projetam o IPCA em 4,8%, cenário que, se confirmado, pode gerar ganhos reais de cerca de 2,4 pontos percentuais na conservadora caderneta.

Nas contas de Sales, uma aplicação de um ano no Tesouro Selic, descontada a alíquota de 20% do IR sobre ganhos de capital e a taxa de custódia de 0,30% ao ano da BM&FBovespa renderá 7,5% nominais se estiver numa corretora que isenta (sem cobrança) a taxa de administração.

E nesse mesmo cenário de juros a 9,75%, o Tesouro Selic renderá 7% líquido se estiver numa corretora de um grande banco de varejo – Itaú, Bradesco, Caixa Econômica, Santander ou Banco do Brasil que cobram cerca de 0,5% ao ano de taxa de administração. “Fundos DI e de renda fixa curto prazo no varejo possuem custos de administração maiores”, observou Sales sobre a competitividade de outras carteiras.

Na média aferida pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), fundos de investimentos renda fixa no varejo cobram cerca de 1% de taxa de administração ao ano, para tickets de R$ 1 mil.

O professor de finanças do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais de Minas Gerais (Ibmec-MG), Ricardo Couto diz que ainda existem aplicações mais interessantes que a poupança. “Produtos incentivados como CRIs [certificado de recebíveis imobiliários], CRAs [certificados de recebíveis do agronegócio] e debêntures de infraestrutura oferecem rentabilidade maior, mas com outro perfil de risco.”.

Couto aponta que se a baixa da Selic for consistente, a poupança voltará a ser competitiva em meados de 2018. “A poupança pode voltar a entrar no páreo”, afirma o professor. Nas projeções da Pesquisa Focus, em 2018, o mercado espera a inflação no centro da meta do Banco Central (4,5% ao ano) e a taxa básica Selic em 9,50%.

Passado recente – Com a Selic média de 14,02% em 2016 e inflação em 6,29% no ano, as debêntures atreladas ao IPCA mostraram rentabilidade nominal bruta de 16,51%, seguidas por debêntures incentivadas de infraestrutura indexadas ao IPCA com rentabilidade nominal brutal de 15,99% no ano passado.

Já as debêntures comuns indexadas a taxa de depósito interfinanceiro (DI) tiveram rentabilidade nominal bruta de 15,75% em 2016, segundo os dados do Índice de Debêntures da Anbima (IDA).

Fonte: DCI – 17/01/2017