O mercado imobiliário carioca já está olhando além da Zona Oeste. Bairros como Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes, hoje líderes em números de lançamentos, devem manter as posições de destaque, mas a revitalização da região portuária e o crescimento dos residenciais na Zona Norte dividirão, cada vez mais, as atenções das construtoras, afirmam executivos do setor.

Segundo a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), a Zona Norte é a segunda região com mais lançamentos no acumulado dos cinco anos: foram 24.403, ou 26,2% do total, com a Tijuca na liderança regional, acumulando 3.332 lançamentos. Já a Zona Oeste atraiu a maior parte dos investimentos entre 2009 e 2013 (até outubro). Dos 93.194 lançamentos no período, 64.909 (69,6%) se concentram na região, com destaque para Barra da Tijuca (17.500), Recreio (12.509) e Campo Grande (11.470).

Entre outros fatores, o protagonismo da Zona Oeste no desenvolvimento urbano das últimas décadas se explica por razões relativamente simples, como a ampla oferta de terrenos desocupados. Ao contrário de regiões saturadas, consolidadas no início do século passado, como a Zona Norte e o Centro, a Zona Oeste era, até pouco tempo, uma fronteira da cidade e, portanto, vazia.

— A Avenida Ayrton Senna (na Barra da Tijuca), que um dia já foi uma fronteira da cidade, hoje é uma região central dos negócios. É muito importante achar bons terrenos na Zona Sul e na Barra, porque eles estão cada vez mais escassos — analisa Marcelo Oliveira, diretor de incorporação da Dominus, que lançará, ainda este mês, um empreendimento na avenida.

Esperança com Porto Maravilha

Antes dessa possível saturação na Barra da Tijuca, a Zona Portuária se consolida como a principal alternativa para os novos espaços de negócios imobiliários da cidade. Um dos maiores empreendimentos previstos para a área é a Trump Tower. O conjunto de cinco torres, nos moldes de projetos semelhantes em países como EUA, Panamá, Canadá e Turquia, terá valor geral de venda (VGV) estimado em até R$ 6 bilhões. O condomínio ocupará mais de 320 mil metros quadrados na Avenida Francisco Bicalho.

Segundo o diretor-executivo do empreendimento, Stefan Ivanov, a ideia de levar a Trump Tower para a Barra da Tijuca chegou a ser cogitada pela equipe, mas foi descartada. O investimento de R$ 8 bilhões no projeto Porto Maravilha, que deve garantir a infraestrutura necessária a um empreendimento de grande porte, e a localização estratégica da região pesaram na decisão.

— Analisamos também a Barra da Tijuca e outras localidades do Rio. Nosso consórcio acredita que o melhor lugar está no Porto Maravilha. A Barra, apesar de ser um lugar lindo, hoje em dia tem 400 mil metros de áreas construídas de escritório (cerca de 13% do total de escritórios da cidade). Na Zona Central, estão 65% dos escritórios. A Barra ainda não tem massa crítica — afirma Ivanov. — Quem trabalha na Barra precisa visitar seus clientes no Centro. A distância é bastante expressiva, cerca de 25 quilômetros. O tempo de deslocamento é muito inconveniente.

Ele não pode revelar nomes, mas garante que há empresas interessadas em ocupar prédios inteiros. O consórcio ainda busca construtoras para iniciar as obras, previstas para meados de 2014.

Nova tendência

Entre os lançamentos residenciais, a novidade tem sido o desenvolvimento da Zona Norte. Neste ano, até outubro, o número de unidades nessa categoria em bairros como Cachambi (572) e Del Castilho (492) superou as novas residências da Barra da Tijuca (444). Nada que abale a liderança absoluta do Recreio dos Bandeirantes, que já acumula, só este ano, 3.082 novas unidades residenciais. Mas indica uma mudança de paradigma do setor.

— O (fenômeno) dos “condomínios-clubes” é uma bomba atômica no mercado da Zona Norte. É como morar na Zona Norte como se mora na Barra da Tijuca — diz Rubem Vasconcellos, presidente da Patrimóvel, imobiliária que tem investido na região, caso do Arena Park, condomínio próximo ao Norte Shopping, entregue em 2010.

Com os investimentos disseminados, a expectativa do setor de construção civil é de crescimento pelos próximos três anos. Segundo o Sindicato da Indústria de Construção Civil do Estado do Rio (Sinduscon-RJ), o segmento deve avançar em torno de 7% no período. Entre os desafios identificados pela entidade para que a projeção se concretize, estão demandas como incentivos fiscais para edifícios e agilizar os Projetos de Estruturação Urbana (PEU) para áreas dos Corredores de Mobilidade Urbana em construção (Transoeste, Transolímpica, Transcarioca e Transbrasil) e os outros de Jacarepaguá, Vargem Grande e na divisa com Itaguaí.

Fonte: Jornal O Globo – 27/11/2013