Praia mais famosa do país, Copacabana tem na Avenida Atlântica, à beira-mar, sua imagem mais forte, uma via que acompanha aqueles 4 quilômetros de orla, com pedras portuguesas que criam inspiradores desenhos na calçada. Erguidos ao longo do século passado, especialmente a partir da década de 40, os prédios da área passaram a fazer parte irremovível da imagem dos postais. São mais altos do que nossos avós gostariam e, colados uns aos outros, praticamente não respiram. Eles formam uma parede para o vento que vem do mar. Podem parecer, agora, eternos – mas ainda há espaço na Atlântica. Nesse sentido, o edifício da nova sede do Museu da Imagem e do Som (MIS) é exemplo lapidar da sacudida pela qual a região vem passando.

A instituição funcionará no número 3432 da avenida, onde era a boate Help. Tem arquitetura arrojada, do escritório americano Diller Scofidio + Renfro, e um quê futurista que vem, em boa hora, contribuir para a revitalização da avenida. “Com o MIS, vamos transformar o Rio em um lugar como Paris, aonde as pessoas vão não só pelas belezas naturais mas pela arte também”, diz a secretária estadual de Cultura, Eva Doris Rosental. Com 70% das obras concluídas, o prédio de 36 metros de altura, que ofuscou a vista do mar de quatro edifícios na Rua Aires Saldanha, passa por sua terceira etapa, de um total de quatro.

Tudo termina no primeiro semestre do ano que vem, com a chegada do acervo. Hoje, ao passear pelo canteiro de obras, já é possível conferir como será o piso do prédio, feito em granitina, o sistema que controlará a incidência de luz, formado por tubos metálicos (numa espécie de releitura dos cobogós de cerâmica), e a escada externa, com seus 199 degraus. Esses são, na verdade, detalhes de fácil resolução se comparados às fases iniciais, como as fundações. “Aquele foi um momento de grande desafio no campo da engenharia. A complexidade era vencer a escavação do subsolo para implantar as fundações, num terreno arenoso, à beira-mar. Monitoravam-se, às vezes de hora em hora, os edifícios vizinhos, para evitar impactos”, conta Larissa Graça, gerente de projetos da Fundação Roberto Marinho, parceira do governo do Estado do Rio na construção do museu. A expectativa é que o MIS atraia cerca de 530 000 visitantes por ano – definitivamente, a Atlântica nunca mais será a mesma.Paralelamente ao museu, dois outros empreendimentos imobiliários prometem revigorar ainda mais aquele espaço privilegiado da cidade. No número 3804, onde ficava o Consulado da Áustria, está sendo construída uma filial do Emiliano, hotel badalado em São Paulo, lá funcionando na Rua Oscar Freire. A unidade carioca terá noventa apartamentos e uma decoração que remete aos anos 50 do século XX. O sofisticado edifício contará com dois restaurantes, um deles ao redor da piscina, um spa e área de lazer nos dois últimos de seus doze andares, para conjugar a experiência de uma hospedagem de luxo com um resort em pleno ambiente urbano. Além dele, está para ser erguido um residencial (também pertinho, no 2692) com nome provisório de Casa Atlântica, no terreno da antiga “Casa de Pedra”, uma das últimas da orla, comprada por 32 milhões de reais pelo empresário Omar Peres, dono do restaurante La Fiorentina. A mansão já foi demolida e em 2017 dará lugar a um condomínio com design da prestigiada arquiteta iraquiana Zaha Hadid. Parceria entre Peres e Germán Efromovich, dono da companhia de aviação Avianca, o projeto, de onze andares, orçado em 50 milhões de dólares, foi aprovado pela prefeitura e deve ter as obras iniciadas em novembro. Serão trinta apartamentos. Ao contrário dos prédios contíguos do skyline de Copacabana, esse não terá paredes coladas com edifícios vizinhos. “Esta praia é a porta de entrada do Brasil. Ao lado do MIS, mudaremos o panorama do turismo do bairro”, crê Catito, como é conhecido Peres, que atualmente negocia um ponto para a  abertura de uma unidade da Boulangerie Guerin, confeitaria à moda francesa, também na Atlântica. Pesquisa bem, espreme mais um pouco, que dá.

 

Fonte: Veja Rio – 16/09/2015