Após um passeio com amigos pelas redondezas da Praça Quinze, na década de 90, o arquiteto Oscar Niemeyer ficou decepcionado com o cenário de degradação da área. Voltou para o escritório e começou a rabiscar um projeto de reurbanização que pudesse, ao mesmo tempo, devolver a harmonia ao conjunto arquitetônico da região – pontilhada por prédios em estilo colonial – e fazer mudanças que atraíssem a população. Uma das propostas era pintar a fachada da Igreja Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé de branco, cor que combinaria mais com os tons claros do Paço Imperial e do Convento do Carmo. Outra ideia era “esconder” prédios como o da Bolsa de Valores atrás de dois blocos de apartamentos, cuja arquitetura remeteria ao século XVII. Niemeyer também imaginou, próximo à estação das barcas, um grande passeio público com shopping, além de uma espécie de passarela avançando sobre o mar, com alguns prédios, entre eles um teatro e um restaurante.

Agora, esse projeto, que não chegou a sair do papel, será discutido durante o seminário “Baía de Guanabara: patrimônio metropolitano”, promovido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ) e que acontece hoje e amanhã na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, na Ilha do Fundão.

Rever as ideias de Niemeyer para a região foi uma iniciativa do arquiteto mineiro Bruno Tropia, que vai apresentar amanhã os principais pontos da proposta. Na época, Niemeyer fez 44 desenhos com estudos sobre os prédios que seriam erguidos ou derrubados. Uma das ideias era demolir a estação das barcas e substituir o prédio eclético por outro em estilo moderno.

– Por outro lado, ele propõe preservar o torreão do Albamar, construção que restou do antigo mercado municipal, do começo do século XX – diz Bruno.

RETIRADA DE TODAS AS ÁRVORES

Uma das constatações que mais revoltaram Niemeyer foi a de que, de um lado da Praça Quinze, apenas o Arco do Teles mantinha parte das características originais. Num texto, o arquiteto disse que “o resto, até a Rua Primeiro de Março, era um amontoado de prédios vulgares, de construção relativamente recente”. Ele queria a arquitetura colonial de volta àquele ponto, como no caso do Paço Imperial (de 1743) e do Convento do Carmo (do século XVI).

– Niemeyer propôs colocar um conjunto novo em frente aos edifícios que criticou. Seriam edificações com tipologias remetendo ao passado, caiadas de branco, com três a cinco pavimentos – diz Bruno.

Na palestra, ele vai usar oito dos desenhos de Niemeyer para mostrar as principais etapas do projeto.

– Ele também sugeriu a retirada de todas as árvores, que seriam transferidas para uma área junto ao Elevado da Perimetral (hoje demolido). Isso devolveria à Praça Quinze o aspecto presente nos desenhos originais da área, quando não havia arborização – diz.

Segundo a arquiteta Ceça Guimaraens, professora da UFRJ e vice-presidente de Relações Socioculturais do IAB-RJ, trata-se de um projeto pouco divulgado. Ela conta que, por ter pontos polêmicos e propor uma série de intervenções numa área com tantos bens tombados, o projeto foi reprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

– Ele é de uma fase em que Niemeyer estava fazendo muitos projetos de praças monumentais, tendo realizado trabalhos em São Luís e Goiânia.

O arquiteto Jair Valera, que trabalhou com Niemeyer por mais de 30 anos, diz que ele sonhava em ter sua assinatura na remodelação da Praça Quinze.

– Era um belo projeto e bem ousado. Uma pena não terem aceitado. Nem a prefeitura, nem o estado levaram adiante a iniciativa – recorda.

O evento na UFRJ é aberto ao público, e as inscrições podem ser feitas pelo e-mail coloquiobaiaguanabara@gmail.com.

 

Fonte: O Globo – 26/08/2015