A menos de um ano da cerimônia de abertura da Olimpíada, o vaivém de caminhões e a intensa movimentação de operários no Parque Olímpico ratificam que a cidade está entrando na reta final para acolher a competição mais importante de sua história. A prefeitura do Rio de Janeiro estima que 87% das obras do que será o coração dos Jogos estão prontos. Situado à margem da Lagoa de Jacarepaguá, onde ficava o autódromo carioca, na Zona Oeste do município, o Parque Olímpico abrigará 16 das 42 modalidades que serão disputadas na Olimpíada. Ali serão realizadas disputas de grande apelo de público, como a natação, a ginástica artística e o basquete. Cerca de 100 mil pessoas circularão diariamente numa minicidade que se tornará a capital mundial do esporte em agosto do ano que vem.

Um dos grandes desafios foi montar o quebra-cabeça para que vários centros esportivos coubessem no espaço restrito na superpovoada cidade do Rio de Janeiro. O terreno carioca é mesmo acanhado quando comparado com o tamanho da área que hospedou o Parque Olímpico nos Jogos de Londres, em 2012. No Rio, é 1,2 milhão de metros quadrados, apenas a metade da área total do parque olímpico inglês. “O Parque Olímpico lembra o mecanismo de um relógio suíço, com as engrenagens trabalhando e se encaixando dentro de um espaço reduzido”, diz o arquiteto Diogo Taddei, da Aecom, a empresa americana responsável pelo desenho do complexo carioca e do londrino.

O Parque Olímpico abriga nove centros esportivos, como o velódromo, onde acontecem as provas de ciclismo, o estádio aquático, local dos duelos da natação, e o centro de tênis. Só arenas serão cinco. Nelas, acontecerão as competições de handebol e basquete, as disputas de judô, as lutas livre e greco-romana a esgrima. Na Arena Olímpica, construída para o Pan de 2007 e que passa por reformas, acontecem as apresentações da ginástica artística. No Centro Aquático Maria Lenk, também em reforma após o Pan, serão disputados os saltos ornamentais e o nado sincronizado. Além dos equipamentos esportivos, o Parque Olímpico abrigará um hotel e os centros de mídia e de transmissão.

Tecnologias foram usadas para tornar os custos de funcionamento e de manutenção dessas novas estruturas mais econômicos. “Fizemos algumas instalações como se fossem um Lego, para evitar que se tornem elefantes-brancos. Basta desaparafusar as peças e remontá-las em outro ponto da cidade”, diz o prefeito Eduardo Paes. Parte delas será reaproveitada após o fim da Olimpíada como centro de treinamento e escolas. É o caso da arena de handebol e do estádio de natação, que serão desmontados e recolocados em outros pontos do Rio. Para economizar energia, o estádio aquático conta comum sistema de ventilação natural. A partir de um estudo do regime dos ventos e da temperatura média na região durante o mês de agosto, os arquitetos chegaram à conclusão de que era necessário instalar mais de 10 mil orifícios na estrutura da arquibancada para a passagem do ar .Como sistema, o termômetro no interior do ginásio oscilará entre 24 e 28 graus célsius. Os atletas contarão com um sistema de ar condicionado, voltado apenas para o redor da piscina. Também para poupar energia, algumas das arenas ganharam claraboias no teto. Curiosamente, a pedido da equipe de TV, elas ficarão cobertas durante o torneio, para evitar que ocorra variação de luz dentro da arena.

Se durante a Olimpíada a ocupação da área está garantida, a questão é como dotá- la de vida própria depois que a tocha se apagar. No lugar dos equipamentos provisórios, subirão imóveis residenciais e comerciais, configurando um pequeno bairro. As arenas virarão centros de treinamento, mantendo a característica esportiva da região. O mesmo vale para o centro de tênis. No exterior existem alguns bons exemplos de como os Jogos são capazes de alavancar determinada área e torná-la atraente mesmo após o fim do espetáculo esportivo. Em Munique, cidade alemã que recebeu a competição em 1972, o Olympiapark tornou-se um ponto movimentado. Além das disputas esportivas em seu gramado, o estádio principal oferece atividades como tirolesa, rapel e escalada até a cobertura. Para os menos radicais, há visitas guiadas pelo complexo, que dispõe de um simpático trenzinho. Em Londres, o parque olímpico Queen Elizabeth tem uma programação variada para cativar o visitante. Ganhou recentemente uma “praia”, onde é possível aboletar-se na areia e relaxar. A experiência sugere que o coração da Olimpíada ganha nova vida quando os Jogos acabam. Que ela seja longa e próspera no Rio.

 

Fonte: Época – 19/08/2015