Mais do que encantamento pela Barra da Tijuca, Carlos Fernando de Carvalho tem uma trajetória que se confunde com o desenvolvimento da região, que conheceu ainda garoto, levado pelas mãos do pai, em longas e prazerosas caminhadas a partir de Jacarepaguá, onde moravam. E difícil percorrer as largas e arborizadas avenidas sem notar a marca dos empreendimentos da Carvalho Hosken, cujo diferencial é reunir conforto, beleza, segurança, paisagismo, arte.

No entanto, o envolvimento do empresário com a Barra vai muito além dos condomínios de alto padrão que levam a sua chancela e começou muito antes que o primeiro deles fosse erguido. A visão de que o crescimento da cidade se daria em direção ao Oeste – e que esse movimento deveria ocorrer de forma planejada, para não descaracterizar nem desvalorizar a região – motivou Carlos Fernando de Carvalho a empenhar-se pessoalmente na articulação com outros empresários e com as associações para investir em um novo modelo de ocupação. Os resultados são vistos a olho nu: novas vias, obras de infraestrutura e urbanização, condomínios impecáveis – cuja manutenção é custeada pelos próprios moradores -, criação de escolas, doação de terrenos para a prefeitura – como o que abriga o hospital Sara Kubitschek – apoio à cultura – como o patrocínio à OSB na Cidade das Artes e muitas outras iniciativas. O lançamento da Ilha Pura, vem trazer valor adicional a todo esse acervo na Cidade Planejada, como conta Carlos Fernando de Carvalho, nesta entrevista.

Como o senhor conheceu a Barra da Tijuca?

Por ter nascido em Jacarepaguá, na Praça Seca, conheci muito cedo a Barra da Tijuca, onde ia caminhar com o meu pai e me encantava. Acompanho o desenvolvimento da cidade desde a infância, que começou em 1924, até hoje.

O senhor é reconhecido como o maior empreendedor da região da Barra. Foi resultado do encanto pelo bairro ou da visão de que esse seria o Bio de Janeiro do futuro?

Nos anos 60 já tinha passado por muitas experiências na vida profissional e, conhecendo as necessidades do Rio, percebia que era imperativa a expansão. E o crescimento urgente tinha que se dar no sentido Oeste.

Quando Francisco Negrão de Lima, governador do antigo Estado da Guanabara, convocou o urbanista Lúcio Costa para planejar a ocupação da baixada de Jacarepaguá – após o sucesso de Brasília – não restou dúvida para mim sobre a direção que tomaria o crescimento da cidade. Ele aceitou o desafio e, constituindo uma pequena e notável equipe, fez o plano que, com pequenos retoques, aí está sendo implantado.

O que diferencia o crescimento da cidade do crescimento da Barra da Tijuca?

A característica do plano era bastante elitista e permitiu um desenvolvimento de padrão alto para uma população com capacidade financeira. Na minha avaliação, esse fato induziu à construção de uma cidade planejada e de elevado valor, trazendo a classe A para a região.

Como foi o início de suas atividades no setor?

Nos anos seguintes ao plano de Lúcio Costa, que é de 1969, criei a convicção de que era chegada a hora de atuar. Na década de 70, que foi a do “milagre brasileiro”, tudo correu bem. Na chamada década perdida, que são os anos 1980 até o inicio dos 1990, o Brasil se envolveu em uma enorme crise e o contexto econômico mundial resultou num desvirtuamento do cenário econômico e nos jogou em uma grande recessão.

Como ficou o desenvolvimento da Barra nesse contexto?

Nesse período criou-se uma política de confronto com os grandes desenvolvedores. que desejavam um destino nobre para a área. Queriam destinar a área para uma ocupação mais popular. Transformar a região da Barra em uma cidade dormitório, nos moldes da baixa-da fluminense.

Preparando o futuro, os grande proprietários de áreas, como eu, se contra-puseram a esse objetivo e passaram a desenvolver a área de acordo com o plano Lúcio Costa: uma cidade de alto padrão. Na periferia ficou a população com menor capacidade financeira, permitindo acesso fácil aos locais de trabalho.

E como a região se desenvolveu daí por diante?

Para esse desenvolvimento, a iniciativa privada assumiu a maior parte da infraestrutura pública, além de doar ao Estado generosas áreas de terra. Os grandes “bairros” surgiram. A chegada da água, tratamento de esgoto, vias, paisagismo, tudo foi por conta dos empreendedores e a cidade planejada foi se tornando uma realidade. Faltava a acessibilidade. Com a abertura da linha amarela, em 2000, nos 10 anos seguintes a região se desenvolveu tanto quanto nos primeiros quase 30 anos. Mas não era o suficiente. Os problemas de acessibilidade voltaram a se agravar.

Mas a Barra não parou de crescer…

Um fator de grande relevância para o crescimento bem-sucedido da região foi a organização da sociedade civil. Nos “bairros”, entidades como a Assape, (na Península) Amo Rio2, (no Rio2) e Ascija (em Cidade Jardim), criadas com a contribuição de cada proprietário, cuidam da manutenção, conservação e segurança. Esses locais são os pontos mais bem cuidados da cidade, onde viver é um prazer.

Outras entidades foram surgindo representando os vários setores da sociedade, exercendo uma fiscalização permanente e reivindicando medidas que beneficiassem o todo. Para citar algumas, temos a Acibarra, dos empresários, a Câmara Comunitária da Barra, dos condomínios, o Barra Alerta, atento para a segurança, Ascija, Acir e muitas outras, muito importantes para nossa organização e busca do progresso.

O que muda com a realização dos Jogos Olímpicos?

Em 2009, o Rio de Janeiro foi escolhido para sediar os Jogos Olímpicos de 2016 e para isso contribuiu muito uma nova região da Barra. O lugar que o urbanista Lúcio Costa havia escolhido como a nova centralidade foi fundamental para essa decisão do COI e ali será disputada a maioria das modalidades dos jogos, além de servir para moradia dos atletas olímpicos. O lugar mais bonito e nobre que já recebeu os atletas em todas as Olímpiadas.

Há muitas obras de infraestrutura na região…

A visão e capacidade de trabalho do prefeito Eduardo Paes, que já conhecia bem a região, onde foi administrador, rapidamente abriu as novas vias com seus BRTs, que unirão a cidade. As Avenidas Abelardo Bueno e Salvador Allende serão transformadas em vias monumentais, com 10 pistas de rolamento. A prefeitura construiu o Parque dos Atletas viabilizou por meio de uma PPP a construção do Parque Olímpico, e esse lado ainda pouco conhecido da Barra vai se transformando rapidamente numa exuberante nova centralidade.

Mas há outras questões, além da mobilidade, como o tratamento de água e esgoto. O que está sendo feito nessa área?

O tratamento do esgoto já está chegando, a água será fornecida em abundância pela Cedae. Para fornecimento de energia elétrica novas Estações da Light vão se instalando e as lagoas estão sendo despoluídas.

Urbanistas já apontam um movi mento de migração de moradores da Zona Sul para a região. Come isso se explica?

Os novos “bairros”, surgem, agora mais modernos, com o conceito de morar trabalhar e se divertir no mesmo lugar.

Como vê a Barra do futuro?

Com as novas tecnologias construtivas e a adoção de práticas sustentáveis não tenho dúvida de que ali, do Centro Metropolitano desenhado por Lucio Costa, até a Ilha Pura, será o lugar mais nobre para viver e o que mais se valorizará em todo o Rio de Janeiro nos próximos anos. Da minha parte, com meus 90 anos já completados, vou prosseguir trabalhando na implantação dessa cidade planejada com o mesmo entusiasmo e dedicação com que comecei.

 

Fonte: O Globo, Especial Cidade Planejada – 06/09/2014