Número de novos imóveis cresce 24,7%, e o de lançamentos, até 72%

SÃO PAULO, RIO e BRASÍLIA – Os sinais de que a economia começa a se recuperar e a maior confiança tanto de empresários como de consumidores nos rumos do país estão sendo um estímulo para incorporadoras e construtoras de imóveis desengavetarem projetos. Um levantamento da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) mostra que, de janeiro a maio, o número de novas unidades em construção no país chegou a 5,7 mil, uma alta de 24,7% na comparação com igual período de 2015. Há casos de construtoras em que o aumento de lançamentos chegou a 72%. As novas regras da Caixa Econômica de estímulo ao crédito imobiliário, tanto às empresas quanto a pessoas físicas, que entraram vigor ontem e somam R$ 16 bilhões, deverão aquecer ainda mais o setor, que teve um desempenho combalido em 2015. Para as empresas, 2016 está sendo considerado um ano de retomada de fôlego.

— Temos notado uma mudança de humor, com maior confiança da população e dos empresários na economia. Isso é fundamental para que o mercado imobiliário retome o crescimento. Os lançamentos já voltam a ganhar ritmo, e as medidas de estímulo da Caixa ajudam porque atendem a uma faixa de compradores (de maior renda) que não era contemplada — afirma Luís Fernando Moura, diretor da Abrainc, que reúne 20 empresas do setor que atuam em todo o país.

A Caixa dobrou o valor de avaliação dos imóveis de R$ 1,5 milhão para R$ 3 milhões para financiamento pelo Sistema Financeiro Imobiliário (SFI), voltado a quem quer adquirir imóveis acima de R$ 750 mil. O banco vai liberar R$ 6 bilhões para esta linha e mais R$ 10 bilhões para financiar as construtoras.

CONDIÇÕES FAVORÁVEIS AO CONSUMIDOR

Segundo o vice-presidente de Habitação da Caixa, Nelson Antonio de Souza, as medidas, além de estimular as vendas e aquecer o setor, vão permitir ao banco — que detém 67% de participação no mercado — cumprir a meta de aplicação em crédito imobiliário de R$ 93 bilhões em 2016. Também estão nessa conta os recursos do FGTS, destinados ao Minha Casa Minha Vida.

— A expectativa é executar todo o orçamento, além de aumentar a velocidade das vendas e a própria economia. A construção civil é um dos setores que respondem mais rapidamente a medidas de estímulo — disse Souza, acrescentando que o simulador de empréstimo da Caixa chega a ter 6,5 milhões de acessos por mês.

No Rio, os estímulos da Caixa são vistos como um sinal de melhora, mas ainda tímido.

— No setor, a certeza é de que saímos do fundo do poço. O governo dizer que vai dar mais crédito é ótimo. Mas não traz resultado imediato. Mostra que o banco quer financiar, e isso vai mexer com as taxas dos bancos privados. Nos últimos 60 dias, as vendas estão melhores — afirma João Paulo Matos, presidente da Ademi-RJ, entidade que reúne as construtoras cariocas.

Para Moura, da Abrainc, o aumento no número de lançamentos mostra que as incorporadoras acreditam que haverá retomada das vendas, no médio prazo, já que os empreendimentos demoram de dois a três anos para serem concluídos. Em 2015, os lançamentos somaram 64,1 mil unidades, uma queda de 15,4% em relação ao ano anterior. Para este ano, as empresas dizem que os lançamentos terão mais fôlego, e as vendas vão apontar um início de recuperação. Nos primeiros cinco meses de 2016, foram vendidas 8,5 mil unidades, ainda um recuo de 14,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Mas, no segundo semestre, diz o diretor da associação, essa queda deve ser amenizada pelas medidas da Caixa.

Bruno Serpa Pinto, vice-presidente de Operações da Brasil Brokers para o Rio, acredita que o momento favorece o consumidor, com queda de preços e condições melhores de negociação:

— As pessoas estão voltando a comprar porque as condições estão favoráveis. As incorporadoras tiveram aumento no endividamento e apresentam dificuldades de caixa. Elas baixaram o preço de venda para pagar financiamentos adquiridos de obras já realizadas.

Fonte Jornal O Globo – 26/07/2016