Um dos símbolos da era de ouro da Cinelândia, o imponente Edifício Francisco Serrador, com seus 23 andares, foi tombado pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade ( IRPH). O decreto com a medida foi publicado ontem no Diário Oficial. Inaugurado em 1944 e localizado na Rua Senador Dantas, o edifício, em estilo art déco, foi sede do Hotel Serrador, considerado na época o maior da América Latina.

O tombamento inclui a cobertura, os elementos arquitetônicos e decorativos originais da fachada, os materiais de acabamento, gradis e escadarias.

PORTAS FECHADAS

Hoje, o edifício está vazio. Em fevereiro de 2014, o seu último inquilino, o empresário Eike Batista, interrompeu um contrato de cinco anos. Os negócios de Eike ocuparam todos os 23 andares durante dois anos.

A empresa Cushman & Wakefield, responsável pela negociação do prédio, informou que o edifício, com 23 mil metros quadrados, será colocado no mercado para locação. Como mostrou O GLOBO em setembro, o proprietário pretende alugar o Serrador para um único inquilino, por um valor mensal de R$ 3 milhões.

Desocupado ou não, o Serrador tem seu lugar de destaque na paisagem e na história do Centro do Rio.

– É uma lacuna que havia na região da Cinelândia – disse o presidente do IRPH, Washington Fajardo, sobre o tombamento. – Trata-se de um edifício emblemático do Centro e que se confunde com a paisagem urbana do Rio.

Fajardo acrescentou que a decisão de proteger o edifício também é uma forma de homenagear o espanhol Francisco Serrador, empresário da área do entretenimento, dono de salas de cinemas e considerado o fundador da Cinelândia.

Presidente do Instituto Art Déco Brasil, Márcio Roiter disse que o Serrador, enquanto ainda era hotel, tinha como atrativo a boate Night and Day (nas décadas de 40 e 50), frequentada por políticos e artistas. Mas, com a mudança da capital para Brasília e a decadência da Cinelândia, o hotel acabou fechando as portas em 1970.

– A boate era uma atração no Serrador e ficou famosa pelos espetáculos de teatro, que atraíam celebridades – contou Roiter, acrescentando que do prédio se tem uma das mais belas vistas da cidade.

COLÉGIO GANHA PROTEÇÃO

Além do Serrador, o edifício do Colégio Arte e Instrução, em Cascadura, também foi tombado pelo IRPH. Pesou o seu valor cultural e arquitetônico: o prédio tem estilo neocolonial, típico de construções de uso institucional da primeira metade do século XX. Além disso, o imóvel corria o risco de ser demolido.

A proteção foi uma reivindicação da comunidade local, que se uniu e fez o pedido à prefeitura.

– No Estado Novo, as escolas precisavam, por meio da arquitetura, passar uma mensagem nacionalista forte. Esse edifício, uma referência no bairro de Cascadura, é um exemplo disso – ressaltou Fajardo.

A medida também protege a área em torno do bem tombado: ali não serão permitidas novas construções.

 

Fonte: O Globo – 06/02/2015