Em 2009, o gerontóloga Karine Dinis e o marido, o comerciante Leonardo Teles, compraram um apartamento de dois quartos na Freguesia por R$ 100 mil. Este ano, venderam o imóvel por R$ 330 mil e compraram outro, também na Freguesia, por R$ 346 mil. Pretendem se mudar em outubro, quando a construtora Calçada entregará o apartamento.

Só a valorização do primeiro apartamento quase garantiu a compra do novo. O caso é representativo do crescimento de Jacarepaguá, que, segundo relatório do Sindicato da Habitação (Secovi) divulgado na semana passada, é o bairro do Rio de Janeiro que teve a maior valorização de imóveis para venda no primeiro semestre de 2014. O preço do metro quadrado saltou de R$ 4.804 em janeiro para R$ 5.487 em junho. O ganho de 14,2% é quase o dobro dos 7,5% de valorização registrados no mesmo período do ano passado no bairro.

Os números são superiores aos de lugares como São Cristóvão (6,6%), Copacabana (5,5%) e Méier (4,9%). A vizinha Barra da Tijuca teve 4% de valorização (de R$ 9.591 para R$ 9.977) .

Jacarepaguá também teve o maior crescimento na oferta de imóveis para venda. Em janeiro, eram 2.073, e em junho, 3.440, uma variação de 65,9%. Em quantidade, só ficou atrás da Barra, onde 5.079 imóveis foram colocados à venda.

Vice-presidente do Secovi, Leonardo Schneider diz que a valorização se deve em grande parte à melhoria da infraestrutura na região, em decorrência das Olimpíadas. A facilidade de acesso à Barra e à região central pela Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá, pela Linha Amarela e pelo BRT, além da ampliação na oferta de serviços e comércio, principalmente na Freguesia, na Taquara, na Praça Seca e em Vila Valqueire, foram os principais fatores. A pacificação da Cidade de Deus também contribuiu.

– Mal comparando, Jacarepaguá está para a Zona Oeste como Botafogo está para a Zona Sul. Tem um bom custo-benefício, fica próximo de áreas de lazer, como praias e shoppings, e dá acesso a outras regiões do Rio – pondera.

As construtoras colhem agora o investimento que fizeram em 2008 e 2009. Capitalizadas e num bom momento da economia brasileira, elas viram potencial na região e compraram grandes terrenos. Segundo a Associação de Dirigente de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), só no primeiro semestre deste ano foram lançadas 2.139 unidades em Jacarepaguá, sendo 1.475 residenciais e 664 comerciais.

IMÓVEL PARA INVESTIR E PARA MORAR

Gigantes como MRV, RJZ Cyrela, PDG, Gafisa, Brookfield, Rossi e João Fortes têm investido em Jacarepaguá. O local também chama a atenção de construtoras regionais, como MDL, Calçada, Leduca, Calper, Mega 18, STR, MR2, Martinelli, Performance, Celta, Fernandes Araújo, Grupo Avanço Aliados e Living.

As ofertas vão desde apartamentos básicos de quarto e sala até unidades luxuosas, acima de cem metros quadrados. E os motivos de quem os adquire variam.

No caso de Karine Dinis e Leonardo Teles, a troca do apartamento por outro maior aconteceu para garantir melhor qualidade de vida. Eles planejam ter o segundo filho no ano que vem, e querem dispor de três quartos em casa. Com o crescimento da Freguesia, a área mais nobre de Jacarepaguá, sua residência anterior, de dois quartos, na Rua Araguaia, ficou ainda mais valorizada – e movimentada. Por isso, foi fácil trocá-la pelo sossego da Estrada do Guanumbi, onde os imóveis não são tão caros e o casal continuará próximo de boas opções de comércio e lazer, bem como de bons colégios.

– Como trabalho na Zona Sul e na Barra, terei mais opções de deslocamento; e o meu marido vai ficar mais perto comércio que temos no bairro – diz Karine.

No caso do advogado Rafael Coelho Fernandes, a opção por Jacarepaguá é um investimento. Ele comprou duas salas comerciais e um apartamento de sala e quarto no Genesis, empreendimento misto que a construtora Leduca lançou na Freguesia no começo do ano passado.

Sua primeira experiência como investidor foi a aquisição de outro imóvel na região, que atualmente está alugado.

– Há dois anos, eu comprei uma sala comercial por R$ 100 mil, e em seis meses me ofereceram R$ 170 mil por ela. Acredito que hoje o preço deve estar em R$ 200 mil – estima.

O que a princípio é um investimento pode se tornar o endereço de Fernandes até março do ano que vem, quando a unidade será entregue. Aos 28 anos, ele mora com os pais em Jacarepaguá, e não descarta a hipótese de se mudar para o apartamento de 38 metros quadrados. O difícil, por enquanto, é segurar a ansiedade do dia a dia.

– Moro perto da construção e pego o Frescão para ir trabalhar todos os dias, na frente da obra. Vejo a evolução degrau a degrau e espero que terminem e me entreguem logo – confessa.

O Genesis terá uma torre residencial e duas comerciais. Na segunda quinzena de agosto, a Leduca lançará o Gap, com o mesmo perfil.

– Jacarepaguá recebe muito investimento, logisticamente está bem localizado e se tornou um bairro consolidado, onde percebemos um potencial para este tipo de imóvel, que oferece a possibilidade de se trabalhar perto de casa – explica Paulo Marques, sócio-diretor da Leduca.

CRESCIMENTO DA ‘GRANDE BARRA’

As construtoras encontram potencial de vendas em todos os segmentos. Além dos apartamentos com quarto e sala, há os que têm espaço maior e também os luxuosos, como o Versailles, do Grupo Avanço Aliados.

A empresária Ana Paula de Barros Lessa mora numa cobertura em Jacarepaguá há 12 anos e vai trocar de casa assim que a construtora entregar seu novo apartamento, no fim do ano. Ela vai deixar um imóvel de três quartos num condomínio sem estrutura de lazer para entrar numa cobertura de cinco quartos com três vagas na garagem.

– A troca é por qualidade de vida. O meu apartamento é muito básico. No novo, vou ter toda a estrutura que os condomínios modernos oferecem – diz.

A opção por um apartamento grande e com três quartos também atraiu a professora Lucimar Fonseca, que mora em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde foi criada.

Ela já tem apartamento, mas, como se aposenta em três anos e os parentes do marido moram em Jacarepaguá, optou por comprar um novo imóvel no edifício Bourgone, que deve ser entregue pela construtora MDL até o fim de 2015.

– Nós já passávamos bastante tempo em Jacarepaguá para visitar os amigos e parentes; então, decidimos comprar um apartamento no bairro. Mas vamos manter o de Caxias e ficar um pouco em cada um – afirma.

O gerente de incorporação da MDL, Humberto Pimentel, explica que as construtoras identificaram uma parcela de público interessada em imóveis de luxo no bairro e apostaram no nicho.

– Além de todos os investimentos do poder público na região de Jacarepaguá, as construtoras começaram a investir em condomínios luxuosos e com muita estrutura, como os que existem na Barra, só que com preço menor. Isso tem atraído muita gente para a região – acrescenta.

O condomínio de Ana Paula tem piscinas com de que molhado, churrasqueira com chopeira, espaço kids, espaço fitness e varanda com churrasqueira.

– Vai ser ótimo. Adoramos festa – comemora a empresária, que mora com o marido e dois filhos jovens.

Pimentel não se surpreende com os números do Secovi e acredita que o mercado imobiliário continuará aquecido em Jacarepaguá nos próximos anos.

– O bairro é um dos locais que têm maior disponibilidade de terrenos para construção, e Vargem Grande, que seria outra fronteira de expansão, não tem autorização da prefeitura para receber grandes obras por ser uma área de interesse ambiental. Então, a região deve continuar em expansão – prevê.

Além disso, Pimentel aponta os investimentos para os Jogos Olímpicos de 2016 como uma alavanca para novos negócios. A região vem recebendo investimentos em infraestrutura e também na área esportiva:

– Costumamos dizer que a Copa foi do Brasil, mas as Olimpíadas não são nem do Rio, são da grande Barra.

 

Fonte: O Globo, Barra – 10/08/2014