Em um debate sobre a agenda de reformas adotadas na Europa para melhorar o crescimento da região, os ministros da economia da Alemanha e da Itália concordaram que o bloco econômico necessita de mais investimentos em infraestrutura para crescer. Ambos acharam importante a proposta da Austrália de criar o Centro de Infraestrutura Global (GIC, da sigla em inglês) no âmbito do G20.

“Eu acho que a Presidência da Austrália fez muito bem ao colocar a questão da infraestrutura no centro da agenda”, disse Pier Carlo Padoan, ministro de Economia e Finanças da Itália. Ele enfatizou que o GIC terá informações sobre projetos de financiamento de obras de infraestrutura e isso deve estimular investimentos.

“Eu concordo”, afirmou Wolfgang Schäuble, ministro das Finanças da Alemanha, que também defendeu maiores investimento em pesquisa para inovação.

A proposta de criação do GIC está sendo discutida nas reuniões de integrantes do G20 que estão acontecendo nessa semana em Washington, durante a reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. Nessa sexta-feira, o grupo das 20 maiores economias do mundo deve divulgar um comunicado a respeito.

Larry Summers, professor da Universidade de Harvard e ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos, concordou que a Europa necessita de reformas, mas ressaltou que as medidas que foram adotadas até aqui não estão tendo resultado. Ele apresentou um gráfico comparando as expectativas de crescimento do Japão, no começo da década de 1990 com a Europa atual. Em ambos os casos, as expectativas foram maiores do que as taxas reais de crescimento.

“Nós avisamos que, como o Japão, a Europa poderia enfrentar anos de deflação e depressão na performance de sua economia”, advertiu Summers. “O que aconteceu no Japão foram 15 anos de deflação e performance depressiva na economia seguida por dramáticas quedas nas taxas de juros. Esse é o caminho em que a Europa está, se não mudar as suas políticas.”

Summers disse ainda que, se o FMI está apontando que o aumento nos investimentos de infraestrutura vai elevar o PIB, “essa seria a coisa certa a ser feita”. De acordo com o relatório do Fundo, a Alemanha e outros países europeus seriam beneficiados por um eventual aumento de gastos em infraestrutura. “Eu suspeito que o representante da Alemanha não gostou do relatório do FMI”, provocou o americano.

Schäuble refutou as comparações com o Japão, dizendo que o caso da Europa é mais específico. “Não podemos comparar a Europa com o Japão nem com os Estados Unidos”, disse. Segundo ele, é preciso verificar as condições específicas da Europa. “Nós temos uma responsabilidade em comum com a economia global, mas a crise financeira começou nos Estados Unidos”, rebateu Schäuble.

Segundo ele, são precisos esforços de todos os países para superar a crise e a dificuldade na Europa é que, apesar de haver uma única política monetária no continente, há 18 políticas fiscais diferentes, o que causa problemas. “Se Draghi estivesse aqui”, afirmou Schäuble, referindo-se a Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, “ele iria concordar”. “Os governos europeus devem se focar nas reformas estruturais e na busca por crescimento.”

Padoan lembrou que o Senado da Itália acaba de aprovar uma reforma no mercado de trabalho. “O sistema de pensões em meu país ficou sob críticas e, agora, é um dos mais sustentáveis. Nós temos reformas muito ambiciosas. A reforma no mercado de trabalho introduziu mudanças dramáticas, abriu o portão do mercado de trabalho para os jovens, o que é essencial”, disse o ministro da economia italiano.

Padoan afirmou ainda que são necessários bons projetos para aumentar os investimentos no continente. “Os investimentos na Europa não são apenas públicos. O investimento privado na Europa está num curso muito claro de declínio.”

O italiano lembrou que, na maioria das vezes, os investimentos devem vir do mercado. “É preciso ajustar os mecanismos para que os investimentos retornem à Europa.”

O vice-diretor-gerente do FMI, David Lipton, ressaltou que os relatórios do FMI divulgados nessa semana indicam para um crescimento medíocre da economia mundial e defendeu a realização de investimentos em infraestrutura na Europa, onde as perspectivas ainda não são boas. “As reformas estruturais são importantes para aumentar o potencial de crescimento”, acrescentou Lipton.

 

Fonte: Valor Econômico – 10/10/2014