A restauração gradual de algumas praças cariocas revela uma esperança para moradores que convivem com espaços degradados. No último dia 9, uma cerimônia reinaugurou a Praça Almirante Custódio de Mello, em frente ao Teatro Tablado, no Jardim Botânico, que foi “adotada” por uma empresa.

A ação é um feito conjunto da prefeitura, que realiza as obras, com a iniciativa privada. No local, a Secretaria de Conservação, a Comlurb e a RioLuz organizaram um mutirão para reformar o mobiliário de concreto, recuperar calçadas, desobstruir as galerias pluviais, instalar novas lixeiras e modernizar a iluminação. Orquídeas e grama amendoim foram postas em árvores, além de grampos no terreno, para impedir o estacionamento irregular. Os novos brinquedos de madeira, para crianças de quatro a dez anos, foram comprados pela empresa Oscar Iskin, que atua na distribuição de suplementos médico-hospitalares.

Gerente de investimentos sociais da empresa, Helena Addor explica que os novos equipamentos, além de lazer, devem prover uma melhoria da saúde para os pequenos:

– Vemos um crescimento do sedentarismo e da obesidade porque as pessoas acabam ficando dentro de casa. Se não houver espaços públicos bem equipados, a população não vai frequentar – diz Helena.

Após o término da reforma, o músico francês Jean Dumas e a filha Bianca, de apenas 2 anos, começaram a frequentar o espaço. Dumas elogia a iniciativa, mas lembra que os problemas apareceram menos de um mês depois da reabertura:

– Alguns brinquedos já estão com problemas.

Terminada a Praça Almirante Custódio de Mello, só restará a Ricardo Palma a ser reformada no Jardim Botânico – todas as outras praças do bairro também foram alteradas em parceria com a iniciativa privada. O presidente da Associação de Moradores do Jardim Botânico (AMAJB), Heitor Wegmann, adianta que as obras devem ser concluídas em maio.

– As pessoas voltaram a ocupar as praças. Então, os espaços acabaram ficando mais seguros, inclusive para as crianças, com os brinquedos novos. A confraternização afasta a violência – diz Wegmann, que destaca o efeito duplo desse processo de restauro: os brinquedos antigos que são retirados passam por uma reestruturação e são transferidos para locais em comunidades carentes da cidade.

O programa “Rio de praças”, da Secretaria de Conservação, é responsável pela revitalização de outros três espaços na Zona Sul, sempre com a participação de empresas. Em março, a Praça Sagrada Família, no Jardim Botânico, recebeu obras. Já em fevereiro, a área infantil do Parque Eduardo Guinle, em Laranjeiras, ganhou novos brinquedos de madeira reflorestada e teve os antigos reformados. A Praça Zózimo Barrozo do Amaral, no Leblon, passou por obras em setembro de 2014. Já a Fundação Parques e Jardins afirmou que o deck do pedalinho da Lagoa Rodrigo de Freitas e a Praça Milton Campos, no Leblon, estão em fase de vistoria para serem adotados.

Heitor Wegmann lembra que espaços como a Praça Quintino Bocaiúva, na Lagoa, poderia receber iniciativa semelhante, uma vez que acumula problemas de conservação. E defende que as empresas utilizem mais a adoção dos espaços públicos, já que, segundo a Seconserva, não há empecilhos para as entidades que desejam reformar um local, desde que haja participação do Poder Público.

– A empresas ainda não descobriram que adotar uma praça é muito mais barato do que um anúncio – diz.

O arquiteto e urbanista Manuel Fiaschi ressalva, porém, que as propagandas das empresas que adotam o espaço devem ser “discretas” em relação à paisagem. Mas admite que parcerias assim são benéficas à população:

– A união entre público e privado é muito importante para que cidades sejam saudáveis. A Zona Sul já é uma área consolidada, o que torna impossível criar novas praças. As poucas existentes devem ser muito bem cuidadas. E isso inclui ter urbanização, manutenção… É onde enxergamos nossos impostos – diz Fiaschi.

 

Fonte: O Globo – 23/04/2015