O couro soleta – aquele normalmente usado em produtos vendidos nas feiras Hippie ou de São Cristóvão, como sandálias, o típico chapéu de cangaceiro e alguns pufes e cadeiras mais rústicos – vem aparecendo com uma frequência cada vez maior em móveis e objetos de decoração com ares mais sofisticados.

– É uma forma de imprimir brasilidade às peças – acredita o empresário João Caetano, que vende nas lojas Arquivo Contemporâneo móveis desenhados por nomes como Sérgio Rodrigues e Jader Almeida.

E eles não são os únicos designers renomados a investir no material, obtido do gado de corte. No ano passado, a fábrica de móveis gaúcha Schuster reeditou poltronas e cadeiras criadas pelo designer Bernardo Figueiredo na década de 1960, preservando o couro soleta dos desenhos originais.

Em sua última coleção de móveis, Pedro Useche, designer venezuelano radicado no Brasil, usou o material em peças diversas, como bancos, cadeiras, poltronas, espreguiçadeiras. Na chaise “Mesedora”, por exemplo, ele fez uma mistura bastante interessante: madeira cinamomo em tom envelhecido nos pés, aço inox na estrutura e o couro soleta no assento, num tom caramelo, que dá à peça uma leveza dificilmente encontrada nos produtos em que o material recebe tratamentos para ficar mais escuro e com aspecto rústico.

Já o designer Alfio Lisi optou por fazer sua poltrona “Leme” com madeira freijó, que vem sendo muito utilizada na fabricação de móveis e tem um tom claro, e o couro soleta trançado em tom natural no assento e no encosto.

– Por ser natural, esse couro dá um aspecto mais artesanal às peças, que além de atraente, é uma forma de resgatar as tradições da cultura brasileira – conta Alfio, que para proteger o couro aplica apenas um gel selante. – Isso permite um envelhecimento gradativo. O couro ganha um tom mais alaranjado que é similar ao freijó.

 

Fonte: O Globo, Morar Bem – 24/08/2014